O poeta e artista plástico Mário Alex Rosa lança hoje terceiro livro de poesias

'Via férrea' transfigura a experiência real em imagens fortes

por André Di Bernardi Batista Mendes 20/04/2013 00:13
Cristina Horta/EM/D.A Press
O escritor Mário Alex Rosa faz poesia como constrói seus objetos: em busca de ideias e surpresas (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

O poeta mineiro Mário Alex Rosa lança nesta sábado, na Livraria Scriptum, o livro de poemas 'Via férrea'. É o seu terceiro livro, depois de 'ABC Futebol Clube e outros poemas' (2007) e 'Ouro Preto' (2012).

A palavra continuidade tem a ver com trilhas, trilhos, trens de ferro. A poesia de Mário Alex carrega esse peso, e promove um ir e vir, mesmo quando a via, mesmo quando a estrada torna-se árdua, dura de ferros e distâncias. Aliás, continuidade sempre foi sinônimo de lonjuras. Por isso, em Via férrea surgem palavras-porto, palavras-desejo, palavras-cais, palavras-terra, palavras-barco, palavras, dentro de infinidades, até surgirem versos.
E as palavras, para Mário Alex, servem para inaugurações, as palavras, qualquer signo serve para indicar fluxo, em qualquer via, diga-se, de passagem. Para qualquer um, ou dois, a poesia deste mineiro pede – com gentileza – ar para encontrar passagens. A poesia de Mário Alex chega carregada de sentido e é cheia de vivências, algo precioso para poetas vivos.

É sempre no fim de cada périplo que moram os melhores versos. Mário Alex trabalha diante do ocluso, diante das coisas tapadas, diante de desastres cotidianos, diante de luzes e sombras (mais sombras que luzes), diante dos intervalos, que são poucos dentro da correria de trens e homens. Todo rumo, toda direção, qualquer rota é estreita. Toda estrada é estrangeira, como só pode ser estrangeira a vida.

Cada alvorada, cada dia que nasce traz algo de novo, traz algo de inusitado. Passa linha e poesia até pelas brechas da menor agulha. Agulha é arma, espada que, para o poeta, quer dizer precisão. A mesma linha que costura, desamarra, desprende.

Mário Alex enxerga longe, ou seja, até o óbvio: tudo que é "sol escaldante barra a visão". Permanecer – atento –, não tentar o salto, para Mário Alex, resulta em números: zero, quando nada paira, quando nada sobrevoa. Tudo é matéria feita de ferro e fogo. A vida é cheia de curvas. A palavra chão traz, de quebra, pelas quebradas, diante das fissuras, argila, óxido de ferro, cores pardacentas, que beiram o ocre, rumo ao azul distante.

Em seus poemas, Mário Alex corteja todas as segundas, todos os sábados, os domingos, cheios de luzes necessárias, mas ainda inexistentes.

É o máximo quando um poeta mastiga suas próprias palavras. Nada é simples quando o poeta busca, no breu, luzes, quando reescreve sua rotina de sombras e tombos. A poesia de Mário Alex anda em trânsito lento, mas conturbado. Ela é ao mesmo tempo complexa e cheia de espinhos que ferem pouco, mas ferem. Pessoas chovem; pássaros recolhem-se entre folhas "verdemente abertas", tudo isso são versos.

Surpresa e encantamento

Poesia nada mais é do que uma teia de solturas: ao lado da vida, vem a vida. Mário Alex, contudo, mostra que um poema não precisa ser bom por inteiro. Alguns textos não respiram até o fim. Não é possível. O Brasil precisa, urgentemente, abrir os olhos para os poetas, para a poesia que existe e resiste em Minas Gerais. É algo absurdo. Esta Via férrea de Mário Alex surpreende e encanta.

Mário Alex não deixa por menos, diante do mais que o engano apronta. Ele sabe e mostra com o verso afiado que todo afeto desanda e faz desandar corpo e espírito. Parece simples, mas não é, pois a poesia é cheia de significados. Certos poemas deixam na gente a vontade de fecharmos um ciclo.

Ainda que existam amores perdidos, ainda que existam "estações que desmaiam", ainda que persiste, contundente, a memória. É que a poesia tem muito disso, a poesia tem essa vantagem "tatuável", ela resiste "na pele de um amor que não passa". Não é doença: é salvação. Mário Alex carrega e transforma, com seus versos, uma máquina de produzir histórias. Com paralelos, ou paralelas, o positivo, o bom de qualquer caminho, o bom dessa aventura é que existe uma espécie de rumo, uma quantidade de coisas sobrepostas (vida que gera vida) que seguem rumo ao verde, rumo ao infinito.

VIA FÉRREA
De Mário Alex Rosa
Cosac Naify, 64 páginas, R$ 28
Lançamento hoje, às 11h30, na Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi

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