Saiba quem é o DJ de Venda Nova que faz sucesso fora do Brasil

VHOOR foi citado pelo jornal britânico 'The Guardian' entre os destaques da música brasileira atual. Ele lança nesta sexta (8) o disco 'Baile & vibes', que mescla funk e eletrônica

Guilherme Augusto 08/05/2020 08:26
Daniel Silva /Divulgação
Victor Hugo começou a produzir música para animar as noites do bar de propriedade de sua mãe, em frente à Quadra da Vilarinho (foto: Daniel Silva /Divulgação)

Entre as inúmeras cenas musicais que existem hoje no Brasil, a de música eletrônica talvez seja a menos popular, reservada a um público específico – frequentador de festas e casas noturnas. Diante disso, DJs e beatmakers buscam (e encontram), por meio da internet, espaço e reconhecimento no cenário internacional, como é o caso do produtor mineiro Victor Hugo, de 22 anos, conhecido pelo projeto VHOOR.

Misturando diferentes referências da música brasileira com tendências globais, ele foi parar no jornal britânico The Guardian, numa lista organizada pelo renomado DJ francês Gilles Peterson, apontando aqueles que ele considera os nomes mais interessantes no cenário atual da música brasileira.

“Acho engraçado e muito legal que meu som chegue tão longe, atingindo um público que eu nunca esperaria”, comenta Victor Hugo. “Hoje, os Estados Unidos são o principal público da minha música, assim como tem muita gente da França me ouvindo. É incrível atingir esse reconhecimento fora por um trabalho que venho fazendo aqui.”


REFERÊNCIA

Nascido e criado em Venda Nova, na periferia da capital mineira, ele sempre foi atento às referências musicais trazidas pelos pais, que são do ramo. Quando a mãe abriu um bar em frente à Quadra da Vilarinho, Victor começou a frequentar os bailes que ali ocorriam e passou a se interessar não somente por ouvir as músicas que divertiam os clientes, mas também em produzi-las.

“No começo, não tinha muita estrutura e, com o tempo, fui aprendendo, surfando no YouTube e assistindo a vídeos sobre produção musical, agregando cada vez mais referências, tanto de música brasileira quanto de música global. O VHOOR nasceu desse desejo de misturar as músicas brasileiras com movimentos de música eletrônica e batidas globais, com o objetivo de trabalhar tanto o que está acontecendo aqui quanto o que está rolando lá fora”, diz ele.

Em seu EP de estreia, Dia (2017), ele já começava a mostrar que poderia alcançar o propósito com tranquilidade. Construído conceitualmente em torno de três faixas – Amanhecer, Entardecer e Anoitecer, o trabalho traz samples, ou seja, ele reutiliza canções originalmente cantadas por Paulo Diniz e Bebel Gilberto. O mesmo ele exercita em Brazilian Boogie EP (2018), dedicado ao soul, à dance music e ao samba, e também em MPBEATS (2019).


BRASILIDADE

 “Nesses trabalhos, busquei valorizar a brasilidade por meio de sons que encontro em uma série de blogs que falam de música brasileira. Ao entrar em contato com essas músicas, vou selecionando o que vai agregar esteticamente para o que eu estou produzindo. Aí recorto partes de algumas músicas e tento dar uma modificada para poder criar diferentes texturas”, conta.

O resultado é uma colagem de diferentes estilos, que, quando colocada sob os beats de uma forma bem pensada, resulta em uma criação, baseada em uma construção quebradiça e cheia de viradas interessantes.

Imagem, por exemplo, que caiu no gosto de Gilles Peterson, traz um sample de Oba, lá vem ela, do grande Jorge Ben Jor, lançada em 1970, que resulta num instrumental que evoca, justamente, uma imagem tropical.

A outra faceta do trabalho de Victor Hugo, e a que talvez o transforme, num futuro não tão distante, em um grande produtor reconhecido em seu próprio país, é a que envolve o funk.

“Para mim, esse é o estilo que sempre me acompanhou a vida toda e que mais se relaciona com a minha história. Então resolvi desenvolver a série Baile &... com o objetivo de mostrar, principalmente para a galera de fora, como o funk tem evoluído no Brasil conceitualmente”, explica.

“Até aqui, o meu trabalho tem sido usar elementos de trap, estilo que tem feito bastante sucesso no exterior, para construir funks com os bpms que a gente utiliza. Então, estou pegando uma ferramenta de fora para mostrar como a coisa é feita aqui dentro, e os beatmakers estrangeiros têm gostado de ver novas fórmulas aplicadas ao que eles já produzem.”

No primeiro álbum da série, Baile & beats (2018), além de samplear a ótima Popotão grandão, de MC Neguinho do ITR, Victor Hugo adiciona ao funk elementos de soul e jazz, tudo isso em 130bpm, o que resulta em um R&B da quebrada de primeira categoria.

Em Baile & trill (2019), ele realiza um experimento do baile funk dark. “Nele, uso elementos do proibidão associados a batidas consideradas pesadas em termos de atmosfera. A maior referência para essas músicas foi o drill, que é um estilo de trap marcado justamente pela abordagem sombria”, comenta. Destaque para a versão reimaginada de Coisas da vida, de MC Rogê.

O terceiro álbum da série, Baile & vibes, chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (8) e mostra a evolução da velocidade do funk aliada a novas estéticas e beats, referenciado sobretudo na música eletrônica.

Confinado em casa em razão da pandemia do novo coronavírus, o DJ e beatmaker tem aproveitado para trabalhar em materiais que pretende usar em trabalhos futuros. “Como me considero mais um artista da web que um artista que precisa da performance ao vivo para sobreviver, esse período de isolamento tem sido até tranquilo. Ainda devo participar de algumas lives e, quando isso tudo acabar, vou apresentar essas músicas no meu set”, afirma.

E, quem sabe, chegar mais longe.

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BAILE & VIBES
• De VHOOR
• Independente
• Disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta (8)

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