Deixar a vida profissional para cuidar de três ou mais filhos é uma difícil decisão para a maioria das mulheres

Veja histórias de quem tomou essa atitude e está feliz com a união da família

por Paula Takahashi 21/04/2014 09:02

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A administradora Mônica Drumond Borges de Andrade, de 43 anos, bem que tentou, mas não conseguiu conciliar a maternidade de três meninos e uma menina com o negócio que tocava com o marido, Ricardo Andrade. “Não houve programação. Já tínhamos a Luiza, hoje com 16 anos, e o Rodrigo, com 12. Pensamos então em ter o terceiro e vieram os gêmeos Fernando e Rafael, com 10 anos”, conta. Mesmo com a surpresa, ela ainda voltou a trabalhar e resistiu por dois anos antes de tomar a difícil decisão de deixar a vida profissional de lado para se dedicar ao quarteto. “Enquanto eles eram pequenos eu consegui conciliar, mas depois que entraram na escola ficou impossível”, lembra.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
O casal Ricardo e Mônica Andrade com os filhos Fernando, Rafael, Rodrigo e Luiza: ela parou de trabalhar quando os meninos entraram na escola (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Atitude que as mães Mirian Thiele da Silva e Munyke Romano também tomaram em prol da convivência próxima com os pequenos. “Quem decide por ter muitos filhos certamente deverá ter uma flexibilidade maior. Que seja abrir mão de um período de trabalho. E essas mães estão dispostas a isso porque querem criar seus filhos e passar seus valores, num princípio inverso do que vemos hoje”, reconhece a psicóloga especializada em terapia de família e casal Aléssia Leone.

“Perde-se por um lado, mas ganha-se por outro. Poderia muito bem terceirizar isso tudo, mas não acho que seja viável. No final, o retorno não seria o mesmo”, avalia Mônica. Para quem pode fazer esse tipo de escolha e delegar a apenas um membro do casal a responsabilidade de arcar com os custos do lar, essa alternativa é, inclusive, mais vantajosa do ponto de vista financeiro. “Muitas vezes, o salário da mulher vai para a escolinha, a babá e outros gastos que surgem por conta de sua ausência. E a educação que você poderia dar para a criança está sendo passada por outra pessoa”, afirma Mirian.

O obstetra e diretor técnico do Instituto Nascer de BH, Hemmerson Henrique Magioni, reconhece que três filhos consomem recursos que podem se igualar ao salário da mãe ou do pai. “Além da parte financeira, essas pessoas têm a percepção da importância da presença da mulher no cuidado dos filhos”, avalia.

Transmitir os valores, conceitos e crenças que consideram corretos são os maiores bens que esses casais acreditam estar deixando para os filhos. “Hoje eles não são adolescentes estranhos para mim. Sei exatamente quem são”, garante Mônica. Para a psicóloga Marisa Sanábria, o que essas famílias buscam é a valorização do privado em detrimento do público, hoje no foco. “O mundo privado dos afetos, da educação e das relações não tem valor. O que funciona é o público. Quando as pessoas se voltam para este universo colocado de lado, querem mostrar claramente o que importa para elas”, reconhece.

Arquivo Pessoal
Anita, Francisco e Aurora transformaram a vida de Rafael e Munyque Romana numa festa (foto: Arquivo Pessoal)
Para conseguir dar conta de tantos dependentes, Mônica garante que não basta equilibrar as contas e ser uma mãe presente. “É preciso ouvir mais e falar menos. As pessoas também precisam ser mais verdadeiras e expor a realidade como ela é. Os pais ficam querendo otimizar tudo para os filhos para que eles não tenham frustração e não é por aí. Buscamos ser muito realistas e práticos”, afirma.

OTIMISMO Pai de Emanuelle, Gabriela e Jéssica, o engenheiro químico Anderson Luiz da Silva, de 36, dá mais um conselho para quem acredita que nenhuma das decisões tomadas por estes casais é possível diante de um mundo cada vez mais violento, exigente e predatório. “O que tenho percebido hoje é que as pessoas acabam tendo uma visão muito imediatista. Tudo é pensado no curto prazo”, avalia.

A redução da confiança no futuro também é clara. “O pessimismo tem baseado e norteado as decisões. Eu e minha esposa procuramos observar e pensar no futuro de forma positiva. Que vamos conseguir os nossos objetivos e realizar os nossos sonhos e que as coisas vão ser melhores”, afirma. Este olhar diferente sobre o que está por vir é uma das justificativas para acreditarem que há espaço para que uma família grande progrida e tenho acesso às mesmas conquistas de uma menor.

ENTRE IRMÃOS Os benefícios de uma família numerosa é estendido para os próprios filhos, que no meio de tantos irmãos terão oportunidades e vivências diferentes de quem só tem um ou nem sequer isso. Quando Emanuelle, hoje com 3 anos e cinco meses nasceu, Anderson e Mirian admitem que parecia faltar alguma coisa. “Percebemos que, à medida que ela fosse crescendo, se tornaria uma criança muito sozinha. Por isso a ideia do segundo filho. Veio a Gabriela. Pela reação da mais velha, vimos que era uma coisa muito boa e a chegada da Jéssica completou a família”, admite Anderson.

Para Munyke, a ideia da companhia faz com que uma ida no parque se torne uma festa. “Eles não precisam de mais nada porque têm dois outros para se divertir”, conta. Para ela, quem tem apenas um pode correr o risco de depositar nele todos os seus desejos e vontades e carregar a criança de expectativas. “Tudo que se espera vem dali”, afirma. Mas a psicóloga Aléssia lembra que, dentro da psicologia, por mais que sejam vários filhos cada um ocupa um lugar e carrega uma função. “Sempre o mais velho será o mais cobrado e o mais novo o que recebe mais atenção e costuma ser o mais difícil de desgarrar”, avalia.