Fique atento às reações alérgicas extremas

Choques podem ocorrer por hipersensibilidade a medicamentos, alimentos ou picada de insetos. Além de comprometer órgãos, dependendo da gravidade levam à morte

por Augusto Pio 22/05/2013 09:20

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Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
A médica Mariana Aun alerta para as reações envolvendo analgésicos e anti-inflamatórios (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Também conhecido como anafilaxia, o choque anafilático é uma reação alérgica, de hipersensibilidade imediata e severa, que afeta todo o corpo. Sua manifestação mais grave é quando provoca inchaço e obstrução de vias aéreas superiores e a pessoa precisa receber tratamento de emergência. Entre os principais vilões do organismo e que podem provocar o choque estão medicamentos, contrastes, látex, alimentos e venenos de insetos. “Entre 15% a 20% dos casos, nem sequer descobrimos a causa. Os alimentos mais comumente envolvidos em casos de choque anafilático no Brasil são crustáceos, nozes, amendoim, clara de ovo, leite de vaca, legumes e sementes. Entre os insetos estão a vespa, o marimbondo, a abelha e a formiga. Mas a causa mais comum de reação anafilática são os medicamentos em todas as faixas de idade, principalmente analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos”, alerta a médica Mariana Aun de Oliveira, especialista em alergia e imunologia.

A anafilaxia é uma reação sistêmica aguda grave, que pode começar subitamente e que atinge vários órgãos e sistemas simultaneamente. “Os sintomas clínicos envolvem a pele e os aparelhos respiratório, gastrointestinal e cardiovascular. Eles ocorrem em graus variáveis e a reação pode culminar com o choque cardiocirculatório (choque anafilático). A característica marcante e dramática dessa condição é o risco de levar à morte uma pessoa previamente saudável em pouco tempo, seja em algumas horas ou até minutos”, alerta a especialista.

O diagnóstico de um quadro anafilático deve ser rápido para que se possa começar imediatamente o tratamento. “Ele é essencialmente clínico, isso é, de acordo com os sinais e sintomas apresentados pelo paciente. No Brasil, na maioria dos hospitais, não temos como dosar no sangue do paciente com suspeita uma enzima chamada triptase. Ela é liberada na primeira hora após a anafilaxia e pode ser detectada no sangue até no máximo quatro horas depois do evento”, explica a alergista.

Arquivo Pessoal
Diante de uma cirurgia, o anestesiologista Rodrigo Cunha recomenda o pré-teste alérgico (foto: Arquivo Pessoal)
Algumas pessoas têm um risco maior de apresentar a anafilaxia. Geralmente, as reações são mais comuns em pessoas alérgicas – a algum tipo de alimento, remédio, inseto ou fator externo, como material de limpeza e de construção ou mofo –, asmáticos, crianças e idosos. O choque é altamente provável se qualquer um dos três critérios estiverem presentes: doença de início agudo que envolve a pele, com comprometimento respiratório; dois ou mais sintomas que ocorrem logo depois da exposição a um agente que causa alergia; e redução da pressão sanguínea após a exposição a agente causador de alergia no paciente.

Não é possível prever se vamos ter uma reação tão desvastadora quanto o choque. “No caso da alergia a ferroada de inseto, as reações tendem a ser sempre semelhantes. Se o paciente apresentou apenas reação local, a tendência é de que em uma nova ferroada ele apresente a mesma situação. Pode ainda ser realizado o teste cutâneo alérgico para diagnóstico de possíveis sensibilidades. O teste é simples e rápido e deve ser sempre realizado por especialista. Ele diagnostica as reações causadas pela imunoglobulina E, o anticorpo causador das alergias. O sucesso do tratamento depende da rapidez das ações”, acrescenta Mariana Aun.

Processo tem duas origens
O anestesiologista Rodrigo Cunha Antonini explica que os tipos de reações alérgicas podem ser de origem imunológica ou não. “É muito difícil distinguir pelo quadro clínico qual deles está envolvido. Algumas vezes os dois mecanismos são desencadeados”, diz. Antonini acrescenta que as reações imunológicas têm interação específica entre o alérgeno e os anticorpos do organismo.

“A reação é desencadeada pelo próprio corpo. É como se o organismo, em contato com o pólen, algum alimento, um remédio ingerido, mofo ou a picada de um inseto reconhecesse aquele alérgeno como inimigo e passasse a atacá-lo. Surgem a vasodilatação das veias, o edema (inchaço). Então, cada vez que a pessoa entra em contato com esse ‘produto’, vai desencadear o processo de reação”, explica. Esse processo anafilático, em quadros extremos, pode levar ao choque.

EM/ DA PRESS
(foto: EM/ DA PRESS)
“Já as reações não imunológicas estão ligadas quase sempre a uma resposta do organismo a algum medicamento que a pessoa consumiu ou recebeu. Dependendo da quantidade ministrada – de uma pílula, um contraste ou uma anestesia – e da velocidade de infusão no corpo, ocorre a liberação direta de histamina (presente nas células), ativando a sintomatologia da alergia. Quando grave, leva ao choque também e não necessita de uma ocorrência prévia para acontecer”, acrescenta o médico. Ele explica que a histamina promove dilatação dos vasos sanguíneos, broncoconstrição (fechamento dos brônquios pulmonares), alteração na frequência cardíaca, arritmias no coração e edema no corpo.

No entanto, ele esclarece que as medicações evoluíram muito e muitas das substâncias que causavam grande parte das reações foram sendo excluídas da composição de muitas drogas anestésicas, mas há casos de reações graves em pacientes em ambientes não preparados para tratar o possível choque ou que têm um diagnóstico tardio. “Isso, sim, pode levar o paciente à morte. É muito raro, mas acontece nos melhores hospitais do mundo. O mais comum são as reações leves e prontamente tratadas, mas não podemos descartar a possibilidade de um colapso generalizado e fora de controle. O objetivo do relato não é assustar a população, e sim mostrar a realidade e a importância de escolher profissionais e instituições preparados para atendê-la, com consultas pré-anestésicas antes de qualquer cirurgia para detectarmos riscos em potencial e programarmos a anestesia adequada para cada paciente”, ressalta o médico.