Morre guitarrista do Gang of Four, a influente banda do pós-punk

O inglês Andy Gill tinha 64 anos e se destacou pelos 'anti-solos' que influenciaram Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Titãs e Legião Urbana

Carlos Marcelo 01/02/2020 19:04
Reprodução/Internet
Andy Gill dizia ter conexão com a brasileira Legião Urbana (foto: Reprodução/Internet )

Fundador do Gang of Four, uma das bandas mais influentes do pós-punk britânico, o guitarrista Andy Gill morreu aos 64 anos. O comunicado foi publicado no perfil oficial do grupo, que atribuiu a morte a uma 'breve doença respiratória'. A partir do EP Damaged goods, lançado em outubro de 1978, a banda se destacou pela sonoridade minimalista e austera, em oposição ao virtuosismo que marcou o rock dos anos 1970. 'Em vez de solos de guitarra e de jams intermináveis, fazíamos anti-solos, com interrupções e silêncios', explicou Andy Gill no livro Rip it up and start again: postpunk 1978-1984, do jornalista Simon Reynolds.

Na falta de definição mais apropriada, o estilo inovador de Andy Gill foi batizado de punk-funk e os lançamentos dos álbuns Entertainment! (1979) e Solid gold (1981) consolidaram a reputação da banda. Mesmo sem alcançar o topo das paradas, os discos e singles do Gang of Four conquistaram a crítica e admiradores. Bandas brasileiras dos anos 1980 como Titãs, Legião Urbana e Plebe Rude foram influenciadas pelos ingleses de Leeds.

Em maio de 2012, Gill veio pela primeira vez ao Brasil e participou de especial da MTV que reuniu Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e o ator Wagner Moura para interpretar músicas da Legião. 'Fazia música a mais de 10 mil quilômetros de distância e não tinha ideia de que minhas canções chegavam ao Brasil. Quando descobri a Legião Urbana, senti uma conexão', declarou o inglês à época dos shows no Espaço das Américas, em São Paulo. Com os integrantes da Legião e o baixista Bi Ribeiro, dos Paralamas, o guitarrista tocou o hit Damaged goods e Ainda é cedo. A formação mais recente do Gang of Four fez shows no Brasil em novembro de 2018, no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Além de guitarrista, Andy Gill se destacou como produtor. Assinou trabalhos como o disco de estreia do Red Hot Chili Peppers e Flea, baixista da banda californiana, reconheceu que sucessos como Can’t stop eram inspirados nos riffs do inglês.

No início do século 21, uma nova geração de bandas independentes - Franz Ferdinand, Rapture, Futureheads, The Rakes, Bloc Party - assumiu a importância do Gang of Four em suas carreiras. 'A desconstrução da sonoridade da guitarra foi uma grande influência para mim. A arte de Gill foi incendiária', escreveu Tom Morello, do Rage Against the Machine, ao lamentar a morte do inglês.

Com postura política incisiva, mas sem vínculos com partidos, o Gang of Four foi batizado com a alcunha dos quatro membros do partido comunista chinês que ganharam projeção nos anos 1970, nos anos finais da revolução cultural comandada por Mao Tsé Tung. 'Não acreditamos no individualismo; tudo que fazemos é um ato político', definiu o baixista Dave Allen, em 1978. 'É música democrática, a busca pelo estrelato não faz parte do nosso ideal', destacou o vocalista Jon King.

No início da carreira, conta Simon Reynolds em seu livro, o princípio da igualdade se estendia aos cachês: os quatro músicos ganhavam o mesmo valor; os roadies, por causa do trabalho pesado de carregar instrumentos e amplificadores, recebiam o dobro. No capítulo que dedica ao Gang of Four em seu livro, o autor de Rip it up and start again definiu o que tornava a banda singular: 'Guitarra, baixo e bateria existiam em pé de igualdade. E, nas canções mais arrepiantes, como Natural's Not in it, tudo estava a serviço do ritmo.'

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