Qual a necessidade de separar bebê e mãe logo após o parto? Veja vídeo que é sucesso na internet

Evidências científicas consolidadas recomendam o contato pele a pele entre e mãe e bebê precocemente. Essa proximidade deve ser contínua e prolongada por no mínimo uma hora. Leia reportagem e entenda os benefícios

por Valéria Mendes 28/02/2014 10:00

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Reprodução Youtube
Reação de bebê comove internautas e vídeo é destaque em sites brasileiros e internacionais (foto: Reprodução Youtube)
Pouco mais de um minuto de duração, mais de 2 milhões de visualizações e poucas palavras em um vídeo que focaliza mãe e filho em uma sala de parto. Sucesso no Youtube, dá para ouvir o adjetivo “cabeludo” e supor que se trata de um menino. A emoção fica por conta do recém-nascido que, em todas as tentativas que a equipe médica faz de separá-lo da mãe, o garotinho chora ao mesmo tempo em que se esforça para se agarrar à sua progenitora.

Assista:



Pesquisa de 2010 da Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres brasileiras é vítima de violência obstétrica durante o parto. O conceito internacional abrange também os direitos do bebê e, no Brasil, nem a lei do acompanhante é respeitada. Nesse contexto, uma das questões que está em pauta é: qual a necessidade de separar o bebê da mãe após o nascimento?

“Não deixe ninguém separar seu bebê de você”. Esse é o recado da coordenadora da Linha de Cuidados Nenonatais do Hospital Sofia Feldman, a médica neonatologista Raquel Lima. A resposta está fundamentada em revisões sistemáticas da literatura médica que colocam o contato pele a pele precoce entre mãe e filho logo após o nascimento como nível 1 de evidência científica, com grau A de recomendação. Isso significa que a ciência comprova e recomenda que a prática seja adotada. “Imediatamente após o nascimento o bebê saudável deve ficar em contato com a pele da mãe. Não é contato pano a pano. O objetivo é o contato físico mesmo que deve ser contínuo e prolongado por no mínimo uma hora”, reforça a especialista.

A lista de benefícios da adoção dessa prática como protocolo médico é enorme e passa por aspectos imunológicos, nutricionais e psicossociais comprovados cientificamente. “O procedimento promove melhor interação entre mãe e bebê, acalma a criança, auxilia no controle dos batimentos cardíacos, reduz o estresse e o choro do recém-nascido. Chorando menos, a criança consome menos glicose e tem menos chance de ter hipoglicemia. Além disso, melhora o aquecimento do bebê e evita a hipotermia”.

Os benefícios não param por aí. Raquel Lima explica ainda que no momento desse contato pele a pele, a criança é colononizada com as bactérias da flora materna. “Levar para um berçário, por exemplo, significa que a primeira colonização desse bebê será com bactérias hospitalares. Além disso, as bactérias maternas contribuem também para um estímulo imunológico mais adequado”.

A interação mãe e bebê também influencia na amamentação. “Isso tudo está provado. Crianças que tiveram contato pele a pele precocemente com a mãe têm desempenho melhor na hora de amamentar”, ressalta.

Raquel Lima esclarece ainda que após essa uma hora contínua de contato físico entre mãe e filho, é chegado o momento da aplicação do colírio para prevenir a oftalmia neonatal e da injeção de vitamina K para prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido. Segundo a médica, o Teste de Apgar pode ser feito com o bebê nos braços da progenitora. “Esse teste é utilizado para avaliar a condição de nascimento do neném e é realizado no primeiro de minuto de vida e reavaliado com cinco minutos”, reforça.

A exceção do contato pele a pele fica para os bebês de alto risco. “Prematuros extremos, crianças que não conseguem respirar ou que nasceram com parada cardíaca, mas estima-se que apenas 10% dos nascidos vivos vão precisar de ajudo nos primeiros minutos de vida”, observa a especialista do Hospital Sofia Feldman.

A neonatologista afirma que o Brasil caminha em direção ao parto humanizado. “Cada vez mais esse momento da vida da mulher e do bebê vem sendo discutido em fóruns, na academia, em hospitais. A própria sociedade vem se informando e cobrando mudanças. Apesar de não virem na velocidade que se deseja, muita coisa já avançou pelo menos no que se refere ao contato pele a pele entre mãe e bebê”, diz.

Para ela, é uma técnica tão benéfica que não tem razão de não ser adotada. “É um procedimento que precisa ser entendido como um direito da criança e os hospitais e profissionais têm que viabilizar essa prática da melhor maneira possível”, conclui. Raquel Lima lembra ainda que a recomendação do contato pele a pele independe da via de parto, ou seja, é indicada também nos casos de cesarianas.