Profissão de coach não é regulamentada nem no Brasil nem no mundo

Atenção: sem regulamentação, fica fácil para oportunistas encontrarem espaço em um mercado crescente

por Carolina Samorano 02/04/2014 09:01

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A profissão de coach não é regulamentada ainda nem no Brasil nem no mundo. E, segundo Villela da Matta, nem deve ser tão cedo. “Ela não é uma abordagem única, é multidisciplinar, por isso você não consegue dar a patente ou o direito a uma área específica. Envolve conceitos da administração, da psique humana, da filosofia… Se um administrador falar ‘quero puxar essa bandeira’, a psicologia pode reivindicar também. E vice-versa”, explica Villela da Matta.

A parte triste disso é que, sem regulamentação, fica fácil para oportunistas encontrarem espaço em um mercado crescente. Em tese, qualquer um pode-se dizer coach. “Como qualquer mercado que está iniciando, existem os aventureiros que se aproveitam da boa-fé das pessoas que não conhecem o assunto. Eles lançam qualquer coisa e chamam isso de coaching. Com 15 anos de mercado, a gente se assusta com a criatividade das pessoas”, constata Villela.

Para evitar que gente “criativa” como essa se dê bem, o que algumas instituições de formação de coaches têm feito é criar mecanismos para se proteger e atestar a qualidade, como testes e certificações vindas de empresas e órgãos independentes. A Sociedade Brasileira de Coaching, por exemplo, diz que, segundo um estudo realizado este ano pela Sherpa Coaching, empresa norte-americana de executive coaching, o método aplicado em corporações, do instituto brasileiro, é o segundo mais replicado no mundo em coaching executivo. A pesquisa foi feita com 840 coaches de 50 países.

Nos Estados Unidos, a International Coach Federation tenta promover credibilidade para os profissionais da área. A instituição, sem fins lucrativos, nasceu há 15 anos para incentivar e organizar o segmento, que, na época, já dava sinais de que veria seu boom muito em breve. “Nós somos comprometidos em estabelecer e manter altos padrões para o coaching profissional, assim protegemos os interesses dos clientes”, esclarece Damian Goldvarg, diretor global da instituição. Eles chegaram a criar um código de ética para o coaching e um de conduta e revisão de processos, além de um painel que permite que os clientes insatisfeitos registrem reclamações e comportamentos antiéticos ou inapropriados por parte dos coaches.

Não caia no conto

Por ser uma profissão tão recente e sem regulamentação, fica difícil saber a quem recorrer antes de contratar um profissional de coaching. Na hora da verdade, o que vale é a identificação com o coach. Ainda assim, alguns profissionais dão dicas para fazer a escolha certa.

  • Peça para ver qual a formação em coaching: onde e quando o coach se formou, se a instituição é reconhecida e respeitada, se faz cursos de atualização.
  • Os coaches dizem que não é necessário, mas ajuda quando eles têm uma formação que tenha a ver com o objetivo que você busca. Por exemplo, se você quer desenvolver sua liderança e capacidade de chefia, vale um coach que tenha experiência profissional na área.
  • Nenhum currículo é melhor do que as referências do coach: quem ele já atendeu e quais foram os resultados.
  • O processo de coaching tem início, meio e fim. Tem data para começar e terminar, determinadas antes do início do programa. Não acredite em profissionais que cobrem por uma só sessão, estendendo o processo indefinidamente.

Janine Moraes/CB/D.A Press
"Não existe meta impossível quando você se planeja", garante Fiamma Barbalho, coach financeira (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
Emagrecer a silhueta e engordar a conta bancária
Há um denominador comum entre os coaches facilmente percebido em poucos minutos de conversa: a justificativa dada para explicar por que deixaram carreiras estáveis, cargos executivos, empregos públicos com altos salários para se dedicarem a um futuro nebuloso em um novo ramo de atuação. Paixão, eles dizem. Fiamma Barbalho, 37 anos, ocupava um cargo alto em uma empresa multinacional do ramo de mineração quando conheceu o coaching.

Formada em direito, não exercia a profissão. Especializou-se em direito tributário e foi trabalhar na área de finanças e internacionalização de capitais em grandes empresas. “Eu sempre quis chegar a um certo cargo na empresa onde eu trabalhava. Quando cheguei, não tinha mais para onde crescer e pensei: ‘Não é bem isso ainda’.” Abriu uma agência de turismo e descobriu que viajar é mais fácil do que vender os destinos. Perdeu dinheiro. “Foi um grande aprendizado”, diz.

Em 2011, Fiamma deixou para trás os dias de executiva. Em dois anos e meio, se formou em master coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching, a formação tida como mais “profunda” da instituição. A coach usa sua experiência com cifras para ajudar seus clientes a atingirem metas financeiras. Paralelamente, presta serviços de consultoria financeira que, ela diz, em quase nada se parecem com o processo de coaching.

“São complementares”, ela explica. “Muitas vezes, a pessoa chega aqui para a consultoria com boa vontade. Ela inicia o processo, vai bem, começa seguindo o que foi combinado e, em um dado momento, joga tudo para o alto. Ela não leva para frente. E é aí que entra o coaching”, continua Fiamma. Traçar metas para o seu dinheiro, segundo o treinamento intensivo de Fiamma, custa, em média, R$ 5 mil por 12 encontros. “Ao contrário da consultoria, no coaching a gente estabelece um plano de acordo com o que a pessoa quer fazer. Não adianta eu mandá-la guardar uma quantia por mês, como a gente faz na consultoria, se o estilo de vida dela não permite”, complementa a coach.

Os clientes de Fiamma vão de ricos, que chegam com “metas agressivas” para seu montante, a gente com dívidas a perder de vista. “Não existe meta impossível quando você se planeja. Mas o coaching, como envolve autoconhecimento, clareia até mesmo os objetivos do coachee. A gente trabalha o conceito de riqueza, em que o dinheiro é apenas uma parte dela. Não é o quanto você tem que importa. O que dá valor ao seu dinheiro é o que você faz com ele”, acredita.

Embora seu trabalho seja focado nas finanças alheias, Fiamma trabalha também com life coaching — seja lá qual for o seu objetivo — e executive, para empresas, hoje a maior parte de sua cartela de clientes. Durante as suas sessões, já viu um médico passado de seus 40 anos desistir dos consultórios para dedicar-se à consultoria financeira, ao descobrir ser essa a verdadeira vocação.

As técnicas de coaching de Fiamma extrapolam suas sessões com os clientes e abraçam a vida pessoal. Ela credita ao método a nova silhueta: depois de se autoaplicar o coaching, diminuiu 10kg na balança. “Eu já fui a muitos nutricionistas e nunca consegui o corpo que queria. Só com o coaching a coisa deu resultado”, afirma.

"Eu sempre quis chegar a um certo cargo na empresa onde eu trabalhava. Quando cheguei, não tinha mais para onde crescer e pensei: ‘não é bem isso ainda’” - Fiamma Barbalho, 37 anos