Carta a Bechara

por 20/09/2014 00:13
Marco Lucchesi

Diante das discussões gerais sobre a ortografia, que se repetem com o mesmo e monótono estribilho nos últimos 100 anos, decidi endereçar ao mestre e amigo Evanildo Bechara uma carta, assimilando novas propostas. Selvagem, sem hífen ou acento. Um duelo com a escrita. A próxima tentativa? O português na ortografia dos ideogramas.

Meu Kerido Evanildo Bexara,

Pesso enkaressidamente ke konsidere kom boa vontade a prezente missiva, ke dirijo a um omen douto, mestre dos mestres, linias, por isso mesmo, eskritas kom temor e tremor.

Sobretudo nos dias ke correm, dias de mudanssas radikais, onde sossobram sertezas e medram ardidos kaminhos.

Alssemos, pois, karo mestre, o paviliao da paz no kampo de batalia da ortografia.
Ke cessem alfim as inuteis geras, sange, e orror ke a etimologia – tiranika! – nos impoe inklemente.

Sejamos fassanhudos e atakemos os orizontes de antanho ke ate oje pezam sobre nossos ombros desvalidos.

Fassamos uma obra meritoria, demokratika. Tratasse dum esforsso ezijente, de pura vontade e adezao.

Para ke servem assentos, hifens & sedilhas, tantos e tamanhos, senao para dividir os sidadaos, maltratalos e perseguilos?

Karo Bexara, komo sabe, era assim ke pensavam muitos de nossos inklitos patrissios, desde o sekulo dez e nove.

Konto kom seu espirito sutil neste ezame. Sem fantasmas latinos e espiritos gregos. Kuanto a mim, ditei estas mal trassadas linias para ke visse, com seus proprios olios, a pele e o aroma de uma lingoa nova.


Lingoa liberta e nassente, lingoa leve, sem a pezada erudissão ke onubila, ao fim e ao kabo, a imajem dakilo ke realmente keremos dizer.

Asseite o meu abrasso kordial, keirame bem!

Kom a estima ke devo ao mestre e amigo

a) Marko Lukezi


. Marco Lucchesi é escritor

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