Aplicativos para ajudar a manter a forma estão na moda, mas é preciso ter cuidado

Sem orientação, os exercícios podem fazer mais mal do que bem

por Gláucia Chaves 04/03/2016 13:30
Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Daniel Galvão, 33 anos, usa aplicativos para correr e para pedalar há cerca de um ano, ao menos cinco vezes por seman (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Encontrar uma pessoa que não tenha um smartphone nos dias de hoje é praticamente impossível. Por meio deles, você é capaz de fazer quase tudo. Entre as inúmeras opções de aplicativos, há os que prometem uma verdadeira consultoria quando o assunto é exercício físico. Ainda que pareça prático (e barato), os especialistas alertam: para quem está sedentário, e/ou não tem conhecimento de educação física, basear a rotina de atividade física apenas por aplicativos pode ser tão perigoso quanto começar a malhar do zero, sem ajuda profissional.

Os atrativos desses programas são muitos: medir distâncias, encontrar novas rotas e ter acesso a estatísticas personalizadas sobre velocidade, perda calórica, ritmo e batimentos cardíacos, por exemplo, estão entre as principais funcionalidades da maioria deles. Em uma época em que nada tem valor até que seja compartilhado em uma rede social, também há a opção de postar os resultados. Como no videogame, eles ainda oferecem prêmios virtuais a cada nova conquista do usuário.

O designer gráfico e fotógrafo Daniel Galvão, 33 anos, usa aplicativos para correr e para pedalar há cerca de um ano, ao menos cinco vezes por semana. Para ele, a interface semelhante a de um videogame, com metas, objetivos e recompensas, ajuda a manter a motivação durante o treino. A melhor parte, segundo ele, é saber a quantas anda o próprio desempenho. “Antes, eu só andava de bicicleta por andar ou como meio de transporte. Hoje, tenho uma noção melhor do que faço.”

As estatísticas pessoais de Daniel vão parar na rede social do aplicativo, que permite, entre outras coisas, localizar amigos que também estão se exercitando no mesmo momento. “Ainda não conheci gente nova, mas comecei a usar mais a bicicleta. Fiz um grupo com amigos e nos encontramos pelo menos uma vez por semana para pedalar”, completa. Além de todos os benefícios do exercício físico, ele tem outro motivo para se superar cada vez mais: quando sincronizado a outras plataformas específicas, alguns aplicativos (como o usado por Daniel) convertem a quilometragem percorrida pelo usuário em milhas aéreas. “Por enquanto, tenho 1.600km. Estou esperando juntar mais, mas ainda não tenho planos de como gastar.”

Já a bancária Beatriz Pilotta, 40 anos, procurou nos apps um incentivo para se exercitar ao ar livre. Ela pratica atividade física desde a adolescência, mas quis sair do confinamento da academia e da piscina para correr e andar de bicicleta pelas ruas. Há dois anos, ela conta que conseguia pedalar, em média, 10km. Hoje, esse número saltou para 60km. “Também estou conseguindo correr 15km”, comemora. “O aplicativo me ajudou, dá muitas dicas e mostra o que preciso melhorar.”

A experiência deu tão certo que o novo objetivo de Beatriz passou a ser o de se preparar para a meia maratona. O começo dos treinos mais fortes, contudo, rendeu a ela dores nas pernas e nos joelhos. “Vi a necessidade de uma assessoria esportiva para começar a correr distâncias mais longas e estou procurando orientação profissional.” O marido também se animou: antes sedentário, Beatriz garante que o esposo mudou de vida com a ajuda do telefone. “Está até mais bem-humorado”, brinca.

O educador físico Raimundo Tadeu Monteiro explica que o maior problema dos aplicativos é a falta de personalização, ainda que permitam incluir dados, como idade, peso e sexo. “Qualquer atividade física tem que respeitar requisitos como qual o objetivo da atividade, o histórico de saúde da pessoa ou se ela fez alguma intervenção cirúrgica, por exemplo”, enumera. Diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, segundo o especialista, são detalhes que a maioria dos programas — e dos usuários — ignoram antes de começar a praticar exercícios. “É preciso um profissional para fazer esse tipo de diagnóstico, para que a pessoa não tenha uma surpresa com relação a alguns fatores que podem fazer mal à saúde.”

Julian Machado, coordenador de ortopedia do Hospital Santa Lúcia e presidente regional da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do DF (SBOT-DF), acredita que os aplicativos são úteis, mas só para pessoas que já praticam alguma atividade e têm uma boa noção sobre exercícios físicos. “Mesmo assim, isso não dispensa uma visita ao médico antes de começar a se exercitar”, frisa. “Se o indivíduo já tem uma avaliação cardiológica, se consultou um ortopedista e não tem nenhuma lesão, não vejo nenhum problema em usá-los.” A sugestão do médico, para quem já está em dia com a academia, é usar esses sistemas em viagens, por exemplo.

Para os sedentários, porém, a ajuda virtual pode não ser uma boa ideia: segundo Machado, apenas o ato de escolher o treino errado pode provocar sérias consequências. Alguns aplicativos têm protocolos de alta intensidade, com exercícios que fazem o batimento cardíaco ir às alturas. Caso um usuário tenha problemas do coração, o exagero pode custar caro e até a vida. “É preciso fazer uma avaliação médica, mesmo se a pessoa não tiver sintomas, para não correr riscos.”