Universidade e outros setores articulam projeto em torno de novo relacionamento com o passado e a memória

Iniciativa aponta para a construção de uma rede de abrangência nacional

09/11/2013 00:13
Juniele Rabêlo de Almeida

Assis Horta/Divulgação
(foto: Assis Horta/Divulgação)
O conceito de história pública não é novo, mas a reflexão sobre sua especificidade no Brasil se expandiu nos últimos anos. Para além da divulgação de um conhecimento organizado e sistematizado pela ciência, a história pública revela a possibilidade de construção e difusão do conhecimento histórico – de maneira dialógica, integrada e responsável – por meio de centros de memória, museus, arquivos, televisões, rádios, cinemas, teatros, editoras, jornais, revistas, organizações governamentais e não governamentais, consultoria, entre outros espaços.

O debate sobre história pública no Brasil estimula reflexões sobre a atuação dos diferentes profissionais que lidam diretamente com as chamadas representações históricas. Vislumbra-se, ao integrar múltiplos campos e recursos, a história e seus diversos públicos em um caminho de conhecimento e prática. Experiências diversas dão mostra de como o debate sobre história pública continua a render frutos e pode ser ampliado e enriquecido, dentro e fora da academia.

Os pilares para construção da Rede Brasileira de História Pública foram construídos durante o curso de introdução à história pública, ocorrido na Universidade de São Paulo (USP), em fevereiro de 2011, promovido pelo Núcleo de Estudos em História da Cultura Intelectual. O curso resultou no lançamento do livro Introdução à história pública, que reuniu autores brasileiros e estrangeiros. Tais iniciativas demonstraram a fertilidade do tema e a disposição de um número expressivo de pessoas em constituir um foro que acolhesse os diversos trabalhos já em curso.

Em janeiro de 2013, foi lançada na internet a página da Rede Brasileira de História Pública (RBHP). No intuito de divulgar a RBHP, em julho, se realizou o simpósio temático “A história pública e os públicos da história”, durante o 27º Simpósio Nacional de História. E, em setembro de 2013, se reuniu o grupo de trabalho História pública e oralidades, no 10º Encontro da Regional Sudeste da Associação Brasileira de História Oral.

A expressão história pública ultrapassa a ideia de acesso e publicização de concepções em vigor na academia. É necessário o estabelecimento de pontes entre o saber acadêmico construído e o trabalho não científico, promovendo a difusão e o desenvolvimento de uma história que estimule a participação e colaboração das diversas comunidades fora/dentro do espaço universitário. Considera-se, assim, a necessidade da não supressão da ciência em favor da história pública, porém, o desejo de diálogo com as práticas e reflexões não acadêmicas compromissadas com a problematização da cultura histórica.

A história pública sugere práticas de responsabilidade político-social com a memória coletiva. Nesse sentido, a narrativa fílmica, a história oral e as inúmeras articulações visuais, verbais, sonoras e textuais podem contribuir para a elaboração e socialização da produção do conhecimento histórico. As necessidades e os interesses de uma comunidade podem inspirar projeto sem história pública envolvendo os membros dessa coletividade, pesquisadores acadêmicos e não acadêmicos em colaboração.

Buscam-se no Brasil, diante da elasticidade da expressão história pública, oportunidades para abordar temas como: a relação entre o saber histórico e a diversidade de seus públicos; o impacto social da produção acadêmica brasileira na área de história; o papel dos intelectuais no espaço público; a função da história pública na divulgação e no gerenciamento do patrimônio material e imaterial; o impacto das novas mídias sobre as estratégias de produção e publicização da história; os diálogos entre a história e outras áreas de conhecimento aplicado, como o jornalismo, o cinema, a gestão de organizações, o turismo; a relação entre história e literatura, em múltiplos âmbitos da narrativa histórica: as biografias, os testemunhos, a ficção histórica. Nessa seara se estabelecem os pressupostos para a coprodução do saber problematizado sobre o passado, em um exercício no qual diferentes linguagens e metodologias se complementam e ajudam na percepção histórica para além dos espaços acadêmicos e escolares.

A diversidade de leituras e procedimentos da história pública incide sobre o conhecimento histórico, não apenas preocupada em atingir um público maior, mas aprender com ele, com suas mudanças e demandas. A história pública deve levar em conta as necessidades, os movimentos e os imaginários das comunidades nas quais está inserido, e pode contribuir na organização e divulgação de interesses múltiplos.

. Juniele Rabêlo de Almeida é professora-adjunta da Universidade Federal Fluminense

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