Doenças cardíacas levaram à morte do cantor George MIchael

Miocardiopatia dilatada associada à miocardite e à esteatose hepática foram responsáveis pelo falecimento do astro britânico. Hábitos mais saudáveis poderiam ter evitado a fatalidade

por Joana Gontijo 10/03/2017 14:59

Susana Vera/Arquivo Reuters - 26/9/06
Cantor inglês faleceu de causas naturais aos 53 anos, em 25 de dezembro do ano passado. Laudo do legista saiu esta semana (foto: Susana Vera/Arquivo Reuters - 26/9/06)

Depois de o primeiro laudo pericial resultante da autópsia feita no corpo do cantor George Michael não ter levado a conclusões concretas, o parecer de novos testes divulgados na última quarta-feira indica que a morte do astro britânico, no fim do ano passado, ocorreu por causas naturais. Ele faleceu aos 53 anos, em 25 de dezembro, em sua casa na cidade inglesa de Goring-on-Thames. Um comunicado atribuído ao legista-chefe do condado de Oxfordshire, Darren Salter, afirma que Michael foi vítima de complicações derivadas de uma miocardiopatia dilatada com miocardite, males do coração, além de gordura no fígado. Dessa maneira, a investigação termina sem a necessidade de abertura de um inquérito.

“Como há uma causa natural confirmada para a morte, a investigação vai ser interrompida e não há necessidade de inquéritos”, disse o legista, acrescentando que não haverá mais informações sobre o caso e que a família pede respeito pela privacidade. Os parentes do artista já tinham ficado extremamente chateados quando a ligação para o número de emergência, feita pelo seu companheiro Fadi Fawaz avisando do falecimento, vazou para a imprensa. Nos momentos que procederam a morte, a polícia local já tinha declarado que não existiam circunstâncias suspeitas.

Com sintomas piorados por situações que vão de predisposições genéticas a hábitos alimentares ruins, sedentarismo ou ao uso de álcool e drogas, por exemplo, as doenças que acometeram o astro mundial do pop são silenciosas, mas têm solução quando descobertas cedo. “Tanto a miocardiopatia dilatada quanto a miocardite muitas vezes não apresentam sintomas claros. Acontece muito de a pessoa fazer um raio X do tórax, por exemplo, e descobrir a doença por acaso, mas o diagnóstico tardio pode até impossibilitar um tratamento”, esclarece o cardiologista diretor da Sociedade Mineira de Cardiologia Evandro Guimarães de Souza. Em um extremo, essas enfermidades podem chegar a níveis fatais para o organismo, já que afetam órgãos essenciais para a saúde e o bom funcionamento do corpo – a miocardiopatia dilatada impede o bombeamento eficaz de sangue, no caso de George Michael agravada por uma inflamação no miocárdio (miocardite), e ainda pelo acúmulo de gordura nas células do fígado, como esclareceu Darren Salter.

A miocardiopatia dilatada é um problema no músculo do coração que piora a circulação sanguínea, derivando para complicações como arritmias, coágulos, quedas de pressão, edemas pulmonares, e até situações gravíssimas. A doença interfere principalmente no ventrículo esquerdo, importante câmara de bombeamento do coração. “Essa é a área responsável por mandar o sangue para o corpo e, conforme o nível de comprometimento, o dano pode ser irreversível. Sem a força muscular adequada, a função ventricular é comprometida de tal forma que pode progredir para morte súbita”, alerta o especialista. A região torna-se ampliada, levando as fibras musculares a se esticarem ao máximo, dificultando o fluxo de encurtar e comprimir o sangue para fora – o coração tem trabalho dobrado para contrair os músculos quanto mais estendidos eles estiverem.

Mesmo que em alguns pacientes o mal não necessariamente cause sinais evidentes, em algumas pessoas ele pode ser letal. A miocardiopatia dilatada comumente leva à insuficiência cardíaca, incapacidade do coração de fornecer oxigênio para tecidos e órgãos. Os tratamentos existem para as origens da enfermidade, ou para melhorar o fluxo sanguíneo e reduzir os sintomas, sendo que em muitos casos a causa pode até mesmo ser desconhecida (miocardiopatia dilatada idiopática). “As formas de tratar vão de colocação de marca-passo até a necessidade de um transplante”, diz o médico.

