Viajar para participar de corridas de rua atrai cada vez mais brasileiros

Depois da prova, chega a hora de curtir um pouco mais as cidades

por Alfredo Durães 09/04/2013 14:11

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AFP PHOTO / FRED DUFOUR
No início de abril, maratona de Paris reuniu corredores mineiros interessados não só na atividade física (foto: AFP PHOTO / FRED DUFOUR )

Suar em bicas e depois desfrutar do bendito lazer. Assim estão agindo muitos adeptos de corridas de rua que viajam para participar de provas no Brasil e no mundo. Uma esticada antes e outra depois das competições permitem que os atletas façam turismo e conheçam mais o lugar visitado. No dia 7 de abril, um grupo de cinco pessoas de Belo Horizonte participou da Maratona de Paris.

No dia 20 deste mês, serão 80 participantes da capital mineira que estarão em Florianópolis para correr a Volta à Ilha, a maior prova de revezamento da América Latina, que tem um percurso de, pasmem, 140 quilômetros. A água de coco e a s praias de Floripa estarão aguardando os participantes. Agências especializadas em enviar corredores para várias partes do mundo não têm do que reclamar, já que o número de clientes só cresce. Conheça a opinião de quem vive para correr e as principais competições no Brasil e no mundo.

Com asas nos pés
HF/divulgacao
Espírito de competir move o mineiro Heleno Fortes: ele participou no último domingo da Maratona de Paris, que atraiu quase 40 mil pessoas de todo o mundo (foto: HF/divulgacao)
Tem gente que não somente corre para pegar o avião, como pega o avião para correr. Literalmente. O professor de educação física de Belo Horizonte Heleno Fortes, de 40 anos, se encaixa com perfeição nesse perfil. Assim como milhares de brasileiros aficionados por corridas de rua, ele fica de olho no calendário esportivo para participar de provas no Brasil e no mundo. São maratonas (42 quilômetros de suor), meias-maratonas ou corridas nos mais distintos percursos. Há inclusive as chamadas ultramaratonas, como a Comrades, na África do Sul, no mês de maio, que tem distância de – haja fôlego! – 89 quilômetros.

Na quinta-feira, Fortes embarcou com um grupo de cinco pessoas de Belo Horizonte para participar da Maratona de Paris deste ano. Nenhum dos integrantes do grupo tinha intenção (ou ilusão) de ser o primeiro colocado, aquele que rompe a fita de chegada, gloriosamente escoltado por batedores da polícia em motocicletas (a honra coube ao queniano Peter Some e à etíope Boru Tadese).


Mas por que, mesmo sem chances de vencer, os atletas viajantes participam? A resposta pode estar na essência do famoso bordão usado pelo francês Pierre de Frédy, o barão de Coubertin, pai dos modernos Jogos Olímpicos: “O importante não é ganhar, o importante é competir”. Frase que – além de bem contestada – teria sido copiada de um brasileiro. Mas isso é outro assunto.


Com 40 anos de idade e um vasto currículo de participação em corridas pelo mundo, Heleno Fortes – também pós-graduado em treinamento esportivo – afirma que a atividade de corredor “é um estilo de vida”. Segundo ele, une a prática de atividade física com turismo e interação. Ele mesmo ficará quase uma semana em Paris para aproveitar mais os encantos da cidade. “As pessoas participam das corridas, aproveitam as atrações turísticas e interagem com o grupo. Ninguém tem a ilusão de bater atletas profissionais. Vamos mesmo para competir”, assinala.


Fortes é do ramo e vive disso. Entre 1993 e 2004, ele foi triatleta profissional, um daqueles caras que nadam por quilômetros, pedalam outros tantos e correm uma enormidade, tudo na mesma prova. Já há alguns anos é diretor da HF Treinamento Esportivo (www.hftreinamentoesportivo.com.br), empresa de Belo Horizonte que tem como meta “ajudar pessoas que querem melhorar sua qualidade de vida, praticando uma atividade física segura e saudável”, segundo consta no site da empresa.

E viajar para correr é com ele mesmo, sempre acompanhado de amigos ou alunos. E já foi o melhor corredor brasileiro nas maratonas de Boston em 2012, Berlim 2011 e Chicago 2009. Sua melhor marca em maratonas foi em Buenos Aires 2010, quando correu os 42 quilômetros em duas horas, 34 minutos e 17 segundos. De acordo com Fortes, há consenso de que as corridas “top five” (cinco melhores do mundo) são as maratonas de Berlim (em setembro), Londres e Boston (abril), Chicago (outubro) e Nova York, em novembro (a mais badalada do mundo, com 40 mil participantes).


