No Dia Mundial do Idoso, mulheres mostram como é possível se divertir e se exercitar com a capoeira

por Carolina Cotta 01/10/2013 15:00

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Maurício JC/Divulgação
Grupo de Matipó, na Zona da Mata mineira, se reúne para alongar e aquecer, respeitando os limites de cada aluno. Ao final, há relaxamento (foto: Maurício JC/Divulgação)
“A mulher pra ser bonita, paraná. Não precisa se pintar, paraná. A pintura é do diabo. E a beleza é Deus que dá, paraná. Paranauê, paranauê, paraná”, entoam, jogando o corpo de um lado para o outro. “Berimbau, pandeiro e chocalho marcam o passo. É uma roda feliz, vital. Uma roda de quem já viu, e muito, o mundo girar.”

Em Matipó, na Zona da Mata mineira, um grupo de senhoras deixou o corpo mole de lado e caiu na capoeira. Duas vezes por semana, elas se encontram na roda de mestre Zói, como chamam o professor e fundador do Grupo de Capoeira Corpo e Ginga, Wederson Fraga. Nenhuma fica parada, tendo 60, 70, 80 anos. Por que não 90?

Atividade liberada para todas as idades, Zói já teve um aluno de 100 anos e uma aluna de 92. Formado em educação física e professor universitário, ele garante que todos podem praticar. E não é difícil trazer essa turma para a roda. As cantigas, que lembram as brincadeiras infantis dessa geração, são um convite e tanto para o exercício.

“A música causa uma sensação de desligamento do cotidiano, trazendo as alunas de corpo e mente para a aula. Quando cantamos cantigas antigas, como Alecrim dourado e Marinheiro só, percebo que elas ficam entusiasmadas e se sentem mais à vontade. Nesse momento criamos cantigas no ritmo da capoeira”, explica Wederson.

O jeito de lidar com a turma da terceira idade foi surgindo aos poucos. Quando começou a trabalhar com a faixa etária, recorria a exercícios leves. À medida que a turma foi respondendo às atividades, Zói percebeu que não existiam barreiras para a capoeira, já que a atividade trabalha o corpo de forma harmoniosa, com limites sendo colocados por cada aluno.

É claro que é uma capoeira mais leve. “Sem muitas acrobacias”, deixa claro a professora aposentada Janda Pereira da Silveira, de 66 anos, uma das primeiras alunas da turma. Quando se aposentou, em 2002, preocupada em não ficar muito sedentária, procurou uma atividade física para cuidar da saúde. Procurou a hidroginástica e a aeróbica na academia e estava feliz.

Artur de Alcântara/Divulgação
Janda Pereira da Silveira faz aulas de capoeira três vezes por semana desde 2005 (foto: Artur de Alcântara/Divulgação)
Até que, levando os netos para a capoeira, aceitou o convite de mestre Zói e não saiu mais. Desde 2005, Janda faz aula três vezes por semana. “Achei que não ia dar conta, tenho dois netinhos que levava para a capoeira, aquilo foi me motivando. Observava as crianças jogando de longe e um dia ele me chamou. Não tive vergonha, mas pensei que não fosse para mim”, lembra.

Hoje, Janda continua levando os netos e joga com eles. “Desde que fiquei viúva, entrei em depressão. Não tinha vontade de sair de casa. A capoeira me fez bem. Não dou aquelas voadoras (risos), o que mais gosto é de cantar aquelas músicas antigas, bater palma e dançar com minhas colegas. Não fica ninguém sem jogar, nem que seja uma gingazinha só.”

Limite

Segundo Wederson Fraga, estando a pessoa apta para a prática de exercícios físicos, há pouca diferença entre a capoeira dos idosos e dos mais jovens. “O que muda é a aplicabilidade, dentro do limite de cada praticante. Por isso é necessário, primeiramente, trabalhar a consciência corporal, fazendo com que a pessoa conheça suas limitações.”

Como para essa faixa etária há vários fatores de limitações, Zói elaborou uma metodologia diferenciada. Para a terceira idade, movimentos bruscos e giros não são recomendados. Antes de começar, é essencial uma avaliação médica e uma avaliação física. A aula sempre começa com uma sequência de alongamento, seguida de aquecimento. No final, tem relaxamento.

Em estudo realizado em um programa de pós-graduação de fisiologia do exercício, Wederson avaliou parâmetros de qualidade de vida de capoeiristas idosas em comparação a mulheres sedentárias. “Em relação ao perfil de humor, as idosas ativas apresentaram valores de vigor significativamente mais altos do que as idosas sedentárias. As idosas capoeiristas também apresentaram maiores escores de qualidade de vida quando comparadas ao grupo de idosas sedentárias.”

SÍMBOLO DE LIBERDADE
Forma de defesa dos escravos africanos, a maioria deles angolanos, a capoeira nasceu como manifestação contra as repressões vividas no período da escravatura brasileira. Hoje é considerada atividade física, por contribuir para a saúde e o bem-estar físico e social. Mas a capoeira também é dança, luta, musicalidade, jogo, folclore, esporte,
lazer, cultura e uma filosofia de vida.