Maestro espanhol é apaixonado pelas obras de Beethoven

Pablo Heras-Casado é um grande explorador do trabalho do compositor alemão, cujo 250º aniversário de nascimento é comemorado este ano

Estado de Minas 17/10/2020 04:00
GABRIEL BOUYS/AFP
O maestro espanhol Pablo Heras-Casado no Teatro Real, em Madri, na terça-feira passada, quando regeu concerto em benefício de crianças carentes (foto: GABRIEL BOUYS/AFP)

A música clássica está fadada a se repetir? Nem um pouco, e menos ainda no caso de Beethoven, diz Pablo Heras-Casado, o maestro espanhol com maior projeção do momento e um apaixonado explorador da obra do alemão, cujo 250º aniversário de nascimento é comemorado este ano.

Com quase 43 anos, Heras-Casado dirige há mais de duas décadas os palcos de maior prestígio da Europa e dos Estados Unidos. Em 25 de outubro, fará sua estreia no Scala de Milão com obras de Wagner, Prokofiev e Schönberg.

À espera desse novo desafio, que aguarda com "grande entusiasmo", ele reflete sobre a sua procura da originalidade numa entrevista no Teatro Real de Madri, onde é o principal maestro convidado. "Perpetuar uma tradição sobre a qual não se pensou nem se refletiu é a morte da arte e um sinal de preguiça intelectual", afirma.

Seu repertório vai do barroco à música de vanguarda, mas sua maior fraqueza se chama Ludwig van Beethoven, nascido há 250 anos: "Ele me acompanhou ao longo da minha vida".

Apoiado em elaborado arcabouço teórico, Heras-Casado vem aplicando com o compositor de Bonn a chamada abordagem historicista: interpretar suas obras com instrumentos da época, e com uma leitura anexada à partitura original, que dispensa a "pátina" dos cânones herdados de alguns maestros importantes do século 20.

A diferença para o ouvinte, em comparação com uma orquestra sinfônica moderna, é perceptível. Nos séculos 18 e 19, as cordas de violinos, violas e violoncelos não eram metálicas como são agora, mas baseadas em tripas de porco, que produzem um som menos potente e forçam uma execução um pouco mais rápida da partitura. O som dos metais também muda: menos incisivo e mais amplo. "Em teoria, têm possibilidades mais limitadas esses instrumentos, usados nas orquestras barrocas atuais”, ressalta.

"Quando se sabe algo mais sobre a verdade, sobre a essência da arte de um compositor, ninguém pensaria em cobri-la com uma dose de lugares-comuns", defende Heras-Casado, convencido de que em cada interpretação se deve "tentar oferecer a possibilidade de voltar a ouvir uma obra".

CLÁSSICO E ATUAL

O maestro espanhol passou uma década trabalhando nesta forma de interpretar com a Orquestra Barroca de Friburgo, especializada neste prisma historicista que até há poucos anos padeceu de um certo esnobismo por parte do público e de alguns críticos.

Com essa formação, acaba de gravar para a gravadora Harmonia Mundi uma série de obras emblemáticas de Beethoven: Os cinco concertos para piano e orquestra, a 9ª sinfonia e o Triplo concerto para violino, violoncelo e piano.

No Teatro Real de Madri, em 2021, continuará com Siegfried, a tetralogia wagneriana do Anel Nibelung, uma comissão operística de 16 horas de música no total que define como "um dos projetos mais emocionantes da carreira".

Seu compromisso mais imediato, também no Real e com 50% da capacidade, será em 19 de outubro, segunda-feira. Será um concerto de caridade contra a pobreza infantil na Espanha, patrocinado pela ONG Ayuda en Acción, da qual é embaixador.

Ele comandará, de Beethoven, a Sétima sinfonia e a Abertura de Coriolano. (AFP)

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