No Brasil, no hall das importantes, ele cita a Meia Maratona Internacional de BH, Corrida da Tribuna, em Santos (10 quilômetros), São Silvestre, em São Paulo (15 quilômetros), Meia Maratona de Foz do Iguaçu, Meia Maratona Golden Four Asics, no Rio de Janeiro, a Maratona Internacional do Rio de Janeiro e a Maratona de Porto Alegre, entre outras provas.
Viajar para competir não é um hobby (se é que pode ser chamado assim) barato, principalmente se tratando de deslocamentos para o exterior. Além do preço de inscrição (a maratona de Nova York, por exemplo, custa cerca de US$ 200), há os gastos com a viagem. Para participar da Maratona de Paris e, de quebra, ficar uns dias na capital francesa, ele desembolsou R$ 4,5 mil.

REUTERS/Jessica Rinaldi
Corredores da maratona de Nova York atravessam a Verrazano Bridge (foto: REUTERS/Jessica Rinaldi )


Correr, correr e passear

Há dois anos, o ex-jogador de vôlei profissional e triatleta Lucas Raabe Gomes fundou a All Sports Travel (www.allsportstravel.com.br), agência de turismo em Belo Horizonte que leva clientes para participar de eventos no Brasil e no mundo, principalmente corridas de ruas. No dia 20, ele levará 80 pessoas para correr a Volta da Ilha, em Florianópolis, “a maior prova de revezamento da América do Sul”, de acordo com ele. Cada integrante vai desembolsar R$ 1,6 mil para três dias de estada, traslados e passagens aéreas. Lucas diz que tanto as viagens nacionais quanto as internacionais para competir estão em alta, sendo que sua agência tem uma demanda de 50% para provas no Brasil e o outro tanto para o exterior.


“Como as condições para as pessoas viajarem ficaram melhores e o número de praticantes de corridas tem aumentado muito, esse nicho de mercado acompanhou o crescimento”, avalia. No quesito gênero, ele diz que mulheres e homens também dividem a participação. O grupo para Florianópolis quase reflete essa avaliação: entre os 80 participantes, 35 são do sexo feminino. “As pessoas também aproveitam para fazer turismo. Nas provas internacionais, os clientes ficam em média cinco dias para conhecer as atrações do lugar ou próximas”, conta. No site da empresa estão corridas como a Maratona da Cidade do Rio de Janeiro, em 7 de julho. O pacote de dois dias, com um de hospedagem, traslados (inclusive para a corrida), guia e passagens aéreas, custa a partir de cinco vezes de R$ 170, sem juros.


São Paulo

 X Travel/divulgacao
Corrida animou Ana Maria Coltro a criar agência para transportar esportistas (foto: X Travel/divulgacao )
A agência de viagens X Travel, de São Paulo, está há 35 anos no mercado e há 20 explora o nicho de corridas no mundo. A responsável pela introdução da especialidade foi a diretora da empresa, Ana Maria Coltro. Depois de correr na Maratona de Nova York em 1992, ela sentiu que o Brasil carecia de uma empresa que levasse os atletas para tais eventos. Ana diz que, há duas décadas, o número de pessoas que procuravam esse tipo de pacote era ínfimo, se comparado aos dias atuais.

Ela conta que, além de o número de interessados ter crescido substancialmente, a sofisticação seguiu pela mesma trilha. “Temos clientes que levam junto uma equipe, com técnico, massagista e nutricionista.” A empresa atende tanto grupos quanto corredores individuais, sendo que a maioria aproveita para ficar também uns dias a mais e fazer o mais puro turismo. “Mas temos também aqueles que vão somente participar da prova e voltam no outro dia”, contou.


No portfólio da X Travel estão alguns pacotes internacionais com quatro noites em apartamento duplo. São as provas de Amsterdã, em 21 de outubro a partir de 479 euros; Berlim, 29 de setembro a partir de 684 euros, e Chicago, 13 de outubro a partir US$ 650. Esse preços são somente para a parte terrestre. No site (www.xtravel.com.br) há um total de 15 provas internacionais em 2013.

O motor de Mister Bus

Ricardo Teixeira/Divulgacao
O educador de trânsito Ricardo Teixeira corre desde 1982 e aproveita para fazer campanha educativa de trânsito (foto: Ricardo Teixeira/Divulgacao )
Ricardo Teixeira, de 47 anos, é um dos grandes entusiastas das corridas de rua em BH. Também (ou muito mais) conhecido como Mister Bus, trabalha como educador de trânsito na empresa que gerencia o tráfego na capital mineira, a BHTrans. Ele diz que desde a infância, na cidade de João Monlevade, é apaixonado por ônibus e já criou vários guias do transporte coletivo na capital mineira. Sempre participa de campanhas educativas no trânsito por força de seu emprego ou de forma voluntária. No site www.misterbus.com.br ele dá dicas no Guia do corredor e mantém atualizada uma agenda com todas as corridas no país.


Mister Bus, corredor desde 1982, já participou de provas importantes como a Maratona de BH, Maratona do Rio, Maratona de Blumenau, Meia Maratona do Rio, Volta da Pampulha, São Silvestre e as do Circuito O2 por Minuto que são em BH e uma prova em Brasília. Ele calcula que participa de cerca de 45 provas por ano, a grande maioria na capital mineira. “Desde 2008, BH é palco de várias corridas de rua, sendo que em cada fim de semana se realizam duas ou três competições”, disse. Em todas as corridas de que participa, logo é notado, não por seu desempenho, mas pela figura de um ônibus feito de cartolina que carrega na cabeça.


