Tomossíntese é a mais nova tendência de diagnóstico de câncer de mama

Do autoexame à mamografia, passando pelo ultrassom e ressonância, tudo é válido para detectar o câncer nos seios precocemente

por Estado de Minas 26/09/2016 18:32
Rafaela Tabosa/ON/D.A Press
Mulheres com alto risco de ter câncer de mama são aquelas que têm mais de duas parentes em primeiro grau (mãe e irmãs) que já tiveram a doença (foto: Rafaela Tabosa/ON/D.A Press)
No entardecer do Outubro Rosa, a partir do dia 1º, todas as atenções do setor de saúde e da área médica estarão voltadas para o diagnóstico, prevenção e tratamento do câncer das mamas, um dos tipos mais comuns dessa doença detectada entre as mulheres e que, somente neste ano, deve atingir perto de 58 mil brasileiras, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) de São Paulo. Coordenador do Serviço de Mastologia e presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador antecipa que a arma mais poderosa para enfrentar o câncer é a medicina individualizada.

“Hoje, com nome amplo de câncer de mama, temos inúmeras possibilidades de doenças. É preciso lançar mão de iniciativas que detectam a doença mais precocemente e deem diagnósticos mais completos, que nos permitam entender de forma mais adequada o caso específico de cada mulher”, defende o médico, lembrando da existência de kits genéticos que fazem o mapeamento de até 70 genes diferentes, apontando as chances maiores ou menores de rescidivas e as melhores indicações de vacinas, cirurgias e tratamentos.

Com 30 anos de fundação completados este ano, o Serviço de Mastologia do Mater Dei está alinhado com os maiores centros de mastologia do mundo, na Itália e nos Estados Unidos. Segundo o presidente da Rede Mater Dei, a última tendência é de que a tomossíntese, que aumenta em até 25% a possibilidade de detecção do tumor no estágio inicial, seja incorporada ao rol de procedimentos, concomitantemente à mamografia e ultrassonografia que costumam ser indicadas como exames de rotina pela maioria dos médicos no país.

“O resultado do exame em três dimensões aumenta a acuidade visual, além de reduzir bastante a chance de recall, quando a paciente é chamada a repetir a mamografia para conferir a imagem”, alerta o médico, lembrando que o serviço vem sendo oferecido pelo hospital desde janeiro.
Leandro Couri/EM/D.A Press
Coordenador do Serviço de Mastologia e presidente da Rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador diz que a arma mais poderosa para enfrentar o câncer é a medicina individualizada (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Com a palestra “Tomossíntese: é ético não fazer?”, a médica norte-americana Elizabeth Morris esteve em Belo Horizonte para defender a importância da prática durante o 13º Simpósio Internacional de Mastologia da Rede Mater Dei de Saúde, em março.

“Com a mamografia, conseguimos detectar quatro casos de nódulos ou indícios do tumor a cada mil mulheres. Com o uso do ultrassom de mamas, a proporção atinge sete a cada mil mulheres. Na ressonância magnética, mais indicada para pacientes de alto risco, a taxa chegaria a três a cada 100 mulheres”, comparou a chefe do serviço de imagem de mama do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova York, nos Estados Unidos.

“De tudo isso, o mais importante é lembrar às mulheres de fazer sempre a radiografia das mamas. Quem faz o rastreamento do câncer no início leva maior vantagem do que quem deixa passar muito tempo da doença”, reforçou a especialista.

Quando o risco é alto?
Mulheres com alto risco de ter câncer de mama são aquelas que têm mais de duas parentes em primeiro grau (mãe e irmãs) que já tiveram câncer de mama, principalmente se a doença ocorreu antes da menopausa. À medida que o grau de parentesco vai se distanciando, como por exemplo, envolvendo o surgimento de nódulos em tias, o risco também diminui. “Mas é diferente se na mesma família ocorrer o câncer em várias tias. Enfim, o critério geral é que haja um número grande de parentes de primeiro e segundo graus e que a doença tenha se manifestado antes da menopausa”, acrescenta o mastologista Henrique Salvador.

Em relação ao efeito Angelina Jolie, que fez aumentar em 20 vezes o número de testes genéticos para a sensibilização do mesmo tipo de câncer da atriz, com mutação no gene BRCA1, são raros os casos da necessidade de se fazer a mastectomia preventiva das mamas, mas existem em Belo Horizonte. Só este ano, o Hospital Mater Dei fez a cirurgia em cerca de 20 mulheres, sendo que uma delas tinha em torno de 30 anos. Depois de perder a mãe, a avó e uma tia com câncer, com mais de 85% de chances de vir a desenvolver a doença, Jolie se submeteu a uma mastectomia radical e à remoção dos ovários e trompas.

“Essas cirurgias são feitas no mundo inteiro há muitos anos, mas hoje são indicadas com mais critério e apenas para mulheres com mutações genéticas que apresentam mais de 70% de chance de desenvolver o câncer de mama ao longo da vida. Não só por uma questão de ética, mas também para evitar de expor essas pessoas, que podem sofrer prejuízos na imagem pessoal, no trabalho e até na apólice do seguro, suas identidades são preservadas”, afirma  Salvador.

Bem-estar O atendimento do Serviço de Mastologia da Rede é multidisciplinar e integrado ao Hospital Integrado do Câncer Mater Dei, que conta com o único Pronto-socorro Oncológico de Minas Gerais, e tem o suporte do Mater Dei Medicina Diagnóstica que reúne medicina nuclear, radioterapia e laboratório de anatomia patológica. Além disso, por meio do Mais Saúde Mater Dei, está disponível, para quem precisa, cuidados mais específicos, atendimento direcionado para as várias doenças da mama e programas individualizados de reabilitação pós-cirúrgica.

Assim, a Rede Mater Dei de Saúde investe em recursos tecnológicos e especialistas para cuidar da prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama. “O importante não é apenas curar o câncer. E, sim, dar à mulher que tem a doença a oportunidade de ter uma qualidade de vida superior, durante e depois de passar por todos os procedimentos envolvidos no tratamento. Seja uma cirurgia radical como é o caso da mastectomia, ou outras técnicas para fazer a reconstrução pós-mastectomia, ou mesmo quando a mulher faz uma cirurgia mais conservadora, que preserva a mama, retira apenas parte do órgão. Atualmente, buscamos incorporar também conceitos e técnicas da cirurgia plástica para que o resultado estético seja melhor depois do tratamento cirúrgico”, diz Henrique Salvador.

O médico acrescenta que, atualmente, cirurgiões de câncer de mama atuam com cirurgiões plásticos para que as providências estéticas sejam realizadas em um só procedimento.

Falso positivo Para Henrique Salvador, o autoexame das mamas é importante para a mulher conhecer o seu corpo, mas não mais como estratégia para diagnóstico precoce e redução de mortalidade. Já a mamografia é indicada aos 40 anos e, a partir daí, uma vez por ano. “Você pode até fazer uma mamografia de base aos 35, em uma mulher que tenha histórico de casos de câncer de mama na família. Em uma mulher muito jovem não há necessidade do exame porque a mama, sendo mais densa, a tendência é dar muito resultado falso-positivo, confundindo o diagnóstico”, compara.

Em geral, os métodos de exame de mama são complementares, devendo ser feitos sempre do mais simples até o mais sofisticado, primeiro vendo se há uma indicação médica e depois seguindo o protocolo à medida que vá aparecendo alguma alteração. “Ou seja, não se vai fazer ressonância em todas as mulheres, mas é indicado em mulheres de altíssimo risco ou, em casos de mamas densas, há indicação de se fazer a complementação da ressonância regularmente”, completa Salvador.