Mulheres se sentem mais atraídas por homens com senso de humor

Segundo especialistas, a característica sinaliza a probabilidade de uma relação mais agradável e, portanto, bem-sucedida

por Isabela de Oliveira 24/09/2015 09:50

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A capacidade de rir e fazer rir é uma das formas mais eficazes para despertar o interesse de uma mulher (foto: SXC.hu)
É uma reação reveladora: uma risada mostra que alguém está, pelo menos por um instante, feliz — não interessa se o riso é bobalhão, sagaz ou seco. O humor é uma das características mais marcantes do ser humano, portanto, não é de se espantar que seja um pré-requisito para relacionamentos românticos. Estudo detalhado recentemente na revista Evolutionary Psychology verificou o que muitos homens já constataram na prática: a capacidade de rir e fazer rir é uma das formas mais eficazes para despertar o interesse de uma mulher.

Há 10 anos, Jeffrey Hall, pesquisador da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, começou a investigar a relação do humor com a inteligência e por que o bom humor masculino é tão valorizado entre as mulheres, que frequentemente citam a característica como uma das mais importantes em um parceiro. Agora, após analisar o conjunto de dados colhidos nesse tempo, afirma: quanto mais uma mulher ri das brincadeiras de um homem, mais interessada ela está em se envolver em um relacionamento romântico com ele.

Em um dos estudos, por exemplo, 51 pares de estudantes universitários solteiros e heterossexuais, que não se conheciam, ficaram sozinhos em uma sala durante 10 minutos. Depois do encontro, os participantes preencheram um formulário sobre o que tinham achado da experiência. Um dado interessante foi que ser engraçado era uma característica muito mais admirada por elas do que por eles. Quanto mais as voluntárias tinham rido durante a conversa, mais elas consideravam o interlocutor como alguém com quem podiam ter um relacionamento. Já a mesma relação entre risadas e interesse não foi observada nos homens.

Sinal de inteligência
Também estudioso do tema, Gil Greengross, psicólogo evolutivo e antropólogo da Universidade do Novo México, nos EUA, acredita que homens e mulheres vivenciam o humor distintamente porque as forças evolutivas que os moldaram não foram as mesmas. Essa hipótese se baseia na teoria da seleção natural, de Charles Darwin, segundo a qual o sexo que mais investe na prole é também o mais criterioso na escolha do parceiro. “As mulheres são mais exigentes do que os homens: os custos da reprodução são maiores para elas. São elas que engravidam e amamentam o bebê, e não podem ter filhos em idade avançada. Por isso, procuram pistas de que aquele companheiro vale a pena. E uma delas é o humor”, explica o pesquisador.

Arte: CB / D.A Press
Estudo mostrou que auanto mais as voluntárias tinham rido durante a conversa, mais elas consideravam o interlocutor como alguém com quem podiam ter um relacionamento (foto: Arte: CB / D.A Press)
Essa assimetria provoca uma concorrência entre os homens, que se esforçam para demonstrar os benefícios de sua companhia. Alguns, por exemplo, fazem isso ostentando riqueza, um recurso que, antes da emancipação feminina, era essencial para o sustento dos filhos. Porém, Greengross diz que, mais do que dinheiro, as mulheres valorizam a capacidade tipicamente humana que garantiu o sucesso da espécie: a inteligência, que costuma favorecer o sucesso ou, pelo menos, estabilidade.

O senso de humor é um indício sutil de inteligência: não se resume à memorização de piadas, mas a aproveitar o momento e a companhia para fazer graça. Citando seu colega de pesquisa Geoffrey Miller, o cientista diz que, assim como a linguagem e a criatividade, o humor é um indicador de aptidão mental difícil de simular. “Você precisa da inteligência, por exemplo, para entender quando não contar muitas piadas. Pessoas que tentam ser engraçadas o tempo todo são irritantes, e é por isso que o humor depende da inteligência social e emocional”, esclarece Greengross.

