Lagum se isola socialmente, mas lança single na internet

Banda mineira exorta fãs a levar a sério a pandemia, mas avalia que poderá manter plano de lançar terceiro álbum no segundo semestre

Pedro Galvão 25/03/2020 06:00

Nas plataformas digitais, já é possível para a (cada vez maior) legião de fãs do Lagum conferir Hoje eu quero me perder, primeiro single do terceiro álbum da banda mineira, ainda sem título definido. A música foi lançada na sexta-feira (20), junto com o videoclipe, que já acumula mais de 230 mil execuções no YouTube.
Até aí, nada fora da rotina do Lagum, que se tornou um dos mais populares grupos do pop rock nacional nos últimos anos. Porém, para quem vinha fazendo pelo menos dois shows semanais por todo o país, as próximas semanas terão aspectos inéditos para os jovens, adeptos da estrita rotina de isolamento social necessária ao esforço de deter o avanço da disseminação do coronavírus no Brasil.

Pedro Milagres/Divulgação
O Lagum mantém a previsão de lançar seu terceiro álbum no segundo semestre e já tem pronto o clipe do segundo single (foto: Pedro Milagres/Divulgação)

Em sua casa, num condomínio fechado em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, o vocalista e compositor Pedro Calais diz que o fato de estar isolado no local onde vive desde a infância torna as coisas mais fáceis. A namorada de Pedro, Giullia Buscacio, atriz que atualmente interpreta Isabel Abílio de Lemos na novela Éramos seis, da TV Globo, veio do Rio de Janeiro para fazer companhia ao músico. Foi para ela que ele compôs a letra do single recém-divulgado.

Giullia participa do clipe recém-lançado pela banda. Pedro diz que a situação de pandemia não traz implicações maiores para o planejamento do novo álbum, cujo lançamento está previsto para o segundo semestre, sem data definida.

“Está tudo feito, gravado. O que está em fase de mixagem e masterização é feito de casa pelas pessoas responsáveis, e já temos outro clipe pronto, para daqui a dois meses”, afirma.

Para o cantor, o momento tem sido de introspecção, depois da dedicação que o disco exigiu e pela ausência de agenda de shows no momento.

“Não estou em fase de criação. Acabamos de gravar o disco, então agora são esses trabalhos mais chatos e burocráticos de planejamento e divulgação, que articulamos de casa, conversando pela internet. No mais, tenho visto muitos filmes e procurado ler mais. Depois que isso tudo passar, com certeza terei absorvido algo que pode inspirar uma música. Nós que somos artistas passamos por isso, mas, por enquanto, estou curtindo a Giulia, que está comigo, aproveitando o tempo com ela”, diz o vocalista de 23 anos.

CONSCIÊNCIA

Ciente da força do Lagum entre o público jovem, Pedro Calais reforça a conscientização sobre a gravidade da epidemia. “Sei que tem gente em situação muito mais complicada do que a minha. Como eu disse, não mudou tanta coisa para mim, que sou acostumado a estar aqui quando não tem turnê, mas é preciso alertar todos de que é uma coisa muito séria. É necessário ter uma consciência coletiva, entender que sair de casa é colocar mais pessoas em risco e retardar o processo de controle da doença”, afirma.

Corte inevitável na rotina dos músicos, os shows são aquilo de que o guitarrista Jorge Borges mais sentiu falta na primeira semana de quarentena. “Estar longe dos palcos é o mais difícil. Quando falamos de banda, falamos de uma estrutura que não é restrita aos cinco integrantes. É muita gente que trabalha, seja no escritório, nossa técnica de som, é um círculo muito grande, uma família. É um pessoal diretamente afetado, profissionalmente, é uma economia toda travada com a situação”, diz o guitarista.

Entre os mais de 10 shows do Lagum cancelados, ele lamenta em especial um marcado para Fortaleza, no Beach Park, que seria em 4 de abril. “Já estava com a cabeça lá”, conta. Jorge, de 25, também se encontra na região de Brumadinho – onde o Lagum se formou há alguns anos  –, no mesmo condomínio em que está o parceiro Pedro.