Para participar de provas fora da capital, Mister Bus diz que economiza dinheiro se hospeda em pousadas mais em conta. “Sempre que dá vou de ônibus de carreira para a viagem ficar mais barata. Ir em grupo também diminui os custos. E é claro que aproveito para fazer turismo. Dá para aproveitar antes, durante e depois das provas. Correr é uma das coisa que movem minha vida”, disse.

Idade não é documento

Cataratas do Igaucu S/A /Divulgacao
Renê Jerônimo, de 73 anos, vai correr 12 vezes só este ano. Em maio, participa pela segunda vez da Meia Maratona das Cataratas (foto: Cataratas do Igaucu S/A /Divulgacao )
Ao que parece, não há limites de idade para corredores. Um exemplo é Renê Jerônimo, de 73 anos, morador da famosíssima – e não menos turística – Ilha de Fernando de Noronha (PE), para onde se mudou em 1958, saindo de Natal, onde nasceu. Há algumas décadas ele é adepto do esporte, mas foi há oito anos que começou a competir em provas oficiais. O aposentado já foi pescador, técnico de máquina e motores e piloto náutico e diz que sempre arranjou um tempo para correr depois do trabalho.

Em 2012 ele participou de 18 corridas no Brasil e este ano pretende correr em 12. Maratonas e meias-maratonas estão em seu currículo, além de provas em circuitos diversos. Ele já correu em São Paulo, Rio de Janeiro, Natal, Fortaleza, Aracaju, Florianópolis e em Belo Horizonte, na Volta da Pampulha em 2011, entre outras localidades. Em maio, no dia 26, ele vai participar pela segunda vez da Meia Maratona das Cataratas, em Foz do Iguaçu, que terá sua sétima edição.


Mesmo que a grande maioria de suas corridas seja bancada por ele mesmo, nesta edição da prova de Foz e na do ano passado seu Renê correu como convidado da Econoronha, uma filial da empresa Cataratas do Iguaçu S/A. Em 2012, ele chegou na 697ª posição (entre 2,5 mil corredores) com o tempo de 1h54min07s, fazendo uma média de cinco quilômetros por hora. A corrida integra a Liga de Ouro de Corridas de Rua do Brasil. “Ano passado eu corri com três blusas, luvas e gorro, pois fazia cerca de três graus na hora da largada. Mesmo assim, fiquei fascinado com as cataratas e a cidade. Aquilo é tão bonito que a gente nota que tem o dedo de Deus”, afirmou.


Ao contrário de muitos que unem a corrida ao turismo pleno, seu Renê diz que as viagens o atraem muito mais pelo prazer de competir e também pela oportunidade de conhecer outros atletas. “Hoje tenho mais de 2 mil amigos atletas”, assegura, acrescentando “que conhecer lugares diferentes também é muito bom.” Ele conta que guarda, com algum esforço, dinheiro para participar das provas. “Mas me sinto plenamente realizado. Quando comecei a correr aqui na ilha, quase ninguém me acompanhava. Hoje temos um grupo de 60 pessoas”, assegurou.


Os interessados em se juntar ao seu Renê na Meia Maratona das Cataratas, podem fazer a inscrição no site da competição (www.meiamaratonadascataratas.com.br). O valor para março e abril é R$ 90. Em maio a inscrição custará R$120.

 

 

AFP PHOTO/YASUYOSHI CHIBA
(foto: AFP PHOTO/YASUYOSHI CHIBA )
Top Five do Brasil*

 

Volta à Ilha Florianópolis
20 de abril (sábado)
Prova de revezamento
140 quilômetros em volta da ilha
www.ecofloripa.com.br/voltailha/

Meia Maratona RJ
18 de agosto (domingo)
21.097 metros de São Conrado até o Aterro
 do Flamengo
meiamaratonadoriodejaneiro.com.br

Track&fields Run Series
Várias datas no ano, em
diversas cidades
Corrida de rua, individual
10 quilômetros
tfrunseries.com.br

Ilha Bela Terra e Mar
16 de maio (quinta-feira)
Prova de revezamento
107 quilômetros, com mais 2,5 mil
metros de natação no mar
www.corpore.org.br/

São Silvestre
31 de dezembro (terça-feira)
Corrida de rua, individual
15 quilômetros na capital paulista
saosilvestre.com.br

 

 

REUTERS/Benoit Tessier
(foto: REUTERS/Benoit Tessier)
Top Five do mundo*

 

Boston
15 de abril (segunda-feira)
boston.com/sports/marathon

Londres
21 de abril (domingo)
londonmarathonroute.co.uk

Chicago
13 de outubro (domingo)
chicagomarathon.com

Nova York
3 de novembro (domingo)
www.ingnycmarathon.org/

Berlim
29 de setembro (domingo)
bmw-berlin-marathon.com/em

 

*Ranking da HF Treinamento Esportivo