Dizer não à imunização ameaça o bem-estar coletivo

Vacina é aliada da saúde em todas as idades

por Márcia Maria Cruz 16/03/2015 10:19

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 Edesio Ferreira/EM/D.A Press
Alguns grupos antivacina advogam que os processos de imunização podem resultar em doenças como o autismo e a esclerose múltipla (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
O medo em relação à imunização faz com que muitos pais não levem os filhos para vacinar, o que aumenta o risco de maior circulação de vírus, agentes de doenças infecciosas que já foram responsáveis por milhares de mortes. Especialistas alertam que os mitos em torno da vacinação prejudicam a cobertura vacinal e, consequentemente, a imunidade coletiva. “Advogar contra as vacinas é um desserviço à comunidade. É uma ação anticidadã que coloca em risco a saúde da pessoa e o bem estar da coletividade”, alerta Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações.

A redução na cobertura vacinal em Pernambuco e no Ceará resultou em surtos de sarampo nos dois estados. De 2013 até este ano, foram registrados 971 casos em nove estados brasileiros, onde o vírus não circulava desde 2002. “A meta de erradicação foi atingida em 2002. Não podemos falar em erradicação, porque o vírus circulava em outro países, mas não tínhamos mais casos”, afirmou Marilene Lucinda, especialista em vacinas do Grupo Hermes Pardini. Segundo ela, de tempos em tempos surgem mitos que desencorajam as pessoas a se vacinar. Kfouri lembra que o surto em Pernambuco foi controlado no ano passado, mas ainda há o problema no Ceará.
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Alguns grupos antivacina advogam que os processos de imunização podem resultar em doenças como o autismo e a esclerose múltipla. Foi o que ocorreu, na década de 1980, quando um médico inglês divulgou a informação de que a vacina contra o sarampo causava o autismo. “O profissional já foi até banido da medicina, mas muita gente acreditou nessa informação, embora não haja qualquer comprovação científica”, pontuou Marilene. Os médicos iniciam ampla campanha para que crianças e também adultos possam se vacinar e impedir que o vírus continue a circular. “É algo preocupante, pois o vírus já não circulava desde 2002. Fazemos um alerta para que as pessoas possam se vacinar”, disse. No entanto, ela descartou a possibilidade de uma epidemia.

Outro episódio recente aumentou o mito em relação à vacinação. No Rio Grande do Sul, um grupo de jovens se queixou de paralisia depois de tomar a vacina contra o HPV, vírus responsável pelo aparecimento do câncer de colo de útero. No entanto, o caso foi resultado de uma situação de estresse coletivo. “Foi uma paralisia temporária. No mesmo dia, voltaram a andar. Foram feitos exames de imagem que demonstraram que não havia nenhum problema.” Outro mito é que o excesso de vacina sobrecarregaria o sistema imunológico. “Não é verdade, as pessoas estão expostas a vírus e bactérias no convívio em sociedade. Isso por si só já estimula o sistema imunológico.”

A tríplice viral imuniza contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. Deve ser aplicada a partir do primeiro ano de vida da criança em duas doses. A primeira imuniza em 93% e com a segunda a proteção chega quase à totalidade, 99%. Os adultos, que têm dúvida se tomaram as duas doses, devem se vacinar. Os especialistas alertam que não há aumento de efeitos colaterais quando a vacina é aplicada em adultos. Muita gente pensa que vacina é coisa para criança. Mas é um erro. Há um calendário de vacinação para diferentes períodos da vida (veja quadro).

Kfouri lembra que as vacinas representam uma revolução em termos de saúde pública. Em todo o mundo contribuíram para o controle de doenças como varíola, poliomielite, coqueluche e tétano, que matavam milhares de pessoas. “A vacinação é uma das melhores ferramentas de promoção da saúde pública, só perde em benefício para a água potável. As vacinas ampliaram a expectativa de vida quando ajudaram a diminuir drasticamente doenças como o sarampo, a diarreia, entre outras”, diz.

As vacinas estimulam o sistema imunológico a produzir uma resposta aos agentes estranhos como vírus e bactérias. Elas são feitas com antígenos, que são vírus e bactérias inativos ou atenuados, que em contato com o organismo estimulam uma resposta. “O vírus ou bactéria enfraquecidos estimulam o sistema imunológico sem produzir a doença.” Em linhas gerais, é como se o organismo se organizasse para combater os corpos estranhos que não terão nenhum efeito, já que estão inativos. O corpo cria uma memória imunológica ativada quando o organismo entra em contato de fato com o vírus ou bactéria de uma doença. “O organismo produz níveis altos de anticorpos e inibe a manifestação da doença.”

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse prioritário à saúde pública. A população conta com 12 vacinas recomendadas à população, desde o nascimento até a terceira idade, e distribuídas gratuitamente nos postos de vacinação da rede pública. No entanto, é possível encontrar outras vacinas na rede complementar.

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS
As doenças respiratórias são uma das principais causas de mortalidade infantil. Juntamente com influenza e coqueluche, o vírus sincicial respiratório (VSR) é responsável por grande parte das internações das crianças. Até os 2 anos de idade, todas as crianças terão se contaminado pelo menos uma vez com VSR. A Sociedade Brasileira de Imunização e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam a imunização contra o VSR. Segundo especialistas, a medida reduz em 55% o risco de internação em bebês prematuros e em 45% o risco de internação dos bebês com cardiopatia congênita.

A imunização para bebês prematuros, ou com cardiopatia congênita, ou broncodisplasia pulmonar, está disponível pelo Sistema Único de Saúde. É recomendada a vacinação nos meses de maior circulação do vírus, entre janeiro e junho. Dados oficiais do sistema de vigilância epidemiológica para influenza demonstram maior circulação desse vírus nos meses de abril e maio na Região Sudeste.

Os especialistas alertam que a infecção pelo vírus pode ser confundida com um resfriado em caso de crianças acima de 2 anos e adultos. Em crianças prematuras ou portadoras de doenças cardíacas congênitas e displasia broncopulmonar (DBP), o vírus pode dobrar o tempo de hospitalização da criança, ou sua permanência em unidades de tratamento intensivo, devido a problemas respiratórios. Ao vírus também são atribuídas hospitalizações constantes (três vezes mais do que bebês nascidos a termo). Bronquiolite e pneumonia são as consequências mais comuns.