Em ascensão no Brasil, músico César Lacerda testa público europeu

Ele nasceu em Diamantina, estudou em BH, viveu no Rio e se radicou em São Paulo, em busca de um 'mercado melhor, mais rico'. Agora, faz sua primeira turnê na Europa

por Ana Clara Brant 13/08/2019 08:00
Lorena Dini/Divulgação
(foto: Lorena Dini/Divulgação)

A primeira lembrança musical do cantor e compositor César Lacerda é de sua mãe, a pianista Maria Eunice, tocando Debussy ao piano, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, onde ele nasceu e morou até os 12 anos. As serestas também estão presentes em sua memória, assim como a influência do gosto musical de seu pai, José Antônio. “Ele organizou minha cabeça no sentido de gostar de música popular – Tião Carrero, Clara Nunes, música romântica brega. E isso vem fazendo muito sentido para mim. Cada vez mais, penso em tocar para o povo”, afirma.

Aos 32 anos, César Lacerda é um destaque em sua geração, atuando também na direção artística de discos e shows de colegas, em paralelo ao seu trabalho como cantor, compositor e instrumentista. A primeira experiência nesse sentido foi em dobradinha com Luiz Gabriel Lopes, em 2016, quando se dedicaram ao álbum Sol velho lua nova, do cantor e compositor Flavio Tris. Desde então, dirigiu Cola comigo, disco e show de Matheus Brant; Tenho saudade, mas já passou, disco e show de Luiza Brina; e Espiral, projeto que celebra os 20 anos de carreira da cantora e compositora Ceumar, que será lançado ainda este ano.

“Sou um pouco controlador, tanto no aspecto bom como no ruim. O disco acaba, mas o show podia ter uma coisa assim, assado. Por isso fiz a direção dos espetáculos também. E têm sido experiências muito ricas e interessantes”, afirma. César chegou a fazer a direção artística de seus primeiros álbuns – Porquê da voz (2013) e Paralelos & infinitos (2015). Já o terceiro, O meu nome é qualquer um (2016), foi um projeto especial realizado todo ao lado do compositor paulistano Romulo Fróes, que assinou a produção. O mais recente disco do músico, o elogiado Tudo tudo tudo tudo (2017), contou com direção artística de Marcus Preto. “O diretor artístico é aquela figura que elabora uma ideia. Junto com o artista, ele tenta fazer essa arquitetura, e o Marcus desempenhou muito claramente esse papel”, diz.

Depois de ter circulado pelo país com Tudo tudo tudo tudo, César em breve deverá levá-lo para o outro lado do Atlântico. A partir deste mês, o artista faz uma turnê de três meses pela Europa. “Tudo tudo tudo tudo foi muito positivo para mim. Ele passou por vários estados, foi para o Chile e, agora, vai para a Europa. Foi um momento muito feliz da minha carreira. Eu já tinha o desejo de um novo álbum, mas aí tanta coisa aconteceu neste país que achei melhor desacelerar. E percebi que o próprio disco ainda rendia”, conta. Além de seus quatro álbuns lançados, César Lacerda teve canções gravadas por Gal Costa, Maria Bethânia, Filipe Catto, Duda Brack, Julia Bosco e a banda Graveola e o Lixo Polifônico.

SINGLES A temporada europeia – que vai percorrer Portugal e Itália –, além dos shows, inclui o lançamento de dois singles. Um ao lado do cantor português Tiago Nacarato e o outro com a cantora brasileira Nina Fernandes, numa versão em italiano de Casa, composição de ambos, com tradução de Max di Tomassi. No Velho Continente, César Lacerda será agenciado por Inês Motta, agente de Caetano Veloso e de Jorge Drexler em Portugal.

Depois de ter se dedicado tanto aos trabalhos dos outros, o músico diamantinense sente que é o momento de voltar-se para si próprio. Agora, sobretudo aproveitando esse período longe daqui, ele vislumbra o novo projeto fonográfico. “A direção artística me fez aprender muito, mas é, ao mesmo tempo, incrível e desgastante. Vou aproveitar esse tempo na Europa e me concentrar no novo disco que quero fazer no ano que vem. Fiquei muito distante dos meus projetos, então quero compor, criar, me conectar comigo mesmo.”

Embora abrace também o formato de lançamento de singles, ele avalia que ainda faz muito sentido se dedicar à preparação de um disco completo. “Um músico se concentrar apenas em singles é a mesma coisa que um ator deixar de fazer peças de teatro só para recitar poesias. O single tem, sim, muita riqueza, mas é meio como duvidar da inteligência do ouvinte. Quero insistir nessa possibilidade de que o ouvinte ainda tem inteligência e paciência em me ouvir e me entender.”

Além de pianista, a mãe de César Lacerda foi diretora do Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita, no antigo Arraial do Tejuco. Maria Eunice também comandou uma escola de música na cidade histórica e foi ali que começou para valer a relação de César com sons e instrumentos. “Fiz uma semana de aula de piano e larguei. O mesmo aconteceu com o violão. Mas ainda toco os dois. Quando nos mudamos para Belo Horizonte, já que meus pais tinham essa intenção de os filhos estudarem na capital, fiz canto, violino e bateria na Fundação de Educação Artística, que foi importantíssima na minha formação. Na UFMG, estudei bacharelado em flauta transversal, mas me transferi para o Rio para concluir o curso e acabei não terminando”, conta.

Depois de morar no Rio de Janeiro por oito anos, ele se estabeleceu (há quatro) na capital paulista. “A mudança para São Paulo foi vislumbrando essa possibilidade de um mercado melhor, mais rico”, pontua. Mesmo morando fora de Belo Horizonte, César visita com frequência a cidade, não apenas para atender a compromissos profissionais, mas também por razões pessoais. Seus pais e a irmã, a cantora Malvina Lacerda,  vivem na capital mineira. O outro artista da família, o talentoso compositor erudito Sérgio Rodrigo, está radicado em Estrasburgo, na França. Já da terra natal, Diamantina, ele anda meio distante. “Deve ter uns três anos que não vou lá. Estou até precisando ir. É uma cidade tão especial e de uma profundidade do ponto de vista cultural, musical. Oscar Niemeyer se inspirou nos arcos do Mercado Municipal de Diamantina para criar sua arquitetura, que tem reconhecimento internacional. É, sem dúvida, um lugar que estimula e influencia a gente.”

DISCOGRAFIA

>> Porquê da voz (2013)

>> Paralelos & infinitos (2015)

>> O meu nome é qualquer um (2016, com Romulo Fróes)

>> Tudo tudo tudo tudo (2017)







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