Por ser detectado tardiamente, câncer de pâncreas apresenta alta letalidade

Exame de sangue elaborado nos EUA poderá revolucionar o combate a uma das doenças oncológicas mais avassaladoras, hoje diagnosticada geralmente em estágio avançado

por Paloma Oliveto 28/07/2017 10:00
Reprodução/Internet/midiamax.com.br
(foto: Reprodução/Internet/midiamax.com.br)

Escondido entre o estômago e o duodeno, o pâncreas, quando acometido por um tumor, dificilmente é notado. Sem terminações nervosas que possam provocar dor, o órgão não dá sinais de adoecimento, a não ser quando o câncer está avançado. Por isso, essa é uma das doenças oncológicas mais avassaladoras: apenas 7% dos pacientes sobrevivem até cinco anos após o diagnóstico. Mas isso pode mudar. Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvania (EUA) conseguiu identificar, em um exame de sangue simples, marcadores do câncer pancreático em estágio precoce. O estudo foi publicado na revista Science Translational Medicine.

“A detecção precoce do câncer teve uma influência crítica na diminuição do impacto de muitos tipos de câncer, incluindo de mama, de cólon e cervical. Uma preocupação de longa data tem sido com os pacientes de câncer pancreático, que geralmente não são diagnosticados até ser muito tarde para terem uma boa chance de tratamento efetivo”, disse, em nota, Robert Vonderheide, diretor do Centro Abramson de Câncer da Universidade da Pensilvania. “Ter um teste biomarcador para essa doença pode alterar dramaticamente a perspectiva para esses pacientes.”

O trabalho, conduzido pelos pesquisadores da instituição, começou há quatro anos com um modelo de células programadas para se comportar como as estruturas formadoras do tumor pancreático humano em progressão. Elas foram criadas a partir de células do tumor de um paciente com câncer pancreático avançado do tipo adenocarcinoma, o mais comum, responsável por 90% dos casos da doença. Sob o comando de Jungsun Kim, os cientistas as programaram para se reverter ao estágio de células-tronco. Dessa forma, transformaram uma linhagem de tumor avançado em células de estágio inicial do câncer, podendo observar que tipo de substância elas liberam nessa fase precoce.

“Com o modelo celular, conseguimos identificar algumas proteínas em potencial. Depois, fizemos vários testes que as estabeleceram como possíveis marcadores desse tipo de câncer no plasma”, conta Ken Zaret, diretor do Instituto de Medicina Regenerativa da universidade e principal autor do artigo. Dessas substâncias, as que mais pareciam estar associadas ao início do câncer de pâncreas era a trombospondina-2 plasmática (THBS2). A presença dela, combinada com outro biomarcador já conhecido, o CA19-9, foi um indicador da presença do tumor nos pacientes.

Depois, os cientistas refizeram os testes com amostras sanguíneas de mais de 700 pessoas, incluindo indivíduos com câncer de pâncreas em diversas fases e voluntários saudáveis. “A concentração de THBS2 ou de CA19-9 no sangue identificou consistente e corretamente todos os estágios do câncer”, conta Zaret. “Notavelmente, os níveis de THBS2 combinados com CA19-9 identificaram os estágios iniciais melhor que outro método conhecido”, afirma. O índice de sensibilidade - detecção correta dos doentes - foi de 87%, e o de especificidade - caracterização dos sadios - foi de 98%. Agora, serão realizados mais experimentos para a validação do teste.

Japão

Com um número menor de pacientes, um estudo da Universidade de Kumamoto, no Japão, também identificou biomarcadores sanguíneos presentes no tecido de pacientes de câncer pancreático que têm potencial de ajudar no diagnóstico precoce desse tipo de tumor. Diferentemente da pesquisa da universidade norte-americana, os cientistas japoneses não estimularam a regressão das células doentes avançadas a um estágio inicial. Eles analisaram o sangue de 65 pessoas saudáveis e de 38 indivíduos que conseguiram ter o tumor detectado precocemente e, usando uma tecnologia avançada de análise de proteínas, descobriram que, no começo, o câncer expressa uma quantidade diferente das proteínas IGFBP2 e IGFBP3. Essas substâncias, segundo os autores, também podem ser eficazes no rastreamento de outros tumores, como de estômago, de bexiga, colorretal, duodenal e hepático.

“Esperamos que os marcadores de diagnóstico contribuam para a melhora do prognóstico do câncer porque a detecção precoce permite uma chance melhor de cura completa por meio de cirurgia”, disse, em nota, Sumio Ohtsuki, principal investigador. “Além disso, a tecnologia usada nesse estudo deve ajudar a fazer análises em um número de espécimes muito maior em uma futura prática clínica.”