Exame de DNA pode encurtar tempo para descobrir intolerância à lactose de pacientes

Até chegar ao veredicto final da doença, pessoas com suspeita da intolerância fazem uma verdeira peregrinação em busca de respostas e recebem os mais diversos diagnósticos. Teste genético pode ser alternativa aos exames tradicionais

14/07/2013 08:08

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Marcos Michelin/EM/D.A Press
Tatiana Marques Ribeiro e a amiga Daya Vasconcelos passaram por diferentes e equivocadas avaliações médicas antes de chegar ao teste que comprovou a intolerância (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Os testes para detectar intolerância à lactose são, em geral, desconfortáveis e geram boa parte dos efeitos colaterais abominados pelos mais sensíveis ao consumo do principal açúcar do leite. O mais comum – de hidrogênio expirado – exige que uma dose de lactose seja ingerida pelo paciente. Feito isso, passam a ser realizadas medições regulares de hidrogênio, gás que é liberado como produto da ação de bactérias que tentam quebrar a molécula de lactose no intestino grosso.

Originalmente, esse açúcar deveria ser metabolizado pela enzima lactase, que tem a produção comprometida entre os intolerantes. O resultado é que quem se submete ao exame, em geral, sente muitas dores abdominais, enjôo, flatulência e pode ter diarreia persistente por dias. Na tentativa de aliviar o desconforto, uma nova opção surge no mercado.

Desde o final do ano passado, o laboratório DLE realiza o teste por meio da coleta de material genético do paciente, conhecido como hipolactasia primária. “A enzima lactase é produzida por um gene que pode sofrer mutações e comprometer este processo. Por meio do teste genético, é possível ir direto neste gene e verificar se esta mutação existe”, explica o diretor médico e patologista clínico do DLE, Armando Fonseca. Ele garante que o procedimento é simples e pode ser feito em qualquer lugar do Brasil.

“Enviamos para a casa da pessoa o material de coleta, chamado de swab, que se assemelha a um cotonete. A pessoa realiza a coleta do material na mucosa da boca por conta própria”, detalha. O paciente então indica um médico para contato e envia o material coletado de volta para o laboratório. Em cerca de sete dias, sai o diagnóstico. Para Maria do Carmo Friche Passos, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esta pode ser mais uma opção para as pessoas que são orientadas a fazer o exame, mas não eliminará as formas tradicionais.



“Hoje o que temos são testes provocativos que têm uma resposta muito boa. Apesar de não ter tido oportunidade de realizar o exame genético, acredito que seja uma opção sofisticada”, avalia. O exame custa R$ 290. Para a estudante de nutrição Daya Vasconcelos de Barros, de 23 anos, a alternativa parece bem melhor, mesmo diante do custo, por não submeter as pessoas aos sintomas da doença. “O exame é um sofrimento”, resume. Apesar do desconforto pelo qual teve que passar, ela ficou aliviada em receber o diagnóstico positivo. Isso porque já havia passado quase 10 anos percorrendo todo tipo de médico na tentativa de identificar os motivos de seu constante mal-estar.

SUSPEITAS

Sem qualquer suspeita de que poderia ser intolerante ao açúcar do leite, Daya recebeu todo tipo de diagnóstico. “Procuraram por gastrite e até levantaram a possibilidade de ser algo psicológico”, conta. Em uma das crises mais intensas, suspeitaram inclusive de meningite. “Os sintomas são diversos. O estômago dói, a digestão é difícil, a barriga incha bastante. Sinto muita dor de cabeça e sempre tive muito refluxo”, descreve. Há dois anos, ela eliminou o leite e seus derivados da alimentação e comemora o resultado imediato. “As quantidades mínimas me fazem mal e agora não quero comer mais nada com leite. O ganho é muito grande”, garante.

Depois que a amiga descobriu o problema, a estudante de design de produto, Tatiana Marques Ribeiro, de 23, desconfiou que compartilhava da mesma deficiência. “Sempre passei mal, desde pequena. Tinha muito desconforto, mas do ano passado para cá, piorou bastante”, explica. Ela acredita que tenha se submetido há mais de 20 exames na tentativa de identificar as causas de tanto sofrimento, e nada. “Quando a Daya descobriu, comecei a reparar e percebi que tinha relação com o consumo de leite. Foi aí que levantei a possibilidade para o médico”, lembra. Feito o exame, não teve mais dúvidas. “Tomei a lactose e fique passando mal por quatro dias. Sou completamente intolerante”, concluiu.

POUCO A POUCO

Entre os intolerantes, há quem suporte uma certa quantidade de lactose no organismo. Para isso, é preciso testar pouco a pouco o resultado do consumo parcimonioso. “O tratamento começa com a eliminação completa da lactose da dieta. Há pessoas que não toleram o retorno de qualquer quantidade, mas há quem possa consumir até um certo limite”, explica a gastroenterologista Maria do Carmo Friche Passos. Quem ainda não apresentou os sintomas, não deve ficar muito animado já que a intolerância pode aparecer em qualquer fase da vida. “As reservas de lactase podem ser esgotadas”, alerta Maria do Carmo.

Alternativa ainda distante

Mudar toda a dieta é o tratamento certeiro para intolerantes à lactose. Outra alternativa seria o consumo da enzima lactase, comercializada em cápsulas. A solução, porém, ainda não é acessível a maior parte da população já que o produto não chegou às farmácias brasileiras. Para comprar, é preciso ir até o exterior ou solicitar a importação. O preço também é desanimador. Enquanto lá for a o medicamento pode custar cerca de US$ 20 (em torno de R$ 45) a caixa com 60 comprimidos, aqui não sai por menos de R$ 140. Mas pode ser uma boa alternativa para situações específicas como uma festa, na qual o intolerante terá mais liberdade para comer sem preocupação.