CAUSAS VARIADAS

Existem várias condições que podem levar à dilatação do ventrículo esquerdo. “Os fatores para o desenvolvimento da miocardiopatia dilatada variam muito. Com etiologia não muito bem determinada, pessoas de todas as idades podem desenvolver o problema”, continua Evandro. Algumas razões mais conhecidas, segundo o cardiologista, são: propensão genética, defeitos congênitos, infecções, doenças autoimunes, uso de tabaco e álcool, medicamentos como quimioterápicos ou corticoides, exposição a toxinas. Entre os fatores de risco estão a hipertensão e taquicardia, a aterosclerose, problemas nas válvulas cardíacas, histórico de infarto e distúrbios metabólicos.

Outro problema que agravou o quadro de saúde de George Michael foi a miocardite, associada à primeira doença. “A miocardite é a inflamação do miocárdio, o músculo do coração. A mais comum é a do tipo viral, mas também pode ser causada, por exemplo, pelo uso de drogas ou até por medicamentos quimioterápicos. O coração perde a função nessa parte específica, mas, dependendo da gravidade, com tratamento adequado, o órgão pode ser completamente recuperado. Com o tempo, a doença desaparece e o coração volta ao normal”, explica o cardiologista.

Os fatores que provocam a miocardite são muitos, incluindo infecções por vírus, bactérias, protozoários ou fungos, medicamentos, doenças autoimunes, consumo exagerado de álcool, ou uso de cocaína, para citar alguns. Da miocardite pode resultar a falência da bomba cardíaca, ou seja, a redução da capacidade do coração de bombear o sangue. A doença é habitualmente provocada por uma virose e tem um curso clínico muito variável, indo desde quadros brandos, praticamente sem sintomas, até situações catastróficas, e pode ocorrer tanto em adultos como em crianças saudáveis. O grande problema é quando o músculo cardíaco perde sua função e passa a ser insuficiente.

Nos pacientes que desenvolvem sintomas, os mais recorrentes são cansaço, inchaço das pernas, falta de ar e arritmias. Em alguns casos, a miocardite se apresenta de forma fulminante, e pode provocar no paciente um estado de choque circulatório. Se o atendimento médico não for rápido, a situação evolui para óbito.

MIOCARDIOPATIA DILATADA

A miocardiopatia dilatada é um problema no músculo do coração que piora a circulação sanguínea, derivando para complicações como arritmias, coágulos, quedas de pressão, edemas pulmonares e até situações gravíssimas. A doença interfere principalmente no ventrículo esquerdo, importante câmara de bombeamento do coração, responsável por mandar o sangue para o corpo. Conforme o nível de comprometimento, o dano pode ser irreversível. Sem a força muscular adequada, a função ventricular é comprometida de tal forma que pode progredir para morte súbita. 


Reprodução/Internet
(foto: Reprodução/Internet)
 

CORAÇÃO NORMAL: À esquerda, as câmaras cardíacas se relaxam e enchem de sangue e, em seguida, se contraem e bombeam o sangue para o restante do corpo.

 

CORAÇÃO DOENTE: À direita, as fibras musculares do ventrículo esquerdo são esticados e as câmaras cardíacas se dilatam fora da normalidade, afetando diretamente a circulação e distribuição sanguínea.  


CONDIÇÕES QUE PODEM LEVAR À DILATAÇÃO DO VENTRÍCULO ESQUERDO:

- Propensão genética

- Defeitos congênitos

- Infecções

- Doenças autoimunes

- Uso de tabaco e álcool

- Medicamentos como quimioterápicos ou corticoides

- Exposição a toxinas

 

FATORES DE RISCO:

- Hipertensão

- Taquicardia

- Aterosclerose

- Problemas nas válvulas cardíacas
- Histórico de infarto

- Distúrbios metabólicos

 

GORDURA INDESEJADA

No caso de George Michael, os problemas pioraram com a questão do “fígado gordo”, ou a gordura no fígado, também chamada esteatose hepática. A doença normalmente não provoca sinais óbvios nos graus mais leves, e por isso é comum ela ser descoberta quando o paciente faz exames para avaliar outros males de saúde. Mesmo que não seja uma situação grave, quando não é devidamente tratada a esteatose hepática pode gerar perda de funcionamento das células e cirrose, levando à necessidade de um transplante de fígado.

Acometendo muitas vezes obesos e diabéticos, o excesso de gordura no fígado pode afetar qualquer um que tenha uma má alimentação e que não faça exercícios regularmente. Dessa maneira, o tratamento é feito essencialmente com alterações na dieta, prática regular de atividade física, perda de peso e controle de doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto, além de parar com o abuso de álcool, cigarro e drogas.