Pererê e Tizumba fazem show para celebrar a negritude de Minas

Vozes potentes da cultura negra, os dois se apresentam hoje, em BH. Repertório reúne canções do disco ao vivo, cujo lançamento foi prejudicado pela pandemia

Fernanda Gomes* 09/12/2020 04:00
Patrick Arley/divulgação - 31/8/2018
Pererê e Tizumba voltarão a se reunir esta noite, inspirados na apresentação, realizada há dois anos, que resultou no álbum ao vivo da dupla (foto: Patrick Arley/divulgação - 31/8/2018)
Duas potentes vozes negras da música mineira têm encontro – presencial – marcado com o público nesta quarta-feira (9) à noite, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube. Demorou oito meses, mas Sérgio Pererê, de 44 anos, e Maurício Tizumba, de 63, finalmente vão lançar o primeiro disco que gravaram ao vivo.


“Foi muito tranquilo fazer esse disco, porque o Pererê é de uma generosidade muito grande. Como tenho um amor muito grande por ele, tudo facilitou. Quando tem amor, tudo facilita”, comemora Tizumba.

VIRTUAL

Seguindo a tendência imposta pelo novo coronavírus, a apresentação desta noite terá formato híbrido: enquanto a dupla se apresenta para a plateia no teatro, a performance será transmitida ao vivo pelos canais dos dois artistas no YouTube.

Ingressos adquiridos para o show de março são válidos para hoje, embora a marcação de lugares não seja a mesma do bilhete, pois a casa funcionará com capacidade reduzida, seguindo protocolos sanitários.

O repertório do show e do disco terá as canções Sá Rainha, Kianda, A criação, Terra de montanha, Mãe de todos os homens e Woman, entre outras, com novos arranjos. Mas Pererê garante: o show não se limitará ao disco, cujas faixas já foram disponibilizadas nas plataformas de streaming.

“Este momento agora é a celebração desse álbum, temos colhido muitos retornos bonitos de várias pessoas sobre ele. Aprendemos coisas novas (durante o isolamento social) e vamos mostrar para as pessoas”, diz Pererê.

Os dois artistas sempre destacaram em suas canções a importância do legado africano para a cultura brasileira, o orgulho negro e a defesa da valorização de tradições ancestrais, por meio do congado, dos reinados mineiros e do candomblé, entre outras manifestações. Maurício Tizumba e Sérgio Pererê ao vivo é um álbum emblemático nestes tempos em que protestos contra o racismo ganham as ruas do Brasil e do mundo.

CONGADO

Gravado no palco do Centro Cultural Minas Tênis Clube, o disco tem sonoridade marcada por caixa de congado, violão, pandeiro, viola, tamá e até tablas, a cargo do percussionista indiano Rashmi Bhatt, o convidado da faixa A criação.

Antigas canções – como Sá rainha, sucesso de Tizumba – ganham novo olhar. Desta vez, naquele clima alegre e de festa, cabe também um lamento, remetendo à luta dos negros por dignidade e contra o preconceito.

A dupla ressalta que espetáculos presenciais como o de hoje exigem cuidados redobrados, sobretudo devido à proximidade da segunda onda da pandemia. Sérgio Pererê admite que está um pouco receoso. “A gente só vai fazer o show porque estive lá no Minas Tênis e senti que o teatro consegue ter um cuidado maior. Estamos lidando, infelizmente, com algo invisível, que está em todo lugar”, observa.

“Confesso que morro de medo da COVID. E tudo de que a COVID gosta eu tenho: 63 anos, hipertensão... Tenho tudo, mas tomo cuidado. Ando cheio de máscaras, álcool – meu carro leva tudo o que você imaginar. Não vou a aglomerações de jeito nenhum”, conta Tizumba.

