Livro da antropóloga Maxine L. Margolis analisa por que o brasileiro se muda para outros países

Encontrado em vários continentes, o brasuca é motivo de orgulho para sua família

por Carolina Braga 05/10/2013 00:13
Nacho Doce/Reuters
(foto: Nacho Doce/Reuters)
A antropóloga americana Maxine L. Margolis certamente faz parte do grupo de estrangeiros que conhecem mais o Brasil do que muitos de nossos conterrâneos. Ela sabe, em especial, por que vários cidadãos deixam família, amigos, patrimônio e emprego em busca de construir uma vida no exterior. É esse o objeto de estudo do livro Goodbye Brazil: emigrantes brasileiros no mundo (Editora Contexto).

Sem parecer acadêmica demais – muito menos formal –, a professora emérita de antropologia da Universidade da Flórida nos apresenta um diagnóstico detalhado sobre o comportamento migratório. O trabalho confirma a impressão constante de quem viaja para o exterior, mesmo a passeio: tem brasileiro em todos os cantos do planeta.

“O povo brasileiro está no maior número de lugares no mundo. Talvez os equatorianos se equiparem a eles. Espalham-se por continentes como a Ásia e a Europa, além da América do Norte”, confirma a autora. Obviamente, ela vai muito além dessa impressão.

O interesse de Maxine pelo Brasil vem desde o início da carreira como antropóloga. A brasilianista desenvolveu in loco a pesquisa de sua tese doutoral sobre como se deu, no interior do Paraná, a migração da cultura do café para a criação de gado. Por causa disso, ela aprendeu português e morou cerca de um ano em Maringá. No entanto, no fim da década de 1980, passou a se concentrar nos hábitos dos emigrantes. Primeiro, nos Estados Unidos, e logo depois em outras partes do mundo.

Goodbye Brazil... é dividido em 12 capítulos. No primeiro, Maxine se apoia em números para discorrer sobre a tradição histórica brasileira de receber imigrantes em vez de emigrar, assim como na análise dos fluxos migratórios a partir daqui. A pesquisadora observa que os motivos que levam cidadãos a deixar o país são mais ligados a motivos financeiros do que políticos.

Status A autora é perspicaz na tentativa de entender o modo como o brasileiro valida quem vive no exterior. “Para algumas famílias, ter um parente nos EUA é chique, um sinal de status”, observa. Em uma narrativa que mistura dados oficiais, informações da imprensa, entrevistas e muita observação, Margolis analisa quem são os brasileiros que decidem trocar de país e como eles chegam em terras estrangeiras. Só depois a autora se dedica ao estudo de casos específicos.

O movimento migratório dos moradores de Governador Valadares mereceu atenção especial. Maxine salienta que o município do interior de Minas “é comunidade remetente de imigrantes por excelência”. Para entender esse fato, a antropóloga discorre sobre as mudanças das atividades econômicas da cidade ao longo do tempo.

De acordo com a perspectiva defendida por Maxine, se há algo que interfere na decisão de partir é o contexto econômico. Por isso, a autora reconhece o caráter mutante de seu estudo. Se em outros tempos a fragilidade brasileira nesse quesito gerou a partida de cidadãos, é bastante possível que atualmente esse fluxo esteja passando por transformações.

Até 2008, muitos brasileiros trabalhavam na construção civil norte-americana, como faxineiros e baby sitters. No entanto, esse quadro mudou. Já não se contratam babás como antigamente. “Vários perderam o emprego. Com o real mais forte em relação ao dólar, não vale a pena fazer pé-de-meia. Por isso muitos retornaram ao país”, afirma.

A escrita de Maxine Margolis chama a atenção pela riqueza de detalhes. Não apenas na interpretação dos dados recolhidos, mas na “costura” de trabalhos predecessores. Os estudos de Sueli Siqueira sobre Governador Valadares, por exemplo, foram importantes para a elaboração da análise focada no comportamento dos valadarenses.

Darcy O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro é outra fonte significativa. Inclusive, a partir dos escritos dele Maxine Margolis discute um dos temas mais interessantes de Goodbye Brazil: o que significa ser brasileiro?. À medida que faz esse questionamento, a autora procura entender o modo como somos percebidos por outras nações e o estranhamento que ainda enfrentamos. “Para muitos brasileiros, a novidade de ser estrangeiro é desconfortável. Eles ainda não sabem como querem se identificar ou como desejam que os outros os identifiquem fora da ‘pátria amada’”.

O livro é encerrado com considerações a respeito das novas gerações. Afinal, como a autora afirma, “os brasileiros estão, de fato, procriando no exterior”. Ou seja, Goodbye, Brazil... contextualiza e analisa um movimento mutante.

Goodbye, Brazil: emigrantes brasileiros no mundo
De Maxine Margolis
Editora Contexto,
304 páginas, R$ 43,90

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