Detalhada na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, a pesquisa foi feita com mais 4.057 participantes livres de demência. Os voluntários tiveram a pressão arterial aferida na meia-idade (por volta dos 50 anos) e quando se tornaram idosos, com 76 anos em média. Além disso, foram submetidos a exames de ressonância magnética para a análise da estrutura do cérebro e a busca de possíveis danos a pequenos vasos cerebrais. Também fizeram parte do experimento testes que mediram a capacidade de memória e de raciocínio.
Lenor Launer, líder da pesquisa, conta que se constatou que as alterações causadas pela pressão arterial durante a velhice dependiam do histórico de hipertensão na meia-idade. O estudo associou elevações nas pressão sistólica e diastólica (números mais alto e mais baixo indicados na medição, respectivamente) a um risco maior de lesões e pequenas hemorragias no cérebro.
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Após os experimentos, constatou-se também que, em voluntários com histórico de hipertensão na meia-idade, quadros de pressão diastólica menores na velhice estavam diretamente relacionados a um menor volume cerebral. Esse fato seria o responsável pela interferência na memória e no desempenho do raciocínio. Segundo Launer, tratar a pressão alta em idosos sem histórico da doença pode ser benéfico. “Essas pessoas têm grandes riscos de sofrer lesões cerebrais”, alerta.
Cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, Sidney Cunha explica que essa suscetibilidade acontece porque, além do AVC, que obstrui grandes artérias do cérebro, existem artérias microscópicas que podem ser obstruídas. “Quando isso ocorre, há o comprometimento da memória e do raciocínio lógico, principalmente em hipertensos”, diz.
Sequelas
Por outro lado, os voluntários que tinham pressão alta na meia-idade, mesmo quando o problema estava sob controle na velhice, apresentaram riscos de maiores sequelas. Os resultados mostram, nesse caso, um risco 10% maior de problemas de memória. “Esses idosos podem ter um encolhimento do cérebro, além de graves problemas de memória e de raciocínio”, afirma a pesquisadora americana.
Para Cunha, a explicação desse quadro mais delicado está associada ao tempo de exposição do organismo humano a uma situação crítica. “Quanto mais tempo de histórico de pressão alta, maior será o risco de dano cerebral, principalmente se a pressão arterial não estiver bem controlada.”
Preocupação nacional
De acordo com pesquisa mais recente do Ministério da Saúde, em 2012, 24,3% da população brasileira tinha hipertensão arterial, contra 22,5% em 2006. O estudo indicou ainda que o risco de desenvolver a doença aumenta com a idade: 3,8% dos entrevistados com 18 a 24 anos disseram ser hipertensos, contra 59,2% participantes com mais de 65. A doença também foi relatada com frequência entre pessoas com diabetes e/ou fatores de risco para doenças cardiovasculares, como colesterol elevado e obesidade.