O músico diz que se sente seguro em se apresentar no teatro, porque a equipe cumprirá todas as normas de segurança. Mas Tizumba dá um conselho aos fãs e ao público: “Se cuidem”. E emenda: “É o que posso falar. A gente vai estar protegido lá em cima no palco, então quem comprou e vai para o teatro que se cuide. E quem não vai, se cuide em casa também. Essa pandemia mostrou pra gente que se você cuida de você, está cuidando também do outro”.

Na opinião de Tizumba, o isolamento social fez com que as pessoas reconhecessem a importância do artista. “A arte foi a primeira a parar e só ficou essencial mesmo quando viram que todo mundo estava em casa e precisava dela. O pessoal suportou a pandemia porque a arte está dentro da casa da gente. Se não tivesse arte, seria um hospício.”

A ideia do primeiro álbum da dupla surgiu quando eles se apresentaram no lançamento do livro De Camarões: Veredas de Maurício Tizumba, em 2018. “Gravamos aquele show para vê-lo depois. Quando fui ao estúdio ouvi-lo, achei que a emoção do nosso encontro ficou muito presente. Então escolhemos algumas músicas e decidimos compartilhar essa linda emoção com as pessoas”, explica Sérgio.

Os dois se tornaram amigos nos anos 1990. Sérgio revela que o nome artístico Pererê surgiu por causa de Tizumba. “Antes, era Sérgio Pereira. Durante uma apresentação, ele foi falar meu nome, errou e disse Pererê. Aí o público ficou inflamado, gritava 'Pererê, Pererê’. E ficou assim.”

Por sua vez, Tizumba conta que o “erro” foi intencional: “Sérgio Pereira era mais fraco. No dia daquele show, eu falei Pererê e ficou para sempre. Acho que o nome encaixou”.

Os dois ficaram amigos, compartilham a vida e o palco. “O Tizumba canta várias coisas minhas, a ponto de as pessoas irem a show meu e dizerem que acharam bonito eu cantar a música dele, que na verdade é minha”, revela Pererê.

“Nossa parceria é de longa data, vi o Pererê começando. A gente já está tocando e criando coisas juntos há um bom tempo, temos essa coisa da música afro-mineira e brasileira”, completa Tizumba.

HOMENAGEM

O cantor e compositor Vander Lee é homenageado no disco da dupla, assim como na apresentação desta noite. Ele morreu em 2016, aos
50 anos, de ataque cardíaco.

“Se ainda estivéssemos juntos, ele participaria também. Tínhamos muita vontade de fazer este show com os três juntos no palco. Mas, infelizmente, ele se despediu antes”, lamenta Sérgio. Ele e Tizumba fizeram a releitura de Desejo de flor, canção do repertório de Vander Lee.

DESTAQUES

SÁ RAINHA
» Canção de Maurício Tizumba. Na versão 
da dupla, a festa dá lugar a um lamento de dor e beleza.

BICHO DO MATO
» Nessa composição de Maurício Tizumba, chama a atenção o diálogo das potentes vozes da dupla.

WOMAN
» Nessa canção de Sérgio Pererê, a dupla homenageia Iemanjá.

RISO DE SOL
» Sérgio Pererê e Maurício Tizumba 
prestam tributo ao congado, força motriz da obra de ambos.

DESEJO DE FLOR
» Pererê e Tizumba homenageiam 
Vander Lee, o autor da canção, que morreu há quatro anos.

MAURÍCIO TIZUMBA E SÉRGIO PERERÊ AO VIVO
• Nesta quarta-feira (9), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Preço: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), com vendas-on-line em eventim.com.br/artist/tizumba-perere.
• Ocupação limitada a 50% dos lugares, com escalonamento da saída por fileiras. O uso de máscara é obrigatório. Venda para assentos sem distanciamento apenas para grupos de até quatro pessoas, desde que os ingressos sejam adquiridos pelo mesmo cliente.
• Transmissão ao vivo pelo canal dos artistas (youtube.com/sergioperere e youtube.com/mauriciotizumba10)

*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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