Milton Nascimento é só emoção na estreia da turnê Clube da Esquina

Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, ficou lotado para ver Bituca cantar. Convidado da noite, Samuel Rosa disse que conheceu o Clube da Esquina antes dos Três Porquinhos

por Amanda Ferreira 17/03/2019 15:59
João Couto/Divulgação
Milton Nascimento cantou para o Cine-Theatro Central lotado (foto: João Couto/Divulgação)


Cenário personalizado, novos arranjos, participação especial de Samuel Rosa e o carinho do público marcaram a estreia da turnê Clube da Esquina, no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora. Sábado (16) à noite, Milton Nascimento – pela primeira vez – reuniu em um show canções dos discos Clube da Esquina 1 e 2, lançados, respectivamente, em 1972 e 1978. Clássicos de outros álbuns de Bituca também fizeram parte do repertório – entre eles, Maria Maria, Ponta de Areia e Paula e Bebeto.



O show foi dedicado a Lô Borges, que assinou com Milton o Clube 1. Cais, Nuvem cigana, Paisagem da janela, Trem azul, Lília, Um girassol da cor do seu cabelo, Paixão e fé e Mistérios estavam entre as 23 canções. Bituca tocou violão, sanfona e piano. Um dos momentos mais especiais foi o dedicado a Lília, faixa instrumental do primeiro disco, composta em homenagem a Lilia Campos, mãe dele. "Essa música não tem letra, porque não existem palavras no mundo que possam definir a beleza desta mulher", afirmou.

Milton contou para o público algumas histórias do Clube da Esquina, o movimento surgido nos anos 1970, em Minas Gerais, que mudou a história da MPB. Recordou a amizade com o letrista Márcio Borges, irmão de Lô. "Quando morei em Belo Horizonte, tocava baixo e tudo mais. Aí encontrei com o Marcinho e ele me disse: ‘Milton, você tem que compor’. Disse pra ele que gostava de cantar e tocar, só. Então, ele me levou ao cinema, assistimos a um filme francês umas 200 vezes. Quando terminou, fomos pra casa e naquela noite escrevi três músicas”, lembrou.

Bituca também voltou aos tempos de infância em Três Pontas, onde foi criado. Os pais adotivos, Lilia e Josino Campos, o levaram ainda pequeno para a cidade sul-mineira. “Um dia, chegou um cara dos Correios lá em casa levando a encomenda da minha madrinha. Era um presente pelo fato de minha mãe estar me criando. Olhei aquela encomenda e parecia um violão. Já fui direto para o meu quarto e, não sei como, fui treinando até conseguir tocar uma música, que nem sei mais qual é. Aí, chamei minha mãe e falei: ‘Se te contar uma coisa, a senhora promete que não vai ficar brava?’. Ela disse que não. Então, contei: ‘Chegou uma encomenda pra senhora e era um violão. Só que roubei o violão pra mim’. Aí, toquei a música pra ela. Ela me perguntou como eu tinha conseguido tocar. Respondi que não sabia, só fiz”, revelou Bituca, sob aplausos.

Outra homenageada foi Elis Regina, musa de Milton, que interpretou O que foi feito deverá (De Vera). Os dois dividiram os vocais nessa faixa do Clube 2.

Skank


Samuel Rosa foi o convidado especial da noite. “O Clube da Esquina chegou aos meus ouvidos antes mesmo dos Três Porquinhos e da Chapeuzinho Vermelho”, revelou, entre risos. “Fui praticamente educado com o Clube da Esquina, meu pai me aplicou logo de cara. Ele deve estar muito feliz no céu agora, ao ver essa sublime celebração”, disse Samuel, referindo-se ao psicoterapeuta e escritor Wolber Alvarenga, que morreu em 2012, em BH. Tocando violão, o vocalista do Skank interpretou Trem azul e Paula e Bebeto.

'Surreal'


“Foi a melhor noite da minha vida, uma energia surreal”, afirmou Samantha Ribeiro, de 22 anos, estudante de design de moda. Ela conheceu Milton Nascimento aos 12, por meio do avô materno, compositor. O estudante Augusto Costa, de 18 anos, deixou Cataguases, a 120 quilômetros de Juiz de Fora, só para prestigiar Bituca. “Sempre gostei de música mais antiga, principalmente do rock progressivo dos anos 1970. Conforme fui crescendo, descobri o Milton Nascimento. Não dá pra falar de MPB sem falar dele, é a maior referência”, disse Augusto.

A família Vargas – Ana Paula, Bruna, Paulo e Márcia – foi em peso ao Cine-Theatro Central. “Eles cresceram escutando Milton Nascimento”, contou a médica Márcia, de 61, mãe das garotas. “Ele é surreal, uma grande inspiração", afirmou, lembrando a importância política do Clube da Esquina, que enfrentou a censura durante a ditadura militar. “Apesar de antigas, as músicas são muito atuais. É como se fosse uma chamada para a população”, observou. “Foi um período político difícil e essas canções fizeram parte da história. Não tem como ouvir as músicas do Milton e não reviver todos os sentimentos daquela época”, afirma Paulo, de 62, marido de Márcia.

A turnê estreou na cidade que conquistou o coração de Bituca. Ele mora em Juiz de Fora com o filho, Augusto Kesrouani, e três cachorros (John, Bituquinha e Txai). Em 28, 30 e 31 de março, a turnê Clube da Esquina chega ao Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com ingressos esgotados. Depois, segue para Jaguariúna (SP), em 6 de abril; Brasília, em 13 de abril; São Paulo, em 27 e 28 de abril; Rio de Janeiro, em 17, 18 e 24 de maio; e Curitiba, em 1º de junho. No meio do ano, Milton vai se apresentar na Europa – França, Espanha, Suíça, Holanda e Portugal. De volta ao Brasil, retomará a turnê, com shows em Ribeirão Preto (SP), João Pessoa (PB) e Recife (PE). (Amanda Ferreira - especial para o Portal Uai)

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