Live destaca a obra multifacetada do genial Aldir Blanc

Neste domingo (17/10), o cantor Augusto Martins e o pianista Paulo Malaguti Pauleira apresentam releituras de parcerias do carioca com 10 compositores

Augusto Pio 17/10/2021 04:00
Renato Varanda/divulgação
Novo disco de Augusto Martins e Paulo Malaguti Pauleira traz canção inédita de Aldir Blanc e Moacyr Luz (foto: Renato Varanda/divulgação)
A obra singular de Aldir Blanc , que morreu de COVID-19 em maio do ano passado, ganha releitura do cantor Augusto Martins e do pianista Paulo Malaguti Pauleira . Neste domingo (17/10) à noite, live da dupla lança o disco “Canções e epidemias”, já disponível nas plataformas digitais.

Com 14 faixas, o álbum traz parcerias do poeta e compositor carioca com 10 autores, entre eles, João Bosco, Cristóvão Bastos, Ivan Lins, Sueli Costa, Rosa Passos, Guinga e Moacyr Luz.  “De alguma maneira, acredito que a gente reinventou essas canções”, afirma Martins.

“Queremos fazer homenagem ao Aldir, uma pessoa especial, à frente de seu tempo. Inquieto, ele era capaz de sorrir de suas próprias fraquezas, letrista de mão cheia. ‘Caça à raposa’, que abre o nosso disco, parece que foi feita ontem, pois tem letra completamente atual”, comenta.

MENINGITE

 Aliás, o próprio nome do novo álbum veio de um verso da canção-título do segundo disco de João Bosco, lançado em 1975. “Todas aquelas letras foram feitas pelo próprio Aldir, que se referia à epidemia de meningite naquela época. O legal é que a arte se reinventa, renasce, é reinterpretada. Isso é impressionante”, diz Martins.

O pianista Paulo Pauleira chegou ter dúvidas sobre regravar “Caça à raposa”, clássico de Aldir e João Bosco. “Mas ela virou a canção mais poderosa, a mais impactante do nosso álbum. O Pauleira fez um arranjo incrível, tanto que João Bosco se apaixonou”, revela o cantor.

Entre as parcerias do mineiro com o carioca gravadas pela dupla está “Querido diário”, que teve as palavras “me masturbei” censuradas. “Aldir tinha a capacidade de abordar qualquer tema e ficar incrível. Não tinha medo de escrever coisa alguma e colocava aquilo contextualizado, não desperdiçava uma palavra, algo genial”, elogia. “Gravamos esta canção com a letra original. Por causa da censura, Aldir se viu obrigado a trocar palavras, colocou ‘Me machuquei’. Não faz o menor sentido, ele só bota mesmo o som ali com o intuito de sacanear a censura.”

João Bosco aprovou a releitura de Pauleira e Martins. “Arranjos maravilhosos, interpretações surpreendentes, uma coisa belíssima. E sinto o Aldir não estar aqui, porque tenho certeza de que ele ia se impressionar com essas releituras feitas por Augusto e Paulo”, avalizou, em mensagem enviada aos dois.

“Gostei muito da forma como foram abordadas as canções, tanto no que diz respeito à sonoridade quanto ao entrosamento do duo. A interpretação de voz e piano parte de uma concepção original para buscar um registro de muita personalidade e novos caminhos em cada canção. Isso é tudo que um compositor deseja quando outro olha sobre sua canção”, elogiou o autor de “Caça à raposa”.

Outro destaque do repertório da dupla é a inédita “Muito além do jardim”, parceria de Aldir Blanc com Moacyr Luz.



O show on-line de hoje, que começa às 20h, é especial para a dupla. “As lives já estão diminuindo, pois as coisas presenciais têm voltado. Mas acho bem simpático fazer no domingo, com as pessoas em casa nesse horário”, diz o Martins, prometendo bate-papo com os internautas no intervalo das canções.

O álbum digital traz apenas um convidado: Zé Renato, que gravou “Filho de Núbia e Nilo”. “Como ele não poderá estar conosco, seremos só eu e o Pauleira”, informa o cantor.

BATE-BOLA 
O repertório foi selecionado em um “bate-bola” da dupla. “Falei com Pauleira: vai você aí que vou aqui. Depois, nos encontramos e fizemos sugestões para chegar a um lugar comum. Fiz pesquisa profunda. Li todas as letras publicadas do Aldir. Peguei aquele livro do Luiz Fernando Vianna (‘Aldir Blanc – Resposta ao tempo’), li uma por uma, ouvi tudo a que pude ter acesso”, conta.

O cantor chama a atenção para um aspecto do legado de Aldir Blanc. “É interessante lembrar que a maioria dos parceiros dele é violonista. Isso ficou interessante para a gente, porque a nossa sonoridade é piano e voz, algo incomum na obra dele”, destaca Augusto Martins. “A gente quis gravar poucos sucessos, visitar canções lindas e seus versos. A palavra é a rainha deste disco, mas, ao mesmo tempo, tem a musicalidade de cada um daqueles parceiros.”


REPERTÓRIO


»  “CAÇA À RAPOSA”
Aldir Blanc e João Bosco

»  “RESPOSTA AO TEMPO”
Aldir Blanc e Cristóvão Bastos

»  “CAUSA PERDIDA”
Aldir Blanc e Rosa Passos

»  “QUERIDO DIÁRIO”
Aldir Blanc e João Bosco

»  “POR FAVOR”
Aldir Blanc e Ivan Lins

»  “MUITO ALÉM DO JARDIM”
Aldir Blanc e Moacyr Luz

»  “FILHO DE NÚBIA E NILO”
Aldir Blanc e Moacyr Luz

»  “CORSÁRIO”
Aldir Blanc e João Bosco

»  “O RANCHO DA GOIABADA”
Aldir Blanc e João Bosco

»  “ODALISCA”
Aldir Blanc e Guinga

»  “RETRATO CANTADO”
Aldir Blanc e Marcio Proença

»  “VALE A PENA OUVIR DE NOVO”
Aldir Blanc e Sombra

»  “ÊXTASE”
Aldir Blanc e Djavan

»  “ALTOS E BAIXOS”
Aldir Blanc e Sueli Costa

TIJUCA NA CAPA

Reprodução
(foto: Reprodução)

O show de Augusto Martins e Paulo Malaguti Pauleira foi gravado num teatro da Rua Garibaldi, na região do Muda, no bairro carioca da Tijuca, onde Aldir Blanc viveu. “É onde tem o Centro da Música Carioca Artur da Távola, a uns 50 metros do prédio em que ele morou. Então, há esse espírito especial tijucano. Também sou cria do bairro. Tanto que a foto da capa do disco é o Vale da Tijuca, esse lugar em que a gente se fez gente”, diz Augusto Martins.


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