Abusos nas ceias de final de ano podem causar graves problemas de saúde

A intoxicação alimentar é o mais comum, mas estudo também relaciona os excessos ao diabetes

por Flávia Franco 24/12/2013 12:00

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Fim de ano, época de celebrar, reunir a família e amigos e exagerar na comida. Os abusos cometidos na ceia e em outras confraternizações, porém, podem resultar em graves problemas de saúde. Um dos mais comuns é a intoxicação alimentar, que, segundo especialistas, não acontece apenas por conta da ingestão de alimentos contaminados. Comer demais, especialmente pratos com muita gordura e açúcar, também desencadeia o desconforto.

“Esse quadro é o que chamamos de diarreia hiperosmolar. Ocorre quando a pessoa não está acostumada a comer excesso de gordura e de doces”, explica Ana Teresa Pugas. De acordo com a gastroenterologista do laboratório Exame, trata-se, de certa forma, de uma rejeição do corpo aos alimentos ingeridos. O próprio organismo estimula a contração intestinal e a diarreia. O paciente pode sofrer também com vômitos, causados pela má digestão. “O excesso de comida estimula a peristalse (movimento de contração do tubo digestivo para expulsar o seu conteúdo). E o açúcar no intestino leva à diarreia porque esse excesso puxa água do organismo, causando contrações intestinais”, diz Pugas.

A intoxicação tradicional acontece devido à presença de bactérias, como a salmonela. Segundo Pugas, é comum, nesta época do ano, receber no pronto-socorro várias pessoas que estavam na mesma festa. “Nesse caso, trata-se de um tipo de gastroenterite chamada de autolimitada. O paciente tem intensamente os sintomas, que melhoram sozinhos entre três e cinco dias”, diz.

A endocrinologista Myrna Campagnoli, do laboratório Pasteur, aconselha tomar cuidado com a procedência dos alimentos, já que está cada vez mais comum comprar a ceia pronta. “Tem que checar se eles foram bem acondicionados durante o preparo e, na hora de servir, garantir que fiquem protegidos de condições que contribuam para a proliferação de bactérias”, orienta.

Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press
Os exageros gastronômicos costumam ser completos. Além de muita comida, festeiros erram a mão nas bebidas alcoólicas (foto: Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press)
Do porre ao coma
Os exageros gastronômicos costumam ser completos. Além de muita comida, festeiros erram a mão nas bebidas alcoólicas. Elas também provocam intoxicação, desde a mais leve, como a embriaguez, até quadros que colocam em risco a vida, como a intoxicação hepática e o coma. “Pode acontecer em uma única ocasião dependendo da quantidade ingerida. Além disso, qualquer bebida alcoólica pode gerar a intoxicação. Não se deve confiar naquelas histórias de beber só cerveja porque é menos forte do que os destilados ou não misturar bebidas para não dar problema”, alerta Campagnoli.

Há também o risco de desidratação. Isso porque o álcool requer muita água para ser metabolizado. “Por isso que a ressaca dá muita sede”, explica a endocrinologista. O excesso de sal causa efeito semelhante. No caso das ceias, a sobrecarga de sódio geralmente está nos aperitivos, que devem ser consumidos com moderação principalmente pelos hipertensos e pelas pessoas com histórico de problemas cardíacos e vasculares. “O cuidado tem que ser maior por conta do risco de crises hipertensivas e todos os problemas associados a ela, como derrame e infarto”, aconselha.

Diabéticos também fazem parte da lista de convidados sob vigilância redobrada. “É um período do ano em que a gente brinca que eles acham que ficam imunes, protegidos pelo Natal” diz Campagnoli. A médica afirma que, devido ao excesso de comida, há um aumento na glicemia de todo mundo, mas que, para quem tem esse problema metabólico, as consequências são maiores. “A imunidade fica mais baixa, deixando a pessoa mais exposta a infecções. Pode aumentar a quantidade de urina, o que faz com que a desidratação piore, evoluindo até para um quadro de coma”, afirma.

Exercícios aliviam
Os efeitos da elevação na taxa de glicose em decorrência da comilança foram alvo de um estudo americano recente. Pesquisadores investigaram os prejuízos gerados em homens jovens e saudáveis após uma semana de abusos. “Focamos a pesquisa no diabetes tipo 2, que costuma ser resultado de anos de exagero na alimentação e falta de exercício”, explica Jean-Philippe Walhin, um dos autores.

A primeira mudança observada foi a queda da sensibilidade à insulina, que diminui o controle de açúcar no sangue. Os pesquisadores também perceberam que o tecido gordo sofreu alterações genéticas e que carboidratos em excesso foram transformados em gordura devido ao excesso de comida. “O corpo humano é incrivelmente eficiente em armazenar energia. A gordura é ‘guardada’ em forma de gordura e os carboidratos, como glicogênio. Quando atinge o limite, tudo que vier depois vira gordura”, afirma Walhin.

Conforme o estudo, a prática de exercícios ajudou a prevenir essas mudanças. “A saúde dos participantes continuou praticamente a mesma apesar do excesso de comida e do ganho de peso”, diz o pesquisador. Mesmo com os benefícios, Pugas reforça que as atividades físicas não impedem as pessoas de passarem mal em decorrência do excesso de comida. “Mesmo um atleta não está imune aos exageros. Se ingerir muito álcool, muita gordura e muito doce, ele também vai passar mal.”

A endocrinologista chama a atenção para o fato de que os benefícios são para quem tem o hábito de se exercitar. “As outras e que, de repente, têm aquele pânico de ‘exagerei muito e vou caminhar’, vão ter mais mal-estar porque vão desidratar mais. Acabam tendo alterações de metabolismo e até muscular por conta da atividade iniciada de pronto.”

Pugas reforça que a preocupação com a dieta e a saúde deve durar todo o ano. “A comida de fim de ano costuma estar carregada de gordura, sal e açúcar. Se é um exagero pontual, não tem tanto problema. Mas, se você come excessivamente sempre, é um problema crônico.”

Atenção às alergias
Outra preocupação que deve fazer parte das ceias de fim de ano é com os ingredientes que costumam provocar reações alérgicas. De acordo com a endocrinologista Myrna Campagnoli, há três tipos de alergia alimentar. A mais severa é a respiratória, que fecha a glote. “Há também a de trato gastrointestinal, que desencadeia um quadro de vômito e diarreia; e a mais branda, a alergia de pele, que causa vermelhidão e coceira”, explica.

Mesmo apresentando riscos, exagerar na comida não gera alergia alimentar. “Você não passa mal por alergia, acontece porque ingeriu muita gordura e muito açúcar. Mas isso não é uma complicação alérgica”, ressalta Ana Teresa Pugas. A endocrinologista afirma que não existe como saber se uma pessoa terá reação a um determinado alimento até a primeira crise.

Campagnoli explica que a melhor maneira de prevenir os problemas alérgicos é evitar alimentos que já provocaram esse desconforto, mesmo que de forma pouco expressiva. “As pessoas falam que há anos não comem o alimento que causa alergia e resolvem tentar um pouco para ver o que acontece. Elas acabam passando mal. Não é uma coisa que vai embora, uma vez que a reação a determinado alimento, a princípio, é para a vida toda”, diz.