Radiolaria, Bemti e Premiere lançam discos voltados para a música autoral, buscando ocupar espaço além da cena alternativa

Repertórios trazem Clube da Esquina, viola mineira e rock

por Mariana Peixoto 21/08/2018 09:00

A cada semana, uma avalanche de lançamentos chega às plataformas digitais. O mundo inteiro pode ouvir de tudo, mas a variedade é tanta que por vezes não passamos da ponta do iceberg. Três novos trabalhos vêm lançar luz sobre artistas independentes que tentam alcançar seu lugar ao sol em searas bem distintas. Os mineiros do Radiolaria chegam ao segundo álbum, Qualquer outra estação, apostando na sonoridade que reforça as influências harmônicas do Clube da Esquina e no rock de outras épocas.

Lucas Silvestre/divulgação
O mineiro Bemti contou com a participação de Johnny Hooker (D) no clipe de Tango (foto: Lucas Silvestre/divulgação )
 

Também mineiro, mas radicado em São Paulo, Bemti lança seu primeiro trabalho solo com a colaboração de Johnny Hooker. E para provar que rock é rock mesmo, a banda paulista Premiere estreia no mercado com um EP que vem, literalmente, fazendo barulho.

Guitarras atmosféricas

Nascido como trio e hoje um quinteto – Felipe Barros (voz, violão, guitarra), Felipe Xavier (voz e violão), Leonardo Laporte (teclados), Luiz Lobo (bateria e percussão) e Wagner Costa (baixo) –, o Radiolaria chega ao segundo álbum, Qualquer outra estação, após quatro anos da estreia fonográfica com Vermelho.

“Nossa influência mais básica são os Beatles. Cada um ouve uma coisa, mas tem Clube da Esquina também, tanto que as pessoas vêm identificando mineiridade no som. Há um experimentalismo nos timbres de guitarra, que são mais atmosféricas”, comenta Barros. O importante é o Radiolaria falar sua própria língua, diz.

Fernando Lutterbach/Divulgação
Radiolaria faz show quinta-feira, em BH, para lançar o disco Qualquer outra estação (foto: Fernando Lutterbach/Divulgação)

Qualquer outra estação, que será lançado na quinta-feira (23) no Teatro de Câmara, no Cine Theatro Brasil Vallourec, reúne 10 faixas autorais. “O show terá inserções poéticas antes de algumas músicas para mostrar a temática de cada uma delas. Na verdade, cada canção conta sua própria história”, continua Barros.

Produzido por Marcelinho Guerra, o álbum foi gestado aos poucos. Ao longo do processo, os músicos fizeram incursões a sítios no interior de Minas. “Por uma semana, ficávamos só os cinco, desligados de tudo. Conversamos muito sobre música, mostramos as composições uns dos outros. O disco ficou mais colaborativo (que o anterior). Está mais calmo, completo”, revela o violonista.

Com vocais trabalhados e harmonia bem cuidada, o álbum vai sendo descortinado aos poucos. A faixa-título, já com clipe lançado, carrega no lirismo das letras, com acompanhamento instrumental que vai num crescendo. Chamam a atenção a intensa Paloma, em espanhol, e a pop 25 de julho.

Depois da estreia oficial nesta semana, o Radiolaria se prepara para tocar em São Paulo e no Sul do país. “BH, que tinha ficado conhecida pelo cover, está assistindo ao retorno da música autoral graças a um público mais novo e curioso”, garante Barros.

QUALQUER OUTRA ESTAÇÃO

Show da banda Radiolaria. Quinta-feira (23), às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec. Praça Sete, Centro. Ingressos: R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia-entrada).




Viola folk e romântica


“Todos os quintais em que vivi sempre tinham bem-te-vi”, comenta Luis Gustavo Coutinho. Na hora de escolher um nome para a carreira solo, não houve dúvida: Bemti. Com o recém-lançado era dois, ele assume, de vez, sua porção cantor e compositor.


Tony Santos/Divulgação
Premiere: rock pesado com a bênção do produtor Rick Bonadio (foto: Tony Santos/Divulgação)

O disco reúne 10 faixas, todas autorais. Três singles anteciparam o álbum: A gente combina, Gostar de quem e Tango. A participação de Johnny Hooker nessa última fez dela o carro-chefe do projeto. A letra fala da perda de um amor em Copacabana. “Conheci o Johnny no ano passado. Na época, ele estava num processo parecido com o meu. Quando mostrei Tango, ele se identificou de cara”, conta Bemti.

O instrumento do músico é a viola,
aqui com uma pegada folk. “Ela não é explorada fora da música caipira, mas é muito versátil e frutífera para compor”, comenta. As canções intimistas de era dois, disco nascido a partir do fim de um longo relacionamento, misturam a viola com elementos eletrônicos.

Mineiro radicado em São Paulo há uma década – nasceu em uma fazenda em Serra da Saudade, no Centro-oeste, e viveu em Araxá –, Bemti chegou à maior metrópole brasileira com a intenção de se dedicar ao cinema. Estudou na USP, descobriu a música e formou a banda Falso Coral.

“Não sentia confiança para cantar minhas músicas. A banda era como escudo, eu atuava na posição de coadjuvante”, relembra. Quando se viu sozinho novamente – “com o fim do relacionamento, o círculo de amizades mudou” –, o mineiro percebeu que era chegado o momento de colocar a cara a tapa. “Estava meio no fundo do poço, então o disco acabou sendo terapêutico, pois a narrativa fala de reconstrução, de levantar de novo.”

A música de Bemti é universal, “mas quando estou falando de gênero, estou falando de homem”, observa. Para ele, ser artista LGBT que foge “do pop ou do lacre” é importante. “A gente tem que dar referência para as pessoas. Quero falar sobre ser gay, mas no meu estilo. Todas as manifestações são importantes, e é importante que a cena gay ocupe mais espaços.”



Rock em bom português

Antes de se tornar conhecido do grande público como jurado de realities shows musicais, Rick Bonadio, para o meio roqueiro, era o produtor que tinha descoberto Mamonas Assassinas e NXZero e recuperado Charlie Brown Jr.

Sempre com o radar ligado em bandas que podem voltar a colocar o rock como um produto comercial, o produtor, a cada temporada, aposta em novos nomes. O da vez atende por Premiere. O quarteto paulista – Jones (vocal), André Seven (guitarra), Lipão (bateria) e Felipe FR (baixo) – acaba de lançar um EP com cinco faixas (produzido por Giu Daga), tocando rock pesado em português.

Os músicos não são garotos, têm estrada. Buscaram referências no stoner rock e metal. “A gente estava desgostoso com a cena musical, quase largando mão”, conta Jones. No universo independente desde 1999, ele traz um vocal rasgado, forte, que cresce a cada refrão. Reencontrou-se com o guitarrista André, com quem havia tocado em 2014. “Não queríamos ficar preocupados com tendência. A ideia era fazer uma banda meio despretensiosa.”

Gravaram a faixa Corpo fechado, que acabou sendo o cartão de visitas para entrar no Midas, estúdio e selo de Bonadio. Foram chamados para participar do piloto de um reality musical ainda inédito. Na sequência, veio o convite para o EP, com cinco faixas.

Vai que vai é o primeiro single. O clipe explora clichês do rock: motocicletas, couro, groupies. Já na estrada, a ideia da Premiere é seguir com shows até dezembro. “Queremos fazer da ponta norte à ponta sul do país”, diz Jones. No repertório, além da porção autoral, estão bandas que são referência dos músicos: Beastie Boys, Sepultura e Alice in Chains.

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