Autores profissionais querem orientar os escritores da quarentena

Escritores, professores e tradutores planejam lançamento de plataforma com supervisão do processo de criação e dicas práticas para publicação

Pedro Galvão 08/07/2020 07:58
Túlio Santos/EM/D.A Press
A escritora Ana Elisa Ribeiro, que leciona no Cefet, em registro de outubro do ano passado (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Se na língua portuguesa costumamos dizer “tirar do papel” sobre aquilo que pretendemos colocar em prática ou executar, para quem se dedica à escrita o sentido se inverte. Como o caminho da criatividade que leva as palavras até o papel nem sempre é simples, um grupo de escritores e profissionais da área se articulou para facilitar a vida de quem pretende materializar as ideias em publicações.

Na plataforma Vida de Escritor, a ser viabilizada via financiamento coletivo e lançada em breve, a proposta é auxiliar desde a produção dos textos até a entrada no mercado editorial.

“A ideia é ajudar outras pessoas a entrar na vida de escritor, oferecendo oficinas, palestras, mentorias e outros serviços para uma parcela da população que tem esse interesse”, sintetiza a poetisa e escritora belo-horizontina Ana Elisa Ribeiro, doutora em linguística pela UFMG, professora do Cefet-MG e integrante do projeto, idealizado pelo escritor e roteirista Marne Lúcio Guedes.

A equipe tem um total de 17 pessoas, entre as quais autores, professores, tradutores e finalistas de prêmios importantes, como Nelson de Oliveira, Márcia Barbieri, Fábio Fernandes e Petê Rissatti.

Ana Elisa Ribeiro observa que, “dos anos 2000 para cá, o independente virou a condição mais comum das editoras”, com muitos autores editando o próprio livro e depois os de outros. Para a escritora mineira, a atual facilidade ao acesso a recursos técnicos para a publicação de conteúdos literários torna essa produção mais complexa.

“Hoje são muitos canais, muito mais do que há 30 anos. Mas essa sensação de facilidade pode tornar o cenário pior, no sentido de a pessoa achar que é mais fácil do que realmente é”, argumenta. Segundo ela, “as pessoas podem fazer quase todas as etapas do processo sozinhas, mas, às vezes, falta noção do que é produzido. A ideia da plataforma é justamente orientar as pessoas num universo muito complexo e cheio de possibilidades”.

QUARENTENA 

Ou seja, o serviço que será oferecido e cobrado pelo Vida de Escritor procura encaminhar a produção literária de quem é menos familiarizado com o setor. “É um hub de pessoas com capacidade para dar esse tipo de retorno, desde as mentorias, que ajudam a escrever o texto, a partir da interlocução com alguém mais especializado que vai orientar, sugerir, até o encaminhamento final para as editoras, com nosso conhecimento do mercado”, diz Ana Elisa, entendendo que essa necessidade cresceu na quarentena, quando mais gente teve a oportunidade de desenvolver o próprio trabalho literário.

“Apesar de o mercado editorial ter parado com a pandemia e enfrentar muitas dificuldades, a quarentena fez com que muita gente esteja querendo publicar, justamente por ter passado mais tempo em casa. Quem tinha projetos antigos teve tempo para retomar e escrever. Além disso, novas ideias surgiram nesse período. Antes do Vida de Escritor, muita gente me procurou pedindo ajuda e indicação sobre diagramação, revisão. Esse volume de produção gerou um efeito de ‘o que eu faço agora?'”, comenta a autora de Dicionário de imprecisões, lançado ano passado pela editora Leme, e outras publicações anteriores.

Ainda neste mês deverá ser lançado um programa de financiamento coletivo para que o Vida de Escritor se viabilize. Quem colaborar terá como contrapartida a inscrição em oficinas e acesso a outros serviços da plataforma. A previsão é que ela esteja no ar em setembro.

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