Astros da música brasileira não embarcam na febre das lives

Opção para artistas impedidos de subir ao palco durante o isolamento social, shows on-line não seduzem Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria Bethânia e o grupo de rap Racionais

Estadão Conteúdo 01/06/2020 07:48
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(foto: Divulgação)

 
“Caetano, quando você vai fazer a live?”. Quem acompanha as redes sociais de Caetano Veloso (foto) já viu que ele é sempre instigado pela companheira e empresária Paula Lavigne a aderir à febre das apresentações ao vivo na internet. Ele diz ora que está pensando, ora que está “esperando a voz estar boa”. Vídeos postados por Lavigne viraram diversão para os fãs e são tema até das lives de Marcelo Adnet em cartaz no perfil do humorista no Instagram.

Assim como Caetano, outros nomes da música brasileira não deram as caras nas lives. Uns por escolha, como o cantor e compositor baiano. Outros por falta de condições técnicas, por não tocarem um instrumento ou mesmo por falta de patrocínio.

Ney Matogrosso é outro que foge das lives. “Não sinto atração por fazer. Talvez seja medo da novidade”, diz. Maria Bethânia bate ponto na lista dos “sem live”. A assessoria da cantora diz que ela não tem planos de se apresentar nas redes sociais, apesar dos pedidos dos fãs.

 

O produtor musical Marcus Preto diz compreender que nem todos se sintam à vontade nas lives. “É um formato novo para eles, que pensam: ‘Será que o som vai ficar bom?’. Também não terão a equipe que costuma ficar no palco e resolve qualquer problema com rapidez”, explica.

O grupo de rap Racionais MCs, que soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, aponta um outro motivo para a ausência no movimento. De acordo com sua assessoria de imprensa, Mano Brown e companheiros não querem passar a impressão de que estariam desrespeitando o isolamento social, pois uma apresentação deles reuniria ao menos oito pessoas no mesmo ambiente.

DE FORA

Porém, há um grupo de artistas à margem das lives. São nomes ainda atuantes – como Claudette Soares, Eliana Pittman, Doris Monteiro, Luiz Ayrão, Zezé Motta, As Galvão –, mas sem possibilidades de aderir à única forma de apresentação possível neste momento de pandemia.

O produtor Thiago Marques Luiz é responsável por revitalizar as carreiras de Cauby Peixoto e Angela Maria, no início dos anos 2000. De certa forma, especializou-se em trabalhar com veteranos. Ele traçou um perfil dos preteridos: mais de 70 anos de idade, 50 de carreira, sem número expressivo de seguidores nas redes sociais e que precisam de pelo menos um músico presente – o que, por estarem no grupo de risco para o coronavírus, não é recomendável.

“Eles estão em casa, sem trabalho por conta da pandemia. Muitos se sentem inúteis, mas a história que construíram ao longo da carreira é muito importante para ser esquecida neste momento”, adverte Marques Luiz.

O produtor criou o projeto Vozes da Melhor Idade. A ideia é que artistas façam pequenos vídeos contando suas histórias e mostrem uma canção de seu repertório, para que depois, em estúdio, um violonista grave o acompanhamento. “Já bati em várias portas em busca de patrocínio, mas não houve interesse”, lamenta Luiz.

DESAFIO

Aos 73 anos, a cantora Eliana Pittman havia acabado de lançar o álbum As divas do sambalanço (ao lado de Claudette Soares, de 83, e Doris Monteiro, de 85) quando foi declarada a pandemia. “Estou dentro de casa tentando me reinventar. Esse é o desafio do momento”, afirma Eliana, que mora sozinha, em São Paulo, e pede ajuda de um vizinho quando quer gravar vídeos para postar nas redes sociais. O trio tinha seis shows marcados, mas tudo foi interrompido.

O compositor Luiz Ayrão, de 78, se diz preocupado com a falta de qualidade técnica que poderia oferecer ao fazer uma apresentação de dentro de seu apartamento, em São Paulo, onde passa a quarentena ao lado da mulher e de um neto. “Não acho que ficaria interessante. Para fazer de qualquer jeito, prefiro não fazer”, diz.

Grupos como MPB-4 e Quarteto em Cy, também com limitações para se reunir, buscam marcar presença na internet. O primeiro resolveu a questão com um vídeo no qual cada integrante gravou sua participação de casa e, depois, as vozes e os instrumentos foram reunidos.

Já Cynara Faria, uma das fundadoras do Quarteto em Cy, cantou acompanhada dos filhos, representando o grupo.

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