Falta de atenção com varizes pode ocasionar de coceiras e úlceras a insuficiência venosa crônica

Apesar de serem frequentemente encaradas como um problema estético, as varizes devem ser analisadas por um angiologista

por Paloma Oliveto 01/12/2014 10:00

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Daniel Ferreira/CB/D.A Press
Atenção: salto alto favorece o surgimento de vasos e varizes (foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
A um mês do início do verão, abre-se, oficialmente, a temporada de busca por procedimentos de beleza. Na estação das pernas à mostra, um dos maiores incômodos, principalmente para mulheres, são os vasinhos e as varizes. Esses problemas, contudo, não devem ser encarados puramente sob a ótica da estética. A dilatação das veias precisa ser avaliada por um médico, pois, quando há sintomas não tratados, surgem complicações que vão de coceira a úlceras na pele. Além disso, quem tem varizes também pode sofrer de insuficiência venosa crônica, uma condição grave que afeta a qualidade de vida e é a 14ª causa de afastamentos do trabalho no Brasil.

Apesar de comum — 38% da população brasileira têm varizes, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) —, o problema é cercado de desconhecimentos e mitos (leia o Tira-dúvidas). O mais grave, na opinião do angiologista e cirurgião Antonio Carlos Souza, é justamente esquecer que, mais do que estética, essa é uma questão de saúde. “Muitas vezes, os vasinhos são a representação de que pode existir alguma coisa mais séria. Quem pode fazer essa avaliação é o médico”, afirma Souza, integrante da diretoria da SBACV.

Anderson Araújo/CB/D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: Anderson Araújo/CB/D.A Press)
O angiologista conta que é comum pacientes chegarem ao consultório com o problema agravado porque, em vez de recorrer a um médico, apelaram para clínicas de estética que não contam com esse especialista. “Isso é um crime. Os pacientes chegam sequelados, com manchas e feridas”, diz. De acordo com Souza, profissionais não habilitados costumam usar qualquer tipo de laser para tratar os vasos e varizes, ou mesmo dar injeções que podem provocar ulcerações e até ocasionar reações anafiláticas. “Aplicações dentro da veia podem gerar uma trombose venosa. Nem mesmo os médicos de outras especialidades se arriscam a injetar substâncias na veia dos pacientes”, observa.

Há dois anos, a vendedora Helena* adquiriu, em um site de compras coletivas, uma sessão de escleroterapia — injeção para “secar” os vasos —, a R$ 49,90. “Eu já tinha feito esse tratamento outras vezes, em outras clínicas. Então, sei como é. Na hora, saiu muito sangue das minhas pernas e tenho certeza de que foi injetada alguma coisa muito estranha em mim”, conta. Logo em seguida, apareceu o inchaço.

“Eu sabia que isso não estava certo, mas esperei até o dia seguinte. Só foi piorando”, lembra. Helena procurou o estabelecimento e, por uma atendente, soube que a pessoa que fez aplicação não era médica, mas técnica em enfermagem. “Estava tão chateada com isso que nem pensei em ir à polícia. Eu escrevi para o site de compra coletiva, a clínica devolveu o dinheiro e ficou por isso. Eu devia ter denunciado, imagine quantas pessoas foram lesadas”, acredita. As pernas da vendedora, que trabalha em pé o dia todo, ficaram inchadas por dois meses. “Era uma coisa horrorosa, parecia que tinha sido picada por várias abelhas. Fui a um angiologista e tive de tomar anti-inflamatório.”

Sinais
Embora homens também possam sofrer do problema, ele é mais comum em mulheres devido aos hormônios femininos, que favorecem o espessamento das veias. Muitas vezes, não há sintomas, mesmo quando são bastante volumosas, explica o angiologista e cirurgião vascular Felipe Coelho. “No entanto, mais comumente, os portadores de varizes queixam-se de dor nas pernas, sensação de peso, cansaço, queimação ou ardência”, diz.

