Artista do Reino Unido vence disputa com Djonga e leva prêmio BET Hip-Hop Awards 2020

O rapper mineiro, de 26 anos, disputou a premiação com artistas da França, Reino Unido, África do Sul e Quênia. Djonga foi o primeiro brasileiro indicado para concorrer na premiação

Ângela Faria Eduardo Oliveira 27/10/2020 00:20
Daniel Assis /Divulgação
No dia 13 de março deste ano, o rapper lançou seu quarto álbum (foto: Daniel Assis /Divulgação)
Apesar da imensa torcida, não foi dessa vez que o mineiro Djonga faturou um prêmio internacional de música. Na madrugada desta quarta-feira (26), foram anunciados os vencedores do BET Hip-Hop Awards 2020. O rapper de Belo Horizonte disputava na categoria 'Melhor Artista Internacional' com músicos de outros quatro países. O vencedor foi Stormzy, do Reino Unido. Em todo caso, Djonga fez história ao ser o primeiro brasileiro indicado para concorrer na premiação.
 
O BET Hip Hop Awards é uma premiação anual realizada pela Black Entertainment Television, nos Estados Unidos, voltada para rappers, produtores e diretores de videoclipes de hip hop e Rap. A primeira cerimônia foi realizada em 2006. Djonga disputou o prêmio com Kaaris (França), Meryl França, Khaligraph Jones (Quênia), Ms Banks (Reino Unido), Stormzy (Reino Unido) e Nasty C (África do Sul). 
 
No dia 13 de março deste ano, o rapper Djonga lançou seu quarto álbum: 'Histórias da minha área'.  Com 10 faixas inéditas, ele dialoga com o funk do paulista Don Juan, com o canto da atriz Bia Nogueira (diretora musical da peça 'Madame Satã', na qual o anfitrião fez o papel do icônico protagonista), a rapper Cristal, o carioca NGC Borges e seu fiel escudeiro FBC, um dos nomes mais importantes do hip-hop de Minas. E as batidas, como sempre, vieram do mineiro Coyote Beats. Os outros três álbuns de Djonga são: 'Heresia' (2017), 'O menino que queria ser Deus' (2018), 'Ladrão' (2019).
 
'Histórias da minha área' entrega o que o título promete: crônicas sobre – e para – as favelas e periferias do Brasil. 'Consciência social era roubar playboy/ Dividir o lanche/ Dividir marola', diz a letra da primeira faixa, 'O cara de óculos'. Djonga avisa: 'Papo de bandido pra quem entende/ Eu faço o som que te tira a venda/ Deixa os boy fazer o som que vende!'. Na segunda faixa, 'Não sei rezar', dedicada aos amigos do tráfico que morreram muito jovens, Djonga rima: 'Seu nome no céu vou honrar/ Dessa vez com algo efetivo/ Parei de pensar em matar/ Vingança vai ser ficar vivo (…) Na vibe do meu som/ Meu swing é do jazz/ Pra nunca mais ter que ouvir o aqui jaz.'
 
“Histórias da minha área vem do processo de querer simplesmente lembrar os amigos e a vivência que tive para chegar onde cheguei. Em Ladrão, falei da coisa mais família, mais da raiz, no sentido de ancestralidade. Neste disco, é a lembrança de como os amigos, a rua, as coisas negativas e positivas me fizeram chegar até aqui. O tema central é debater a minha área de forma que as pessoas se identifiquem, pois é a história de muitas outras áreas do Brasil também”, explicou Djonga ao Estado de Minas em março deste ano.
 
O quarto disco de Djonga reafirma o compromisso dele – um dos nomes mais importantes do hip-hop nacional – com a sua 'BH Compton', apelido da capital mineira que remete ao celeiro californiano de talentos do rap. 'Orgulho de onde eu vim/ Sou história da minha área. Seja protagonista de sua história/ Pega a folha e muda o roteiro' é o recado que ele manda, em 'Oto patamá', a negros de periferias e favelas como ele.
 
Alvaro Benevente (Alvinho) e Daniel Assis / Divulgação
A capa do quarto álbum de Djonga (foto: Alvaro Benevente (Alvinho) e Daniel Assis / Divulgação)
 
 
'Histórias da minha área' fala do Brasil violento, de jovens excluídos empurrados para o crime. Porém, deixa claro que há conquistas – elas não são poucas e Djonga é prova disso. A própria capa traz o rapper e amigos, duplicados num beco de favela, tanto baleados no chão quanto em pé, orgulhosos. 'Meritocracia que nada!/ Correria que fala na rua', avisa ele em 'Deus dará'.
 
O rapper fala de amor e de seu próprio machismo ('Eu até curto Molejão/ Mas vou sair da sacanagem/ Amor com compromisso/ Sem libertinagem'). Paparica a filha, a bebê Iolanda, em 'Procuro alguém' ('As meninas que me importam tão dentro do meu lar/ Me ensina a passar a visão preu não criar um menor cego'). Denuncia a violência e o apartheid social ('Eles quer estirar o seu corpo aí nesse cimento/ Fala mal, mas aqui é bola, igreja ou crime'). E faz profissão de fé de seu rap como resistência ('Lanço todo dia 13/ pra provar pra tu/ Que um raio cai de novo no mesmo lugar'). 
 
Assim como fez nos discos 'Heresia' (2017), 'O menino que queria ser Deus' (2018) e 'Ladrão (2019) – todos lançados em 13 de março –, Djonga mostra que conquistou seu espaço na música brasileira ao valorizar seu quintal, a quebrada, sua querida Zona Leste.
 
Não há feats como famosos da MPB, clipes com estética publicitária e nem badalações na TV – a festa de lançamento foi na Leste mesmo. O rapper mineiro vem conquistando uma legião de fãs pelo Brasil explorando com inteligência as redes sociais e, sobretudo, com o dom da palavra que Deus lhe deu.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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