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As disfunções sexuais são os transtornos sexuais mais prevalentes e a psiquiatra alerta que "essa incapacidade está presente em todas ou quase todas as relações sexuais por um período mínimo de seis meses causando sofrimento pessoal e ao parceiro". Ela reforça que estudo realizado no Brasil pela professora Carmita Abdo indicou que 28,5% das mulheres apresentam algum tipo de disfunção, sendo as mais prevalentes o desejo sexual hipoativo, transtorno de lubrificação e anorgasmia (veja ao lado). Entre os homens, 18,2% apresentam algum tipo de disfunção, sendo mais comuns a ejaculação precoce e a disfunção erétil.
Kie Kojo ensina que as disfunções são classificadas em primária, quando ocorrem desde o início da vida sexual, e secundária, quando começam depois de um período de vida sexual satisfatória. A generalizada ocorre em qualquer situação e/ou com todos os parceiros e a situacional em uma determinada situação e/ou com um determinado parceiro. Há ainda a orgânica, quando existe algum tipo de lesão física (como sequelas de cirurgias e sequelas do diabetes, etc.), e a psicogênica, na ausência de lesão, provocada por problemas emocionais, sendo a mais comum. "As disfunções tendem a ser mais graves quanto mais precoce for o bloqueio no ciclo de resposta sexual, composto por desejo, excitação, orgasmo e resolução. De uma forma geral, o bloqueio do desejo é mais complexo de tratar do que o bloqueio do orgasmo."
A especialista explica que as disfunções sexuais são desejo sexual hipoativo, aversão sexual, disfunção erétil, disfunção de lubrificação, anorgasmia, vaginismo, dispareunia, ejaculação precoce, compulsão sexual e disfunção sexual não especificada. "O tratamento deve ser individualizado, mas na maioria das vezes usamos a associação da terapia sexual com a psicofarmacologia", diz.
Em busca da própria identidade
O segundo grupo dos transtornos da sexualidade é chamado de transtorno de identidade sexual, caracterizado pelo desejo irreversível de viver e de ser aceito como pertencente ao gênero oposto. "A epidemiologia é controversa, mas estima-se que no Brasil a proporção seja de um transexual masculino para cada 40 mil homens e de um transexual feminino para cada 80 mil mulheres", diz a psiquiatra especialista em sexualidade humana pela Universidade de São Paulo Kie Kojo. Ou seja, não é tão comum. "A etiologia também é inconclusiva. Mas parecem existir fatores hormonais e genéticos (cromossômicos) envolvidos no desenvolvimento desses transtornos."

O transvestismo de duplo papel é o uso de roupas do gênero oposto durante parte da existência do indivíduo com o intuito de desfrutar a experiência de ser do gênero oposto, sem qualquer desejo de mudança de sexo ou de estimulação sexual. O indivíduo, neste caso, sente-se bem com o seu sexo anatômico. O transtorno de identidade sexual na infância é diagnosticado quando a criança apresenta uma angústia intensa e persistente com relação ao próprio gênero, junto com o desejo ou insistência de que é do gênero oposto. Ocorre, geralmente, antes da puberdade. "Dois terços dessas crianças na idade adulta terão como orientação sexual o homossexualismo. E apenas uma pequena parte delas se tornam transexuais." Já o transtorno de identidade sexual não especificada é tudo aquilo que não se encaixa nos demais.
CIRURGIA
Como o transexualismo é o transtorno mais conhecido e divulgado, Kie Kojo enfatiza que a cirurgia de redesignação sexual, ou transgenitalização, é feita gratuitamente no Brasil desde 1997, embora fosse restrita a hospitais-escola do setor público. Em 2008, ela passou a integrar a lista de procedimentos cirúrgicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Recentemente, o Conselho Federal de Medicina autorizou clínicas particulares a fazer o procedimento. "Já não é necessário autorização judicial. É importante ressaltar que o procedimento é complexo e irreversível. Portanto, tem de ser feito de forma responsável e por equipe capacitada."
O terceiro grupo é o de preferência sexual, ou parafilia, que adota padrão de comportamento sexual considerado perversão, tema que será abordado na edição de amanhã. Deve estar presente por um período mínimo de seis meses causando sofrimento pessoal e interpessoal. "Estima-se que 1% da população no Brasil tenha algum tipo de parafilia, sendo mais comum no gênero masculino. Frequentemente se inicia antes dos 18 anos. As parafilias mais comuns são pedofilia, voyerismo, exibicionismo, sadismo e masoquismo."
A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)