O médico explica que parte das pessoas só apresentará vasinhos que não comprometem a saúde vascular. Contudo, sem tratamento, pode-se evoluir para quadros avançados. Nessas situações, o inchaço não melhora nem com repouso, e a pele escurece e engrossa. Também surgem feridas de difícil cicatrização, as úlceras venosas. “A orientação é de que todos que apresentem varizes aparentes ou os sintomas como peso, cansaço, queimação ou inchaço nas pernas sejam avaliados por um cirurgião vascular, para iniciar o tratamento e prevenir os estágios avançados da doença varicosa”, recomenda. Ele lembra que há como prevenir ou protelar o surgimento do problema: evitar longos períodos em pé ou sentado, fazer exercícios diariamente, controlar o peso e adotar uma dieta saudável.

Mesmo sem cura, as varizes podem melhorar bastante com os tratamentos. A angiologista e cirurgiã vascular Mariane Campaner, do Hospital Santa Lúcia, esclarece que a técnica utilizada vai depender do grau da doença. No caso dos vasinhos e das veias mais finas, a indicação é a escleroterapia convencional ou a crioescleroterapia, que é feita com as mesmas substâncias, mas a uma temperatura bem abaixo de zero. Esse procedimento, de acordo com estudos, promove resultados mais rapidamente, com menor número de sessões. Já o laser tem uso restrito para membros inferiores, alerta a médica. “As pessoas têm uma ideia de que o laser é o mais moderno, mas ele deve ser usado em casos e lugares selecionados porque pode deixar manchas”, diz.

Quando as varizes são sintomáticas ou de calibre maior, a indicação é cirúrgica. De acordo com Mariane Campaner, muitas pessoas temem retirar as veias porque pensam que elas farão falta. Isso, contudo, é um mito. “As varizes são veias dilatadas com mau funcionamento”, lembra. Portanto, já não têm serventia alguma. Mesmo quando a safena é extirpada, não há problema algum. Por ser utilizada em cirurgias cardíacas, há quem ache que a safena fica no coração, mas, na verdade, ela é uma veia superficial dos membros inferiores, utilizada como substituta para a circulação quando se tem uma doença cardíaca. Há, inclusive, outras veias que podem desempenhar o mesmo papel.

Apesar de considerada uma cirurgia de baixo risco, a retirada das varizes não é indicada para pacientes com idade avançada. “Quando a pessoa tem pressão alta, diabetes e já sofreu um infarto, por exemplo, os riscos são maiores que os benefícios, por isso o procedimento não se justifica”, diz Mariane Campaner.

Tira-dúvidas
Fontes: angiologistas e cirurgiões vasculares Antonio Carlos de Souza e Felipe Coelho Neto.

Todo vasinho evolui para varizes?
Não. O tamanho das varizes depende do tamanho da veia que se tornou dilatada. Dessa forma, as varizes mais calibrosas são resultado da dilatação de veias de maior calibre. Pessoas podem ter muitos vasinhos e nenhuma variz calibrosa, assim como há pessoas com varizes muito calibrosas que não apresentam vasinhos.

Salto alto favorece o surgimento de vasos e varizes?

A panturrilha é o coração periférico. Tanto o calçado sem salto quanto o salto muito alto atrapalham o movimento dessa área, que favorece o retorno do sangue. O ideal é um salto estável intermediário. A altura do salto tradicional do homem é a mais adequada.

Fazer musculação pode desencadear o problema?
Não, desde que a atividade seja orientada e não aumente carga rapidamente. Os fisiculturistas normalmente não têm varizes; eles apresentam veias hipertróficas.

Cigarro é fator de risco?
Sim, o tabaco aumenta o risco de tromboflebite (formação de trombos dentro das varizes).

Existe risco de as varizes voltarem após a cirurgia?
Sim, mas não são as mesmas que retornam, e sim outras que aparecem. Não existe cura para varizes. Quem opera tem que fazer acompanhamento para manter sob controle.

Ter varizes predispõe a trombose?
Não. Contudo, as varizes são um fator de risco para trombose venosa profunda, e outros elementos propiciam o problema, como ficar em uma mesma posição por muito tempo.

Qualquer pessoa pode usar meias de compressão para prevenir varizes?
As meias elásticas de compressão são muito importantes tanto na prevenção quanto no tratamento, mas devem ser prescritas por um médico habilitado, pois para cada caso há uma medida de pressão da compressão específica e um comprimento determinado. Além disso, existem algumas contraindicações, como a doença arterial obstrutiva periférica. É fundamental a avaliação médica especializada antes de se utilizar as meias.

* Nome fictício a pedido da entrevistada