Síndrome do olho seco está ligada a deficiência na produção de lágrima e agentes externos

Se não tratado corretamente, o ressecamento pode levar à ulceração das córneas e até mesmo à perda da visão

por Jessica de Almeida 22/10/2017 07:00
Reprodução/Internet/Noticiário
(foto: Reprodução/Internet/Noticiário )

O olho humano é um dos mais complexos e delicados órgãos do corpo. Integrados à anatomia dos nossos olhos estão o corpo ciliar, a córnea, a pupila, a íris, a retina, o nervo óptico, entre outras estruturas fundamentais. Todo esse conjunto precisa de cuidados, proteção e hidratação para o bom funcionamento e saúde do globo ocular.

"Naturalmente, algumas pessoas podem ter deficiência na produção lacrimal, pois não conseguem produzir a quantidade adequada de lágrima. Mas agentes externos e ambientais também podem desencadear o ressecamento da superfície do olho", explica o oftalmologista Marcelo Netto, professor e doutor em oftalmologia pela Universidade de São Paulo.

A hidratação natural dos olhos ocorre toda vez que piscamos, por meio da troca constante do filme lacrimal, a lágrima. O especialista explica que o filme lacrimal é composto por três camadas: mucina, aquosa e lipídica, sendo esta última responsável por impedir a evaporação da camada aquosa, hidrata e limpa o organismo. Quando há carência lipídica, a camada aquosa fica exposta, o que aumenta a evaporação do filme lacrimal.

O próprio organismo pode alterar a composição da lágrima - mais de 100 substâncias essenciais para a limpeza e defesa contra micro-organismos. A baixa produção de lágrimas pelas glândulas lacrimais caracteriza a síndrome do olho seco, uma disfunção lacrimal que se não tratada pode levar à ulceração das córneas e até mesmo à perda da visão.

A síndrome do olho seco vem sendo considerada por muitos oftalmologistas como uma epidemia. São aproximadamente 20 milhões de brasileiros, o equivalente a 10% da população. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome atinge mais as mulheres, na proporção de três para cada homem. A síndrome é a segunda maior causa de atendimento nos consultórios oftalmológicos durante o inverno, em parte devido à baixa umidade do ar - a concentração de poluentes aumenta em até 80% em locais onde há grande número de indústrias e veículos em circulação.

Os sintomas mais comuns, de acordo com o médico Lennon da Costa Santos, pesquisador do Hospital das Clínicas da UFMG, são a sensação de queimação nos olhos, de ressecamento, e o lacrimejamento excessivo e uma visão que borra ao longo do dia. “Como são sintomas muito comuns, as pessoas lidam com isso e nem percebem que é um problema. A própria vermelhidão pode ser confundida com a sensação de que caiu um cisco, mas ocorre em decorrência de a superfície estar seca.”

FATORES EXTERNOS

Editoria de Arte/EM/D.A Press
(foto: Editoria de Arte/EM/D.A Press)
Uma das síndromes relacionadas ao olho seco e pouco conhecida é a do seco irritativo, quando não há deficiência de produção da lágrima, mas ocorre em virtude de fatores externos que provocam a desidratação ocular, como exposição ao sol, vento, ar-condicionado, fumaça e poluição. “Atualmente, a tecnologia tem influência direta nos fatores do olho seco. Comumente, usuários de equipamentos eletrônicos, como computadores, celulares e tablets, reduzem a frequência de piscadas, o que provoca a diminuição na lubrificação dos olhos", destaca.

Não é só o contato direto com as telinhas. O foco visual faz também com que grupos profissionais como advogados, engenheiros e dentistas, que têm atividades relacionadas à leitura intensa ou atenção com foco em poucos pontos, exigem concentração que faz com que as piscadas sejam raras. “Uma boa dica e que ajuda a aumentar a produtividade é, entre intervalos de 20 a 25 minutos de trabalho, a pessoa pausar e olhar para objetos distantes para relaxar a musculatura usada para ler e para retornar a frequência do piscar”, diz o especialista Lennon da Costa Santos, que alerta: “O normal é piscar de 10 a 20 vezes por minuto. Quando estamos compenetrados, esse número vai para três a cinco vezes”.

TRATAMENTO

A primeira alternativa de tratamento é o uso de lubrificantes artificiais, lágrimas artificiais e colírios, que atuam como substâncias fisiológicas, ou seja, substâncias que já integram o organismo, fazendo com que o resultado seja efetivo e instantâneo. Embora o uso do colírio seja simples, o modo correto de aplicação garante a eficácia da solução e também evita o desperdício. “Mesmo que as lágrimas artificiais sejam livres de prescrição médica, recomenda-se uma consulta periódica com um oftalmologista, tanto para indicar o colírio mais adequado para cada caso quanto para o diagnóstico e tratamento corretos para as deficiências na produção lacrimal”, recomenda.

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram