Aneurismas matam 6,5 mil pessoas por ano e estão ligados à hipertensão e ao tabagismo

Cirurgia endovascular vem ganhando espaço por ser menos invasiva que a operação convencional

por Augusto Pio 10/04/2013 11:23

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Arte: Marcelo Monteiro e Walf
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Cerca de 6,5 mil pessoas morrem anualmente no Brasil por aneurisma. O maior número está na Região Sudeste. Dados do Ministério da Saúde indicam que em 2010 foram 6.680 óbitos, dos quais 4.016 no Sudeste, seguido do Sul do país, com 1.063 registros. Centro-Oeste e Norte tiverem os menores números, com 456 e 168, respectivamente. Nos anos anteriores, 2009 e 2008, o Brasil registrou 6.419 e 6.413 mortes.

O problema é caracterizado por um enfraquecimento da parede arterial ou de uma sobrecarga dela. A dilatação localizada e permanente da artéria é considerada um aneurisma quando é maior do que 50% do seu diâmetro normal. Os tipos mais comuns são o aneurisma cerebral, o da aorta abdominal e o da aorta torácica. Há algumas doenças que predispõem a formação dos aneurismas, como rins policísticos, coarctação de aorta e displasia fibromuscular, e são raros os casos congênitos. Segundo especialistas, um dos principais fatores de risco para o surgimento do problema é o fumo, mas há outros, como o consumo abusivo de álcool e drogas como a cocaína. Outro dado é que mais de 50% dos pacientes com aneurisma são hipertensos.

No caso dos aneurismas cerebrais, um dos tratamentos que vêm ganhando espaço na medicina é a cirurgia endovascular, por ser considerada menos invasiva que a convencional aberta, quando é feita a abertura no crânio. “Esse tratamento vem sendo cada vez mais usado e estudos mostram que ele é bastante eficaz, com menor risco em relação à cirurgia aberta, principalmente nos casos de aneurisma roto (hemorragia cerebral). Os materiais para tratamento endovascular têm evoluído constantemente, como as micromolas (de diferentes formas e tamanhos), stents, microcateteres e microguias”, explica o neurocirurgião endovascular Francisco de Lucca Jr.

Quando o médico opta pela cirurgia convencional, ele abre o crânio do paciente, localizando e expondo o aneurisma. Na sequência, o exclui com um pequeno pregador que se chama clipe cirúrgico. No caso da cirurgia endovascular, ou embolização, a oclusão do aneurisma se dá por meio de um catéter. Nesse caso não há abertura do crânio, pois a cirurgia é realizada na maioria das vezes pela virilha (por meio da artéria femoral). Um catéter passa pelas artérias até chegar ao interior do aneurisma. Daí são injetados espirais chamados de coils (micromolas, na tradução do inglês), que permanecem no interior do aneurisma, diminuindo a circulação e pressão do sangue por ali (veja infografia).

O aneurisma cerebral é a dilatação anormal das artérias do cérebro, principalmente nas que existem na base dele. “O aneurisma se origina quando ocorre um defeito na parede da artéria. O quadro clínico típico é uma dor de cabeça súbita e extremamente forte. Isso ocorre porque a dilatação progressiva do aneurisma vai deixando a parede cada vez mais fina, até que ela não resiste e se rompe. Esses casos são extremos e muitas vezes levam à morte”, acrescenta o neurocirurgião Lucca Jr.

Além de dor de cabeça, a pessoa pode ter alterações de consciência, desorientação, crise convulsiva, paralisias e coma. Nos casos dos aneurismas que não romperam, a maioria deles é assintomático, podendo ocorrer dor de cabeça localizada, compressão de nervos oculares, levando a alterações da visão, estrabismo e visão dupla. No caso de um aneurisma grande, os distúrbios relatados são de sensibilidade e comprometimento de movimentos da pessoa.

RUPTURA
A maior complicação dos aneurismas é sua ruptura, causando hemorragia severa. “Embora tenha potencial para aparecer em qualquer vaso, torna-se extremamente importante localizar um aneurisma no cérebro e na maior artéria do organismo, a aorta, em seus segmentos torácico e abdominal, devido às lesões que uma ruptura pode provocar no corpo”, diz o cardiologista e clínico geral José Raimundo Caiaffa. Quando os aneurismas se rompem, deixando o paciente em estado grave, podem levar à morte em 30% a 40% dos casos. “Entre 20% e 35% dos pacientes evoluem desse estágio, mas ficam com sequelas moderadas a graves, e entre 15% e 30% dos casos evoluem bem com mínima ou nenhuma sequela”, acrescenta Francisco de Lucca Jr.

Personagem da notícia
Fernanda Azevedo Figueiredo de 35 anos, médica cardiologista

Susto e dor súbita
Ela seguia para o trabalho quando sentiu uma forte dor de cabeça, de início súbito e associada a náuseas e vômitos. Procurou atendimento médico-hospitalar em Belo Horizonte e foi avaliada por um neurologista. Na sequência, a médica cardiologista Fernanda Figueiredo foi submetida a uma tomografia computadorizada do crânio que mostrou uma hemorragia cerebral à direita. Em seguida, foi indicada a realização de uma angiografia cerebral de urgência. O exame mostrou um aneurisma cerebral roto em artéria cerebral média direita. “Foi indicado o tratamento com a embolização do aneurisma, realizado com sucesso, dispensando a cirurgia convencional, que é muito mais agressiva e com maior risco de sequelas. Permaneci por 11 dias no CTI, devido à hemorragia cerebral, mas tive uma excelente recuperação, graças a Deus e à toda equipe do hospital. Não tive sequelas e pude retornar normalmente às minhas atividades, sem restrições, inclusive aos exercícios físicos, atividades profissionais como médica e à dedicação ao meu filho de 3 anos.” Dezoito meses depois da embolização do aneurisma, Fernanda recebeu do neurocirurgião a notícia de que não precisa mais realizar exames de angiografia de controle e que pode, inclusive, engravidar novamente.

Diagnóstico preventivo é difícil

“A evolução do aneurisma é lenta, progressiva e praticamente não causa nenhum sintoma específico, o que torna extremamente difícil seu diagnóstico preventivo. É sabido que alguns fatores podem estar ligados ao aparecimento dessa má-formação vascular: o tabagismo, a obesidade, os níveis aumentados de colesterol, o diabetes, a hipertensão arterial e o estresse”, comenta o cardiologista José Raimundo Caiaffa, esclarecendo que o problema é mais frequente nos homens e os mesmos fatores de risco de surgimento de aneurismas cerebrais se aplicam aos da aorta abdominal. “Da mesma maneira, não causam nenhum sintoma e podem ser percebidos em indivíduos mais magros em função do aparecimento de uma pulsação que acompanha o ritmo cardíaco no abdômen desse paciente.”

Raimundo Caiaffa ressalta ainda que, de modo geral, o crescimento do aneurisma é lento e pode ser acompanhado pelo ultrassom, tomografia ou ressonância magnética. “Os aneurismas com até 5cm de diâmetro podem ser acompanhados clinicamente e os maiores que esses, devido à grande possibilidade de se romperem, devem ser tratados cirurgicamente. No caso do aneurisma abdominal, os procedimentos são a cirurgia convencional, que se dá pela abertura do abdômen, colocação e sutura de prótese na aorta abdominal, em toda a extensão do aneurisma; e o implante de endoprótese, que se faz pela introdução da prótese por meio de cateterismo pela artéria femural, sendo o material protético colocado no interior da aorta com o problema. O que vai determinar a escolha do método a ser usado é a viabilidade anatômica da fixação da endoprótese no local do aneurisma. E isso vai variar de pessoa para pessoa”, explica Caiaffa.

A principal forma de prevenir um aneurisma é diminuir os fatores de risco, como não fumar, não usar drogas e fazer um controle rigoroso da pressão arterial, principalmente as pessoas que já detectaram alguma alteração. “Se for diagnosticado um pequeno aneurisma e optar-se por não tratar, o paciente deve realizar exames periódicos para avaliar o crescimento dele”. O médico explica que, quando o aneurisma se rompe, o diagnóstico do sangramento é feito principalmente pela tomografia de crânio. “Em casos específicos pode-se fazer a punção lombar e retirada do líquido que envolve o cérebro e medula. No caso de confirmação do sangramento, que é chamado de hemorragia subaracnoide, são feitos exames para detectar a causa, sendo: angiotomografia e principalmente a angiografia cerebral (cateterismo das artérias do cérebro) feito através da virilha. Os aneurismas que não romperam, como na maioria da vezes são assintomáticos, são descobertos por exame de ressonância magnética cerebral, feita com outros objetivos ou no caso de histórico familiar positivo para aneurisma.”