Pessoas com esclerose múltipla enfrentam o desafio de conter a redução da massa cinzenta

Doença pode incapacitar o organismo e comprometer a qualidade de vida, mas remédios orais mostram-se menos agressivos para os pacientes

por Thaís Cieglinski 21/05/2013 09:02

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Gustavo Moreno / CB / DA Press
Portadora da doença, a bancária Carina Araújo usa o primeiro remédio oral para a esclerose: menos agressivo (foto: Gustavo Moreno / CB / DA Press)

Basileia (Suíça) — Rugas, alterações hormonais, queda do metabolismo, cabelos brancos. O processo natural de envelhecimento provoca uma série de mudanças na vida das pessoas, mas não é apenas o corpo que sofre as consequências do avanço da idade. Ao longo dos anos, a atividade do cérebro também começa a se reduzir, como consequência da morte lenta e gradual dos neurônios. Para quem sofre de doenças neurodegenerativas, no entanto, esse processo se dá de forma mais acelerada, o que inquieta médicos e cientistas. A preocupação aumenta quando o assunto são as enfermidades que atingem os mais jovens, em especial a esclerose múltipla (EM). Estima-se que esse mal atinja 2,5 milhões de pessoas no mundo, 30 mil no Brasil.

“A atrofia cerebral ocorre desde muito cedo em pacientes com a doença, ou seja, eles passarão o resto da vida perdendo neurônios de forma acelerada se nada for feito para frear o processo”, alerta o neurologista André Matta, professor da Universidade Federal Fluminense. Nas pessoas saudáveis, a redução varia de 0,1% a 0,3% a cada ano. Já nos portadores de EM, a taxa gira entre 0,5% e 1%, velocidade três vezes superior. “O processo está diretamente ligado ao nível de comprometimento dos pacientes e pode ser medido por meio de ressonância magnética”, explica Till Sprenger, pesquisador do Hospital Universitário da Basileia.

De acordo com os médicos, toda perda de volume cerebral gerada por doenças neurodegenerativas merece atenção, mas no caso da EM, o quadro é ainda mais preocupante, uma vez que ela atinge preferencialmente pessoas jovens. A primeira manifestação da doença costuma ocorrer entre 20 e 40 anos.

Na esclerose múltipla, a redução da massa cinzenta se dá por meio de inflamações do tecido cerebral ou medular. Nesses episódios, a mielina – substância que envolve e protege os neurônios – é danificada ou destruída e são formadas cicatrizes que impedem a transmissão dos impulsos nervosos. A depender da região afetada pelo surto, diversos sintomas podem se manifestar, entre eles problemas motores, sensitivos e psicológicos.

Anderson Araujo / CB / DA Press
Ameaça Iminente: a esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativo, com incidência maior em mulheres jovens. Por uma falha do sistema imunológico, a bainha de mielino - substância que recobre e isola os neurônios - é identificada como um agressor e passa a ser atacada. Áreas do cérebro, cerebelo, do tronco encefálico e da medula espinhal são afetadas por inflamação. Os surtos são períodos de sintomas neurológicos muito intensos e bem definidos que se intercalam com períodos de estabilidade. Até o momento, a causa da doença é desconhecida, assim como a cura (foto: Anderson Araujo / CB / DA Press)


Remédios

Apesar de ainda não haver cura para a EM, os pacientes que têm a doença são tratados com drogas que têm como objetivo reduzir as inflamações e, por consequência, a perda de neurônios. Os tratamentos disponíveis encaixam-se em duas categorias: sintomáticos e terapias modificadoras. Na última, estão os medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde: betainterferona, glatiramer e natalizumabe – todos injetáveis. No entanto, nem todos os remédios usados para controlar a doença são eficazes no combate a esse processo. É o que aponta estudo desenvolvido pelo neurologista Sven Schippling, pesquisador do Hospital Universitário de Zurique. De acordo com a pesquisa, apesar de reduzirem a quantidade de surtos, essas drogas não conseguem conter a atrofia logo que começam a ser ministradas. Apenas a partir do segundo ano de tratamento os remédios passam a desacelerar também a perda de volume cerebral.

O único que se mostrou eficiente, desde o início, para barrar esse processo foi o fingolimode, primeiro medicamento oral contra a esclerose múltipla. A substância reduziu a taxa de reincidência anual em 61% quando comparada ao interferon beta 1a – droga comumente receitada como primeira opção –, de acordo com estudo liderado por Jeffrey Cohen, do Instituto de Neurologia de Cleveland, nos Estados Unidos.

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Perda de massa cinzenta é precoce e tem ligação com o grau de comprometimento do paciente (foto: Anderson Araujo / CB / DA Press)


Segundo Schippling, diferentemente das pessoas acometidas por males como Alzheimer e demência, a maior parte dos portadores de EM é jovem, ou seja, sofrerá a perda neural por um período muito mais prolongado.

Hematomas

Quem sofre as consequências da esclerose múltipla (EM) também se preocupa com o processo de atrofia. Cansada dos hematomas que os medicamentos injetáveis deixavam pelo corpo e da dor de cabeça depois das aplicações oara controlar a esclerose, a bancária Carina Araújo, de 31 anos, optou por trocar de remédio ao saber da chegada do fingolimode ao país. “Descobri a doença há quatro anos, quando perdi temporariamente o movimento de um dos braços”, conta. Depois disso, ela sofreu um novo surto, quando ficou com parte da visão do olho direito comprometida. Desde que passou a usar o remédio, não teve mais crises.

Anderson Araujo / CB / DA Press
Conheça os sintomas mais frequentes (foto: Anderson Araujo / CB / DA Press)