Escolas de música provam o 'efeito sanfona' da quarentena

Primeiro, foi a fuga de alunos, no início da pandemia; agora, cresce interesse no aprendizado de instrumentos musicais e técnicas de canto

Augusto Pio 27/07/2020 07:40
Divulgação
Inácio Cavallieri conta que tem aumentado a procura por aulas de ukelele, instrumento de fácil aprendizado (foto: Divulgação)

Um dos efeitos da longa quarentena em decorrência da pandemia do novo coronavírus é o aumento da procura por aulas de canto e instrumentos musicais. Muita gente que está confinada em casa tem procurado ocupar o tempo adquirindo ou incrementando uma habilidade musical, segundo a constatação de escolas e profissionais de música atuantes na capital mineira.

Márcio Durães, diretor da Escola de Música Popular (ex-Pró-Music), há 25 anos em atividade, diz que “logo no início da pandemia foi um desespero, pois muitos alunos desistiram por medo e desinteresse nas aulas virtuais”. Ele conta que a escola chegou a perder cerca de 40% de seus alunos, depois de ter tido um início de ano promissor, com aumento do número de estudantes.

A EMP oferece cursos para instrumentos e canto nos níveis básico, intermediário, profissionalizante e técnico. Além disso, a escola também oferece cursos de gravação e produção musical, DJ e pré-vestibular. Mesmo antes da quarentena, havia opção de cursos on-line.

Mas a queda de inscritos foi acentuada, segundo Durães, porque “muitos alunos se assustaram” de início, com a incerteza do momento. No entanto, o prolongamento do período de isolamento social acabou contribuindo para a volta de grande parte desses alunos e o aparecimento de novos. “Nosso forte sempre foram as aulas de canto, porém, com a pandemia, a procura migrou para as de violão”, conta.

Segundo o empresário, a escola recuperou mais da metade dos alunos que haviam desistido. “Felizmente, a procura vem crescendo a cada dia, pois professores e alunos já se adaptaram às aulas on-line. De certa forma, a quarentena possibilitou o aparecimento de novos interessados.”

Há 23 anos no mercado, a Cavallieri Escola de Música oferece mais de 25 cursos de instrumentação, além de canto e pré-vestibular. O diretor Inácio Cavallieri conta que sua escola passou por uma experiência semelhante à da EMP. “A princípio, os alunos ficaram meio receosos, mas, aos poucos, foram se acostumando com as aulas on-line e até mesmo vendo muitas vantagens desse modo remoto.”

CANTO

Cavallieri diz que o carro-chefe da escola são as aulas de canto e que muitos dos alunos têm o objetivo de participar de programas de TV, como The voice Brasil. “Mas as aulas de violão, guitarra e piano também têm uma boa procura. Recentemente, aumentaram as aulas de ukulele, que é um instrumento com aparência de um cavaquinho, porém fácil de se aprender a tocar.”

O professor de violão e guitarra e empresário observa que, “infelizmente, a pandemia continua causando perdas nas famílias”, mas diz que “o fato de as pessoas estarem cumprindo isolamento social em suas casas faz com que elas busquem algo para passar o tempo. E aprender a cantar ou a tocar um instrumento vem sendo um dos lazeres preferidos”. Ele nota que os novos alunos “pertencem a várias faixas etárias”.

Algo que Cavallieri tem ouvido dos alunos a respeito do modelo de aulas a  distância é que a comodidade de não ter que se deslocar até a escola é uma grande vantagem.

Professor de bateria desde os anos 1980, Dudu Batera estima ter ensinado a aproximadamente 3 mil alunos em sua escola. “Funcionamos de maneira presencial por mais de 30 anos em uma sala no Centro da cidade. Porém, resolvi partir no ano passado para as aulas on-line. As despesas cresceram e acabei passando a sala e comecei a dar aulas de maneira remota”, relembra.

Batera diz que os alunos não estranharam as aulas virtuais e que, com a chegada da quarentena, a procura aumentou ainda mais. “Acredito que eles perceberam que é muito mais cômodo estudar e praticar em casa por meio de aplicativos. Mesmo porque no Centro era complicado, com assaltos e a dificuldade de estacionar o carro.”

Para o professor, a possibilidade de dar aulas sem ter se sair de casa e de perto da família e de seus pets é uma vantagem.   “Dou minhas aulas por meio dos aplicativos Zoom e WhatsApp. Acredito que este ano a procura por minhas aulas tenha sido maior em decorrência da pandemia.” Dudu acredita que as vagas que restam em sua agenda de professor devam estar preenchidas até o mês que vem. “Mesmo porque essa quarentena parece que ainda vai durar um bom tempo. Novos alunos aparecerão com certeza.”

MAIS SOBRE MUSICA