Em busca de evidências da hipótese, ele e Miller conduziram uma dezena de pesquisas. Em uma delas, aplicaram questionários em 400 estudantes universitários, metade deles homens, e descobriram que pessoas de ambos os gêneros com inteligência geral e verbal mais apuradas tinham mais sorte nos relacionamentos — no contexto da pesquisa, entendido como maior quantidade de parceiros sexuais. Sobre as diferenças na vivência do humor entre os sexos, a dupla notou que os homens fazem graça com mais frequência, especialmente na presença de mulheres. Ainda que o senso de humor de ambos os sexos tenha sido equivalente, a estratégia é mais utilizada por eles. Os resultados foram publicados em 2011 na revista Intelligence.

Aptidão social
A relação entre humor e inteligência e a diferença de comportamento entre os gêneros, no entanto, não foi notada em outros dois estudos analisados por Jeffrey Hall. Em um deles, 35 pessoas analisaram os perfis de Facebook de 100 desconhecidos e especularam sobre suas personalidades. Os usuários da rede social também responderam a um questionário sobre seu humor on-line e a própria capacidade intelectual. Os resultados demonstraram que o compartilhamento de conteúdo engraçado não fez com que os 35 observadores percebessem o usuário do Facebook como tão inteligente quanto ele próprio acreditava ser, mas apenas como extrovertido.

Na outra pesquisa, 289 estudantes universitários completaram um questionário sobre a relação do humor e da paquera. Uma das perguntas era: “Como você se comporta ao encontrar alguém em quem está interessado?”. Novamente, os resultados não indicaram conexão entre humor e inteligência, mas sugeriram uma relação entre humor e extroversão sem diferenças entre os sexos. Isso faz Hall supor que o humor não é necessariamente uma consequência da inteligência, mas uma aptidão social e afetiva culturalmente valorizada.

Sobre as diferenças no comportamento dos sexos, Hall propõe que a utilização do humor pode ser uma estratégia masculina para induzir a mulher a revelar seu interesse. “Na paquera, elas avaliam o grau de amabilidade do homem, e eles tentam aumentar essa impressão com comportamentos bem-humorados sem fazer ou contar histórias necessariamente engraçadas”, acrescenta o autor, reafirmando que o humor não precisa sinalizar ou revelar nada, nem inteligência, para ser valioso.

Hall havia notado, em pesquisas anteriores, por exemplo, que, em relacionamentos de longa duração, o bom humor permite que o casal compartilhe emoções positivas e se divirta em momentos juntos. Por isso, Hall especula que essa característica pode ter facilitado a evolução humana, mesmo sem ligação direta com a inteligência. É mais fácil conviver com parceiros bem-humorados, o que influenciaria, em certo grau, a sobrevivência da mulher e da prole. “A característica é valorizada na escolha de um companheiro porque um bom senso de humor oferece sinais de que interações futuras com a pessoa serão mais fáceis, com risos e diversão”, afirma o pesquisador.



Vínculos criados
“Muitos estudos e teóricos afirmam que o sorriso é uma forma de construir um vínculo, uma conexão. Neuroquimicamente falando, pessoas bem-humoradas, mais afetivas, despertam nos outros a produção de substâncias, com destaque para a ocitocina, um neurotransmissor que provoca sensações boas. Rir também significa receptividade. É claro que isso não é o única determinante na escolha de um parceiro, mas, se uma pessoa é mais afetiva e consegue proporcionar essa sensação boa, de prazer, então as outras vão querer ficar conectadas a ela. Isso chega a ser uma tendência evolutiva porque favoreceu a união entre seres humanos. As mulheres dão muito valor a isso porque, ainda que não se possa generalizar, costumam procurar segurança e vínculo em seus relacionamentos. Uma expressão crítica e emocionalmente fechada não dá abertura para essa conexão.”

Kelly Paim, especialista em terapia de casais e família e terapia cognitivo-comportamental na Wainer Psicologia Cognitiva, em Porto Alegre