Câncer da personagem de Marina Ruy Barbosa na novela Amor à vida tem percentual de cura em torno de 90%

Quimioterapia e transplante de medula fazem parte do tratamento

por Bruna Sensêve 29/08/2013 09:00

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TV Globo/Bob Paulino
A personagem foi diagnosticada com a doença em estágio mais avançado. No entanto, o fim trágico de Nicole, a personagem da atriz Marina Ruy Barbosa, não retrata a realidade da grande maioria das pessoas diagnosticadas com o linfoma de Hodgkin (foto: TV Globo/Bob Paulino )
O fim trágico de Nicole, a personagem da atriz Marina Ruy Barbosa na novela Amor à vida, não retrata a realidade da grande maioria das pessoas diagnosticadas com o linfoma de Hodgkin. O tipo de câncer que atinge os gânglios linfáticos do corpo tem um percentual de cura em torno de 90% e, na maior parte das vezes, consegue ser curado já com a primeira linha de tratamento. Essa é a história da técnica administrativa Cintia Aparecida de Souza, 28 anos. Com menos de um ano de quimioterapia, ela conseguiu superar a doença em estágio três.

Cintia descobriu o linfoma de Hodgkin em maio do ano passado. “Quando cheguei ao médico correto, eu já tinha o nódulo na virilha havia uns sete meses. Como achava que não era nada grave, eu deixava sempre para depois”, lembra. O tratamento consistiu em sessões de quimioterapia quinzenais durante nove meses. “Eu tive algumas limitações por causa da imunidade, tinha que evitar locais fechados e com muitas pessoas, mas as outras coisas todas eu fiz”, conta. Cintia continuou a passear no shopping em horários mais vazios, caminhar no parque, ir ao cinema, com exceção dos quatro primeiros dias após a aplicação do tratamento, quando o enjoo e o mal-estar ficavam muito fortes.

Não há um método de rastreamento para a doença de Hodgkin. Normalmente, o paciente precisa perceber os primeiros sintomas, como um nódulo persistente e indolor em locais como as axilas, o pescoço e a virilha. A detecção precoce da ínguas está intimamente envolvida com o tipo de manifestação que o paciente tem da doença. Ainda assim, existem nódulos que são internos no pulmão ou no abdômen e podem causar um desconforto constante, como dificuldade para respirar ou náuseas.

Ed Alves/CB/D.A Press
Cintia teve a doença e foi curada em menos de um ano: poucas restrições (foto: Ed Alves/CB/D.A Press)
A personagem da ficção foi diagnosticada com a doença em estágio mais avançado. Ao todo, são quatro níveis de progressão do linfoma de Hodgkin. No primeiro estágio, atinge apenas uma cadeia linfática acima do diafragma, surgindo um nódulo em um único lado do pescoço ou em uma das axilas. No segundo estágio, são atingidas duas cadeias acima do mesmo músculo, por exemplo, dois lados no pescoço, um nódulo no pescoço e outro na axila. As duas primeiras etapas são consideradas iniciais.

A partir do terceiro estágio — quando os nódulos devem ter atingido também alguma estrutura abaixo do músculo, por exemplo, a virilha — a doença é considerada avançada. “O fato de estar em estágio quatro quer dizer que a doença está acometendo estruturas no tórax, abaixo do tórax e, às vezes, a medula óssea. É o que indica que o problema atinge vários locais no organismo, inclusive áreas que não são de linfonodos”, explica Ricardo Bigni, hematologista do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Na doença de Hodgkin, assim como em outras enfermidades hematológicas, não é usado o termo metástase porque não há a disseminação de um tumor localizado para outro órgão. “Como acometem estruturas linfáticas, essas doenças, por si só, têm a característica de ter comprometimentos mais distantes. Por isso, falamos de extensão da doença, diferentemente do que seria em um câncer de pulmão que atingiu a cabeça”, explica Bigni.

Da mesma forma, não é o tipo de doença que pode ser tratada por uma cirurgia para a retirada do nódulo, que é parte superficial e visível do mal. No organismo, outras muitas células podem sofrer com a doença que se espalha em meio ao funcionamento normal do sistema linfático. Bigni esclarece que o tratamento é o mesmo para qualquer estágio do linfoma de Hodgkin. A diferença está no número de sessões quimioterápicas indicadas. Pacientes com tumores mais resistentes podem se submeter ao transplante autólogo de medula óssea ou recorrer a medicamentos mais modernos.

Valdo Virgo/CB/D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)
Descoberta
O patologista inglês Thomas Hodgkin identificou os linfomas em 1893 devido a uma particularidade evidente da doença: os gânglios superficiais proeminentes. “Quando pacientes com as ínguas faleceram, ele analisou o material e encontrou algumas estruturas identificadas como causadoras da doença, que passou a ser chamada linfoma de Hodgkin”, conta Daniel Tabak, membro do Comitê Científico Médico da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Hodgkin analisou as células dos tumores e descreveu a doença. Todos os linfomas descobertos depois disso foram denominados não Hodgkin por não apresentarem a mesma caracterização definida pelo patologista.

Contra a toxicidade
O transplante autólogo de medula é considerado uma quimioterapia, mas feita contra tumores muito agressivos ou resistentes às primeiras tentativas. Aumenta-se a dose do tratamento para quebrar a resistência do tumor. Para minimizar os efeitos da toxicidade, retira-se uma parte da medula ainda saudável do paciente e ela é congelada. O indivíduo recebe uma quimioterapia de alta dosagem, sem preocupação com a saúde da medula óssea que pode ser comprometida, já que será transplantada e reconstruída em seguida.