Clássicos da literatura voltam ao mercado em edições comemorativas e novas traduções

Confira abaixo alguns relançamentos

por Nahima Maciel 24/05/2019 09:09
Quinho/EM/D.A.Press
(foto: Quinho/EM/D.A.Press)

Crime e castigo, Matadouro-Cinco e O apanhador no campo de centeio em novas traduções. Grande sertão: veredas com uma revisão que recupera palavras alteradas com os acordos ortográficos. Os dois volumes de O segundo sexo em capa dura, acompanhados de um caderno de textos de pesquisadoras e ativistas brasileiras e uma edição revisada de O jogo de amarelinha. O primeiro semestre de 2019 está generoso com os clássicos da literatura. Os tempos de crise podem não ser bons para o mercado editorial apostar em novos nomes, mas há uma leva de boas reedições aportando nas editoras. É um bom momento para avançar no desafio dos 100 livros para ler antes de morrer, porque todos estão nessa lista. Confira os relançamentos.

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CRIME E CASTIGO
• De Fiódor Dostoievski
• Tradução: Rubens Figueiredo
• Todavia
• 604 páginas
• R$ 74,90

Em nova tradução de Rubens Figueiredo, o clássico de Dostoievski conta o drama de um estudante que se acha no direito de cometer assassinato para se livrar de dívida porque simplesmente acredita estar predestinado a uma vida especial. Raskolnikov, que passa boa parte do romance tentando convencer o leitor da razoabilidade de seus atos, é também um passeio pelos dramas das metrópoles do século 19. O livro foi escrito em São Petersburgo, em 1865, e por ele desfilam personagens recorrentes no universo de Dostoievski, que são também figuras típicas de uma época e de um momento histórico. Rubens Figueiredo leu o romance pela primeira vez na adolescência e, há 20 anos, leu novamente a tradução de Paulo Bezerra feita para a Editora 34, a primeira diretamente do russo publicada no Brasil. “Há uma espécie de mitologia que envolve o romance e que se desenvolve ao longo do tempo. Agora, ao fazer a minha tradução, creio que vi o livro com outros olhos, mais ponderados e mais próximos da realidade histórica, espero”, diz o tradutor. Para ele, o grande desafio do trabalho foi a pressão da oralidade, da língua falada, muito evidente no original russo. “Não me refiro propriamente a gírias ou à linguagem informal, mas sim ao esforço para reproduzir a fala concreta das pessoas. Mesmo quando se trata do pensamento puro, colhido em estado bruto. Nisso se manifesta o influxo do teatro no romance de Dostoiévski, um elemento até estrutural em sua obra, me parece”, explica.

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GRANDE SERTÃO: VEREDAS
• De João Guimarães Rosa
• Companhia das Letras
• 558 páginas
• R$ 84,90

Para comemorar os 63 anos do romance de João Guimarães Rosa, a Companhia das Letras lançou duas edições. Uma delas, de luxo e com a capa bordada, teve os 63 exemplares esgotados rapidamente. A outra vem acompanhada de textos críticos assinados por Walnice Nogueira Galvão, Roberto Schwarz, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Benedito Nunes, Davi Arrigucci Jr. e Silviano Santiago. O texto também foi revisado e, segundo o editor Érico Melo, foram feitas 115 alterações para recuperar termos alterados por acordos ortográficos. “Queríamos resgatar, principalmente, os acentos que as reformas ortográficas tinham eliminado. São importantes porque são marcadores das mudanças de voz e da própria pesquisa de Guimarães Rosa, principalmente os neologismos que ele criou. As palavras pouco usuais ou inventadas entraram no nosso foco para terem a grafia original restituída. Guimarães Rosa era radicalmente contrário ao acordo ortográfico, sentia que o trabalho dele estava sendo atacado nesse sentido”, conta Melo.

