Moléculas ligadas à endometriose grave são identificadas

Resultados de estudo publicado nesta quinta-feira sinalizam um primeiro passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à possibilidade de terapias personalizadas

por Isabela de Oliveira 06/02/2014 10:45

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
O endométrio reveste a parede interna do útero e é uma das regiões do sistema reprodutor feminino mais afetadas pelas alterações no ciclo menstrual (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Pesquisadores estimam que 10% das mulheres sofram com a endometriose, uma doença de origem desconhecida e que causa dores insuportáveis e infertilidade, dependendo da gravidade. Tanto mistério sobre a origem do problema faz com que os tratamentos se limitem a duas opções: terapia hormonal e, nos casos mais avançados, cirurgia. Resultados de estudo publicado na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, porém, sinalizam um primeiro passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à possibilidade de terapias personalizadas.

O endométrio reveste a parede interna do útero e é uma das regiões do sistema reprodutor feminino mais afetadas pelas alterações no ciclo menstrual. Lá, o óvulo se aloja após a fertilização e, caso a mulher não engravide, parte dessa mucosa sai durante a menstruação. Mas isso não ocorre com quem tem a endometriose. Em vez de serem eliminadas, as células seguem para os ovários ou a cavidade abdominal, onde se depositam. As duas possibilidades mais fortes para a ocorrência do problema são a de um refluxo do sangue pelas trompas.

A doença também se caracteriza pela inflamação aguda no sistema reprodutor. Por isso, muitas moléculas que participam desse processo inflamatório têm sido estudadas, uma de cada vez ou em grupos de tamanho limitado. Os cientistas tentam, com isso, identificar marcadores que caracterizem a endometriose de forma mais precisa. Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (EUA), no entanto, apostaram na investigação de um grupo maior de fatores inflamatórios do endométrio, todos ao mesmo tempo.

Para isso, mediram as concentrações de 50 moléculas presentes no fluido abdominal de 77 pacientes. Mesmo sabendo que cada mulher sofreria com um estágio diferente da doença, os pesquisadores preferiram não separá-las nos níveis 1, 2, 3 e 4 de gravidade, como os médicos costumam fazer. “Preferimos uma análise multivariada, em que identificamos conjuntos de moléculas em vez de pacientes, independentemente do grau de doença de cada uma delas”, explicou Linda Griffith, uma das autoras da pesquisa.

Durante as análises, os cientistas perceberam que um grupo de mulheres, aquelas que sentiam mais dores e precisavam ser submetidas a intervenção cirúrgica, tinha um conjunto de 12 moléculas que se modificava em um processo em cadeia. Ou seja, o comportamento de uma dependia sempre do da outra. Essa relação, segundo Linda, é orquestrada pelos macrófagos, células ligadas à defesa do organismo.

“Os colocamos em cultura e descobrimos que eles secretavam substâncias semelhantes. Depois, testamos diversas drogas e descobrimos que os inibidores de quinase reduziam substancialmente essa produção, o que nunca foi visto antes”, disse a pesquisadora.

De acordo com Linda Griffith, a análise multivariada de redes inflamatórias permitiu identificação de subgrupos de pacientes mais graves. “E também em quais mulheres os tratamentos hormonais não têm eficácia”, completa.

Dor amenizada

O ginecologista e obstetra Jurandir Passos, explica que as quinases são enzimas envolvidas em diversos processos inflamatórios. “Esses pesquisadores descobriram que, quando utilizam os inibidores de quinase, é possível impedir a produção dessas substâncias inflamatórias. Assim, pode-se acabar com a dor sofrida pelas pacientes”, diz. O especialista ressalta que o tratamento proposto é para amenizar os sintomas da endometriose, não para curar o problema.

Segundo Passos, ainda é cedo para apostar em um novo tratamento, ainda que a pesquisa tenha aberto o caminho no desenvolvimento de novas possibilidades de intervenção. “Os pesquisadores, além de proporem uma maneira diferente de classificar as pacientes, sugerem outro tipo de tratamento. É um estudo sério e muito promissor, mas ainda precisamos aguardar mais pesquisas com um grupo maior de mulheres para realmente afirmarmos alguma coisa”, pondera.