Ícones do jazz, Ellis Marsalis e Bucky Pizzarelli morrem após contraírem coronavírus

Dois são grandes nomes do estilo e deixam filhos também músicos

Estado de Minas 03/04/2020 08:00
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Ellis Marsalis foi um dos grandes nomes do jazz mundial (foto: jewel samad/afp)
Dois grandes nomes do jazz mundial morreram na última quarta-feira (1º). Ellis Marsalis, de 85 anos, e Bucky Pizzarelli, de 94 anos, foram vítimas do novo coronavírus.

Aclamado pianista e professor, que participou em dezenas de álbuns ao longo de uma carreira que se prolongou por várias décadas, Ellis teve seis filhos, dos quais quatro se tornaram músicos famosos. O trompetista Wynton Marsalis acumula 33 indicações ao Grammy e é o diretor artístico da área de jazz do Lincoln Center, em Nova York.

Branford Marsalis é saxofonista e vencedor de três Grammys. É também o líder da banda Tonight Show e excursionou com músicos como Sting. Delfeayo Marsalis é trombonista e também um bem-sucedido produtor musical. Jason Marsalis é percussionista. O irmão deles Ellis III decidiu seguir a carreira de fotógrafo. Mboya Marsalis tem autismo. A mulher de Ellis, Dolores, morreu em 2017.

"É com grande tristeza que anuncio o falecimento de meu pai, Ellis Marsalis Jr., como resultado das complicações do coronavírus", afirmou Branford em um comunicado publicado em seu site, no qual explica que Ellis havia sido hospitalizado no sábado passado.

"Meu pai foi um músico e um professor gigante", disse Branford. "Ele fez tudo o que podia para nos tornar o melhor que poderíamos ser."

Wynton publicou fotos dele ao lado do pai no Twitter com um breve comentário: "Ellis Marsalis, 1934-2020. Ele se foi do jeito que viveu: aceitando a realidade."

Ellis III explicou à Associated Press que a causa da morte foi pneumonia, “mas foi pneumonia em decorrência da COVID-19”.

Nascido em Nova Orleans, epicentro do jazz mundial, em novembro de 1934, Ellis gravou com pesos-pesados,  como Cannonball e Nat Adderley, Marcus Roberts e Courtney Pine.

Assim como foi mentor dos filhos Wynton e Branford, que se tornaram músicos de renome mundial, o falecido pianista foi uma figura emblemática do Centro de Artes Criativas de Nova Orleans, da Universidade de Nova Orleans e da Universidade Xavier da Louisiana.

EXCELÊNCIA 

No texto publicado em seu site, Brandford inclui uma declaração do professor de direito em Harvard David Wilkins, no qual ele diz: “Nós todos podemos ficar maravilhados com a enorme audácia de um homem que acreditou que  poderia ensinar seus filhos negros a ser excelentes num mundo que negava essa possibilidade e então vê-los atuar para redefinir para sempre o que a excelência significa.”

Ellis Marsalis continuou se apresentando regularmente, até dezembro passado. Entre seus alunos que se tornaram músicos famosos no mundo do jazz estão Harry Connick Jr., Nicholas Payton, Terence Blanchard, Donald Harrison, Victor Goines e Reginald Veal.

Marsalis era filho de um funcionário de hotel que costumava hospedar músicos negros em turnê pela cidade. Eles eram impedidos de ficar em outros locais, no período da segregação racial. Durante os anos de colégio, tocava saxofone e passou a tocar também piano na universidade.

O apresentador do programa de rádio American routes e professor de antropologia Nick Spitzer define Ellis Marsalis como “um modernista numa cidade de tradicionalistas”. Segundo Spitzer, “seu grande amor era o jazz à la bebop – ele adorava Thelonious Monk e a ideia de que o bebop era uma música de liberdade. Mas, quando tinha que alimentar sua família, ele tocava R&B, soul e rock no Bourbon Street”.

Bucky Pizzarelli

Outro grande nome do jazz mundial, o guitarrista Bucky Pizzarelli, teve sua morte confirmada pelo filho, John Pizzarelli, que é cantor e guitarrista. Bucky ficou conhecido na cena de jazz nova-iorquina dos anos 70. Ele se tornou, na ocasião, um dos músicos de estúdio mais requisitados da indústria. Nos anos 50 e 60, gravou em centenas de jingles e músicas pop.

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(foto: Divulgação)
Participou da gravação da versão original de "Stand by Me", de Ben E. King. Outro clássico que teve participação de Bucky foi "Fly Me to The Moon", de Frank Sinatra, entre outros hits. Nascido em janeiro de 1926, aprendeu a tocar em casa, e começou a carreira como instrumentista ainda na adolescência.

Começou a tocar com seu filho John nos anos 1980, seguindo tocando nas décadas seguintes. Em 2015 e 2016, Pizzarelli enfrentou problemas de saúde, incluindo um derrame e pneumonia, que o afastaram dos palcos. Mas conseguiu retomar as atividades. Entre os músicos com os quais ele tocou, também estão Stanley Jordan, Sarah Vaughan, Nat King Cole, Miles Davis, Tony Bennett e Dizzy Gillespie, entre outros. Pizzarelli deixa o filho, a mulher, Ruth, duas filhas, Anne e Mary, e quatro netos.

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