Porém, os contatos entre os dois se dão só a distância.  “Estamos perto e longe ao mesmo tempo. Moro com pessoas do grupo de risco, então não posso sair e procuro falar com as pessoas para fazer o mesmo”, afirma. Muito além da situação particular da banda, o guitarrista se diz mais preocupado com os desdobramentos globais da pandemia.

“O primeiro momento para mim foi de muito medo e ansiedade. Procurei identificar e vi que estava excessivamente focado nos noticiários, muito imerso naquilo, e aí resolvi fazer uma quarentena também das redes sociais. Tenho buscado aproveitar o que eu gosto, como livros, filmes, ouvir música. Não vou me alienar, mas sempre procurando me manter saudável. Além disso, tem um disco para sair, que exige alguns planejamentos, nos quais estamos trabalhando”, explica Jorge.

Com o “cartão de visitas” já entregue ao público em Hoje eu quero me perder, os dois integrantes dão pistas do que mais o público pode esperar do próximo álbum. O primeiro livro que Pedro Calais terminou de ler na quarentena – e que faz questão de indicar aos fãs – é Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão (Editora Paralela), escrito por Graziela Gonçalves, ex-companheira do vocalista do Charlie Brown Jr.. A escolha é um dos indícios da viagem aos anos 1990 que o Lagum pretende fazer no novo trabalho.

“Esse single não foi a primeira música que a gente compôs, mas é a primeira que produzimos. Buscamos referências estéticas e musicais na virada dos anos 1990 para os anos 2000, tanto do Brasil quanto lá fora. São melodias mais jogadas, uma música pop mais zoada, mais extrovertida, com algumas piadas nas músicas e nos clipes”, explica Calais.

Além do Charlie Brown Jr., ele cita bandas daquela época, como Sugar Ray, Sum 41 e Blink 182, como inspirações conceituais pela “energia adolescente e a ideia de se divertir”. Isso já é visto nesse primeiro clipe, em que o grupo faz coreografias, usa perucas e brinca com as palavras da letra, que mais uma vez trata com leveza temas como amor e relacionamentos, no que já é uma marca registrada da banda.

Jorge explica que ideia foi construída depois que Pedro compôs as primeiras músicas. “Ao contrário do Coisas da geração (2019), nosso disco anterior, que tinha uma história envolvendo as faixas, nesse a gente traz o conceito de forma diferente. Vimos que tinha a ver com o pop rock dos anos 90 e 2000, então buscamos essa influência do Sugar Ray, Sublime, Red Hot Chili Peppers, da voz mais rasgada, violão, o sample de scratch (efeito sonoro produzido pelos DJs ao “arranhar” um disco na vitrola), tudo isso sem perder a identidade da banda. Hoje eu quero me perder é a porta de entrada para esse universo, que ainda terá muitas surpresas para os fãs e parcerias muito legais que gravamos”, diz o guitarrista. A nova música está disponível nas principais plataformas digitais.


HOJE EU QUERO ME PERDER

Confira a letra do novo single do Lagum

Eu curto te ver de biquíni saindo do mar
Beijar sua pele salgada me faz lembrar
De coisas boas
Eu curto seu cabelo curto do 'jeitin' que tá
E quando cê arruma ele só pra eu bagunçar
Coisa louca
Quero sonhar com você, dormir do seu lado
Nunca leve a sério se eu disser pra me esquecer
Quero estar com você sem tempo contado
Vê se não demora que eu tô louco pra te ver
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Em você
Sei que cê curte me ver solto assim como eu nasci
E eu curto o som de cada frase que você me diz
Nem preciso dizer nada pra você me ouvir
Sei que eu já disse antes, mas tô nem aí, vou repetir
Quero sonhar com você, dormir do seu lado
Nunca leve a sério se eu disser pra me esquecer
Quero estar com você sem tempo contado
Vê se não demora que eu tô louco pra te ver
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Em você
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Hoje eu quero me perder
Em você

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