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O JOGO DA AMARELINHA

• De Julio Cortázar
• Tradução: Eric Nepomuceno
• Companhia das Letras
• 592 páginas
• R$ 109,90

Clássico de Julio Cortázar ganha nova edição programada para o início de junho. O romance é considerado um dos mais experimentais da literatura latino-americana e ficou marcado pelas experiências com a subjetividade dos leitores, que são estimulados e interferir na ordem cronológica dos capítulos e a arriscar uma leitura aleatória. Publicado em 1963, o relato de amor entre um intelectual argentino no exílio e uma misteriosa uruguaia, ao acaso das ruas e das pontes de Paris, é um marco da literatura do século 20. “A verdade, a triste ou bela verdade, é que cada vez gosto menos de romances, da arte romanesca tal como é praticada nestes tempos. O que estou escrevendo agora será (se algum dia eu terminar) algo assim como um antirromance, uma tentativa de romper os moldes em que esse gênero está petrificado”, escreveu Julio Cortázar numa carta de 1959, quando iniciava a escrita do que viria a ser O jogo da amarelinha.

O APANHADOR NO CAMPO DO CENTEIO
• De J. D. Salinger
• Tradução: Caetano W. Galindo
• Todavia
• 256 páginas
• R$ 59,90

É um romance revolucionário do século 20, representação marcante da juventude na literatura. Com mais de 70 milhões de cópias vendidas desde o lançamento, em 1951, o livro influenciou e marcou gerações com uma visão crua da adolescência, prosa ágil e desbocada e humor feroz e anárquico. Programado para chegar às livrarias em junho e com a mesma capa da primeira edição, o romance de formação de J. D. Salinger retorna às prateleiras brasileiras com nova tradução, assinada por Caetano W. Galindo. Conta a escapada rebelde de Holden Caulfield, adolescente de família rica que decide vagar por Nova York após ter sido expulso da escola.

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MATADOURO-CINCO

• De Kurt Vonnegut
• Tradução: Daniel Pellizzari
• Intrínseca
• 288 páginas
• R$ 44,90

No prefácio da nova tradução de Daniel Pellizzari em comemoração aos 50 anos do romance, Antonio Xerxenesky avisa que Kurt Vonnegut é um autor acessível e de fácil leitura, mas que isso não implica superficialidade ou banalidade. Matadouro-Cinco se tornou um clássico por vários motivos. Não foi apenas o fato de nenhum autor alemão ter escrito sobre o massacre de Dresden, cujo saldo ultrapassa 100 mil mortos, mas o quão emblemático de uma época é o romance de Vonnegut. Alienígenas delirantes e memórias da guerra se mesclam para narrar uma ficção científica em que convivem várias dimensões. O personagem Billy Pilgrim transita entre dimensões enquanto relembra a guerra. É sério, mas é também um delírio necessário para não enlouquecer. Para representar o que não pode ser representado, Vonnegut recorre ao fantástico. Sobrevivente do bombardeio de Dresden – depois de capturado pelos alemães na Bélgica, ficou preso com companheiros em um matadouro enquanto as bombas destruíam a cidade alemã –, o autor mergulha na própria experiência para depois embarcar em uma metáfora ancorada na ficção científica.

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O SEGUNDO SEXO

• De Simone de Beauvoir
• Tradução: Sérgio Milliet
• Nova Fronteira
 • Box com 2 volumes
• 936 páginas
• R$ 169,90

A obra mais importante de Simone de Beauvoir chega aos 70 anos com um vigor que Sylvie Le Bon de Beauvoir, herdeira e editora da autora, acredita relevante para o feminismo no mundo. “O segundo sexo ainda tem muito que dizer às mulheres. O fato de que não se para de traduzi-lo para as línguas mais variadas ao redor do mundo é uma prova indireta disso”, disse ela, em entrevista publicada em caderno anexo que acompanha a caixa com dois volumes em capa dura reeditados pela Nova Fronteira. No material, há textos de Mary del Priore, Djamila Ribeiro, Marcia Tiburi e Mirian Goldenberg sobre a atualidade da obra e o impacto da leitura em suas vidas. Em Fatos e mitos, o primeiro volume de O segundo sexo, Beauvoir traz o tema da condição feminina analisada sob os aspectos histórico e biológico. No segundo, A experiência vivida, são as fases da vida que ela debulha ao falar da infância, da iniciação sexual, do casamento, da paixão e do envelhecimento. Esse volume traz a famosa frase “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, uma espécie de síntese de uma parte inteira dedicada à formação da mulher.