Reino vegetal da poesia

por 22/11/2014 00:13
Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Ramon Lisboa/EM/D.A Press (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Carlos Herculano Lopes



Formada em psicologia pela PUC Minas, com especialização em psicanálise e uma velha paixão pela escrita, que começou a exercitar ainda na adolescência, porque “se sentia muito sozinha”, Paula Vaz faz sua estreia na literatura com Não se sai de árvore por meios de árvore. Foi uma tarefa difícil à qual a autora se lançou: colher fragmentos de escritos do poeta francês Francis Ponge em momentos diversos de sua obra; em seguida, recortá-los e depois criar em cima outro texto.

“O que está em itálico são palavras do poeta editadas dessa forma. Depois de cada sessão, introduzida dessa maneira atávica, escrevo com minhas palavras uma leitura da escritura de Ponge. Palavras que, por ora, carregam os significados do poeta que já fazem parte de mim”, afirma Paula.

Apesar da complexidade do método, a escritora deu conta do recado, como atestam os textos de apresentação assinados por Ruth Silviano Brandão e Lúcia Castello Branco, professoras de literatura da UFMG. Para Lúcia, Paula Vaz já habitava o “reino vegetal” quando encontrou Ponge. “Parece-me que foi a seu lado que ela descobriu a comunidade vegetal com que viria, mais tarde, a conviver. Foi também com ele, parece-me, que ela pôde experimentar, no exercício de sua escrita, a matéria lenhosa da língua. Embora ela já a conhecesse – de ouvido, talvez –, em sua prática da psicanálise”, afirma.

Nascida em Belo Horizonte em 1973, Paula Vaz, que transita sem maiores problemas entre a escrita e a psicanálise – “uma função acaba complementando a outra” –, conta ter tomado conhecimento da obra de Francis Ponge há algum tempo, quando leu o livro Métodos, no qual o poeta vem a público falar sobre seu processo criativo. Depois foi a vez de O partido das coisas. E não parou mais. “Para mim, o impacto dessas leituras foi marcante. Foi como se tivesse me encontrado com o meu próprio pensamento”, diz a escritora.

Viva voz


Para uma melhor compreensão do seu trabalho, Paula resolveu dividir o livro em três partes. A primeira ganhou o nome de Objeto em jogo e é sobre Francis Ponge, considerada por Paula “a razão de ser do livro”. Na segunda parte, Canteiro de obra, a escritora fala do próprio processo criativo, ou “a poesia como um fazer que se assemelha ao trabalho de um artesão”. Para, finalmente, em O reino vegetal, discorrer sobre os estados do ser, nos quais todos estamos inseridos.

O livro traz ainda um CD que reproduz textos e fragmentos lidos pela autora no programa Migalhas literárias, veiculado pela Rádio UFMG Educativa, além de uma série de fotografias feitas por ela em suas viagens pelo mundo. Paula conta ainda que já está em processo de criação do segundo livro, Atire a primeira pedra neste velho coração cansado. “Estou gostando dessa nova experiência e escrevendo com muita paixão”, diz.
 
Não se sai de árvore por meios de árvore
De Paula Vaz
Editora Cas’e’screver
216 páginas

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