Bactérias presentes no intestino contribuem para a propagação do Aedes

É o que mostra um estudo internacional divulgado na última edição da revista Science Advances

por Correio Braziliense 25/08/2017 12:57
Davy Jiolle/Divulgação
O estudo foi realizado com amostras de larvas do Gabão: inseto suscetível à dieta e ao ambiente (foto: Davy Jiolle/Divulgação)

Apontada como preponderante no desenvolvimento de doenças em humanos, como a esclerose múltipla e a artrite reumatoide, a flora intestinal também pode ser determinante para a existência do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da febre amarela, da chikungunya e do zika vírus. É o que mostra um estudo internacional divulgado na última edição da revista Science Advances. Segundo os autores, as bactérias presentes no intestino desse inseto, além de interferir no desenvolvimento dele, podem contribuir para que propague os males infecciosos. Intervenções focadas nelas, portanto, podem se tornar um importante mecanismo preventivo.

Para o estudo, a equipe coletou larvas do mosquito no Gabão. As amostras estavam em recipientes artificiais localizados próximos aos humanos, como pneus e vasos de flores, e em locais de reprodução natural, por exemplo, buracos de árvores e cascas de frutas. Os insetos foram comparados com mosquitos desenvolvidos em laboratório, e constatou-se diferença na flora intestinal dos dois grupos.

“Nos mosquitos vetores de patógenos humanos tem sido documentado que condições como a dieta e a temperatura durante o desenvolvimento larval podem afetar as características quando eles se tornam adultos e estão relacionadas à capacidade vetorial (transmissão de micro-organismos causadores de doença)”, justificaram, no estudo, os autores do trabalho, que foram liderados por Laura Dickson, pesquisadora do Instituto Pasteur, na França.

Em uma segunda etapa, os pesquisadores colocaram as larvas do Aedes aegypti em contato com diversas bactérias e observaram que, dependendo do tipo de micro-organismo ao qual eram expostas, elas sofriam uma série de alterações morfológicas, como o tamanho do corpo.

Intervenção

Durante os testes, os investigadores também utilizaram enterobactérias extremamente presentes no meio ambiente, como a Escherichia coli, e integrantes da flora intestinal humana. Os mosquitos expostos a essa família de micro-organismos diminuíram a capacidade de transmissão da dengue. Os pesquisadores ainda não conseguiram decifrar o mecanismo responsável por essa mudança, mas acreditam que, quando descoberto, poderá ajudar a impedir a disseminação das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

“Como a composição da microbiota intestinal do mosquito é dinâmica e suscetível a mudanças ambientais, acreditamos que o habitat em que ele se desenvolve pode influenciar em desdobramentos ligados ao desenvolvimento dessa espécie. Isso torna o habitat e a dieta um ponto importante de análise relacionada ao Aedes aegypti, que é vetor mundial de arbovírus significativos, como a dengue, a zika, a febre amarela e o vírus chikungunya”, ressaltaram os autores do estudo.