Luís Augusto Cassas reúne o trabalho de uma vida nos dois volumes de 'A poesia sou eu'

Publicação acaba de ser lançada pela editora Imago

por André Di Bernardi Batista Mendes 20/07/2013 06:00
Meireles Júnior/divulgação
(foto: Meireles Júnior/divulgação)
A editora Imago acaba de lançar 'A poesia sou eu'. Dois volumes reúnem o trabalho do poeta maranhense Luís Augusto Cassas ao longo dos últimos 30 anos. Eles trazem 16 livros publicados pelo escritor, além de quatro inéditos. Cassas tem relação muito próxima e límpida com o lirismo propício a mais e mais sentimento. Tudo serve para sua visão poética: o amor, o infinito, a cidade, as pessoas, o feminino, a solidão. Uma alma vasta que cuida de coisas vastas, ganhando ares de preciosidades.

Todo poeta é dono de uma obra inacabada. É o caso de Cassas. Todo poeta é, antes de tudo, um solitário, é uma árvore que não entende, que não sabe nada de frutos e de sombras. Todo poeta é guerrilheiro que sonha sempre em trânsito. Todo dia, toda manhã, traz ordens de vigílias e recomeços. Toda poesia tem o poder, um sabor de reinício.

A pretensão do título de Luís Augusto Cassas se justifica, pois o escritor acata, aceita e escreve com a humildade de um monge: “Namastê/ que bom te ver/ o poeta que mora em mim/ saúda o poeta que mora em você”.

Esse poeta é dono de estilo simples, como deveriam ser simples a madrugada, Hiroshima e Nagasaki, o “silêncio atomizado”, “a paz mutilada”, as rusgas, as rugas, as estradas que religam terra e céu. Porque poesia é escada e abismo, é caldo, é pão feito de paradoxos. Cassas sabe que palavra e pó de poeira também são sinônimos. O poeta anda precavido de estrelas, vive protegido por sombras. E tem um “sol aceso no peito”.

Uma pedra, o arco-íris, o Himalaia, tudo cabe nas páginas de um livro. A poesia se torna, assim, algo que forja, que fornece dúvidas diante do muito incerto, diante dos sustos e das possíveis revelações. Entre “conferências de buzinas”, o poeta encontra música, e encontra silêncios quando nada pesa nos ombros. Existem versos que inauguram um homem.

Luís Augusto Cassas é também autor dos livros República dos becos, O filho pródigo e A mulher que matou Ana Paula Usher, entre outros.

Três perguntas para...
Luís Augusto Cassas
escritor

Como você avalia a poesia feita atualmente no Brasil?
Ela foi e continua a ser múltipla, solidária, transformadora, rica em signos, cotidiana e universal, imersa na viagem da realidade externa e interna, banhada em luminosa tropicalidade ou no vigor do contraste invernal da latitude mais cinza. Reconheço nela uma grande transmissão de energia que vai sendo repassada espiritualmente às novas gerações, colhendo os frutos do verbo. Temos grandes mestres, de Norte a Sul, Leste e Centro, em distantes rincões do país. Muitos, desconhecidos. E um enorme poder de fogo não percebido até agora.

Em seu livro, você afirma que busca trilhar o caminho do meio. Como a poesia interfere nesse processo?
A principal doença de nosso tempo é a unilateralidade, que continua a destilar os seus radicais livres no seio da totalidade. É preciso compreender que os contrários não são inimigos, como a luz e a sombra, assim como todos os pares de opostos, mas companheiros de caminho, impulsionadores, cada qual servindo ao equilíbrio, evitando que possamos cair nos extremos. Nessa perspectiva, tento trilhar o caminho do meio na poesia, instaurando um grande diálogo entre o todo e a parte, o espírito e a matéria, a antiguidade e a contemporaneidade, o conteúdo e a forma, o misticismo e a física quântica, a energia e a graça.

Como você definiria sua trajetória pelos mistérios da poesia?
Com a publicação que congrega 16 livros editados e quatro inéditos, dou como concluída a minha longa meditação com o verbo, movido a paixão e suor. A obra reflete a integralidade da caminhada da minha alma. Para mim, permite a avaliação da jornada mental de um poeta frente à vida e às questões de seu tempo. E a confirmação de que, mesmo morando distante dos centros de irradiação cultural, não se deixou abater quando teve de renunciar ao mundo, permanecendo fiel à sua interioridade e sem fazer concessões ao gosto pasteurizado da época. A poesia foi minha vida e minha vida se tornou poesia. Aceitei a minha cota de humanidade e me tornei um inventor de horizontes, pelo menos para mim.

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