Trajetória de Ulysses Guimarães é narrada pela ótica da esposa em biografia

Jornalista Jorge Bastos recorreu a Ida Maiani de Almeida, a dona Mora, para compôr livro

por Carlos Herculano Lopes 05/10/2013 00:13
Rocco/reprodução
(foto: Rocco/reprodução)
A trajetória de Ulysses Guimarães, um dos políticos mais emblemáticos do Brasil – que desempenhou papel fundamental no processo de redemocratização, sobretudo no período das Diretas Já –, é narrada de forma criativa por uma testemunha especial: sua mulher, Ida Maiani de Almeida, a dona Mora.

O jornalista Jorge Bastos Moreno recorreu a essa personagem para escrever 'A história de Mora: a saga de Ulysses Guimarães'. O autor avisa que não teve pretensão de escrever a biografia oficial do líder peemedebista. Propôs-se a contar histórias relacionadas ao político, sobretudo aquelas do período em que ele se lançou candidato à Presidência da República, eleição disputada em 1989. Para “ajudá-lo” nessa missão, ninguém melhor que dona Mora, “a mulher que calou os governadores”.

“Quis mostrar também o papel desempenhado por ela em todo o episódio, da redemocratização às primeiras eleições diretas depois da ditadura”, explica Moreno. No decorrer de 50 capítulos, como numa boa conversa recheada de histórias pitorescas, dona Mora vai relacionando fatos, nem sempre amenos, que marcaram a trajetória do marido até a morte trágica do casal, em 1992, em acidente de helicóptero no litoral fluminense.

O autor, que trabalhou como assessor do candidato do PMDB ao Palácio do Planalto, diz que o doutor Ulyesses simbolizou tudo aquilo que um homem público deve ter: “Espírito público, autoridade e honestidade”. Por sua vez, dona Mora era uma extensão do marido. “Ela esteve junto dele nos momentos mais importantes. Os dois se completavam”, conclui.

A história de Mora: a saga de Ulysses Guimarães
• De Jorge Bastos Moreno
• Editora Rocco
• 352 páginas, R$ 34,50



TRECHO

(...) E ele se vangloriava:

– Meu destino está atrelado ao do grande guerreiro e navegador que me empresta o nome e que vagou durante 20 anos pelo Mediterrâneo até voltar para os braços da sua Penélope. Você é a minha Penélope!

Prontamente, interrompi:

– Ulysses, você acha que, sumindo no mar, vou conseguir te esperar 20 anos? Vinte anos são 20 anos, meu Deus! Façamos a conta. Vai cair em...

– 2012, Mora! Eu terei 96 anos.

Questionei meu marido:

– Você acha que seremos eternos, como os deuses?

E ele:

– Claro que não. Calipso tentou conquistar o amor de Ulisses, oferecendo-lhe a eternidade como recompensa. O guerreiro refutou: “Não quero o dom dos deuses. Sois infeliz por ser eterna. Só os mortais conhecem o amor”. No nosso caso, é aquilo que eu disse à Marília Gabriela: “Amo tanto a Mora que, se realmente existir outra encarnação, já quero nascer casado com ela.”

E ficamos, meu marido e eu, na brincadeira de tentar adivinhar o que poderia haver neste país até o nosso reencontro, lá nos primórdios do novo século, na odisseia de 2012. (...)


. A história de Mora, de Jorge Bastos Moreno

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