Matemáticos descobrem autoria da música In my life, dos Beatles

Usando o modelo estatístico Sacola de Palavras, pesquisadores chegaram à conclusão de que John Lennon seria responsável pela música

por AFP Estadão Conteúdo 19/08/2018 08:00

Arquivo O Cruzeiro/EM
(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM)
 

Matemáticos que desenvolveram o modelo estatístico Sacola de Palavras dizem ter dirimido a dúvida sobre quem compôs a canção In my life, dos Beatles, cuja autoria foi reivindicada tanto por John Lennon quanto por Paul McCartney

Até hoje não se sabe ao certo quem escreveu a canção In my life, lançada pelos Beatles em 1965. No entanto, os matemáticos Mark Glickman e Ryan Song, da Universidade de Harvard, e Jason Brown, de Dalhousie, chegaram a uma resposta por meio de estatísticas.

O trio apresentou no Canadá o modelo Sacola de Palavras, que reúne os vocábulos de um texto sem considerar a ordem deles e a gramática. A partir dele, os pesquisadores observaram a frequência de termos usados por cada membro da banda e concluíram que a música foi escrita por John Lennon.

O matemático Keith Devlin, da Universidade de Stanford, explicou à rádio norte-americana NPR que os pesquisadores analisaram 70 melodias de Lennon e Paul McCartney e descobriram que havia 149 transições diferentes entre notas e acordes presentes em quase todas as músicas dos Beatles. Cada uma era exclusiva de um dos dois.

“A probabilidade de McCartney ter escrito In my life é de 0.018% – isso é essencialmente zero. É melhor acreditar na matemática em situações assim, pois é muito mais confiável do que as lembranças das pessoas”, afirma. “Especialmente porque eles colaboraram escrevendo nos anos 1960 com um estado mental completamente alterado devido a todas as coisas que estavam ingerindo”, completa.

A opinião de Devlin faz sentido ao se observar a contradição entre os dois músicos. John Lennon disse à revista Playboy, em 1980, que ele compôs a canção. In my life começou como uma viagem de ônibus partindo da minha casa. Mencionei todos os lugares que lembrava e foi chato. Então larguei mão disso, e a letra começou a ser sobre amigos e amores do passado. Paul ajudou com o meia-oito [ponte musical]”, recordou o vocalista.

Quatro anos depois, McCartney contou à mesma revista que deu ritmo à canção. “John esqueceu ou não achou que eu escrevi a música. Ele tinha um poema sobre rostos dos quais ele se lembrava. Recordo-me que eu saí por meia hora e sentei com um Mellotron [teclado] que ele tinha, fazendo a melodia”, explicou.



ASHRAM NA ÍNDIA  Depois de anos de abandono, o ashram onde os Beatles compuseram a maior parte do Álbum branco, na Índia, volta a receber fãs de todo o mundo. Hoje é difícil imaginar que os John, Paul, Ringo e George tenham ficado hospedados em habitações tão modestas.

Em fevereiro de 1968, os Beatles chegaram ao local, o retiro do guru Maharishi Mahesh Yogi. Poucos meses antes, o empresário do grupo, Brian Epstein, havia falecido, vítima de uma overdose de barbitúricos, e a tensão era palpável entre os Fab Four. Depois de uma iniciação na meditação transcendental no verão de 1967, em Gales, os quatro foram convencidos por Maharishi Mahesh Yogi (1917-2008) a ir com suas companheiras até o retiro de Rishikesh.

Os garotos de Liverpool foram acompanhados pelo músico Donovan, por Mike Love, dos Beach Boys, pela atriz Mia Farrow e pela irmã mais nova desta, Prudence, que passava os dias concentrada na meditação, trancada, o que gerou preocupação e inspirou John Lennon a compor Dear Prudence.

A fauna de Rishikesh também pode ter inspirado John em canções como como Everybody’s got something to hide except me and my monkey, que também poderia ser sobre a heroína e Yoko Ono. Ao observar dois macacos em um ato de reprodução, Paul e John tiveram a ideia para Why don’t We do it in the road, enquanto a presença de Mike Love contribuiu para o nascimento de Back in the USSR, paródia de California girls, dos Beach Boys.

Com exceção de Ringo Starr, que passou apenas 10 dias no local por problemas estomacais, o restante do grupo aproveitou o retiro e as sessões de meditação. “Senti-me como se fosse uma pena que flutuava sobre um tubo de ar quente”, contou mais tarde Paul McCartney.

Agit Singh, de 86 anos, dono de uma loja de instrumentos musicais, fica emocionado ao recordar o chá que ofereceu aos astros do rock. “Eram muito educados, não eram arrogantes”, afirma, antes de lembrar que consertou uma guitarra de John. “Sempre falei que eles eram boas pessoas.”.

Mas, com o passar do tempo, o ambiente ficou tenso, especialmente por causa dos boatos das insinuações sexuais de Maharishi e seu evidente desejo de ganhar dinheiro às custas dos pupilos famosos. Paul permaneceu no local por cinco semanas, enquanto George e John ficaram por dois meses. Quando Maharishi perguntou por que estavam deixando o retiro, Lennon teria respondido ao guru: “Se é tão cósmico, você vai saber”.

Apesar da mudança de sentimento, os Beatles contribuíram muito para a fama de Rishikesh entre os ocidentais e para a popularidade da meditação. Maharishi chegou a ser capa da revista Time em 1975. O ashram prosperou durante algum tempo, mas depois entrou em decadência, até ser abandonado em 2001. A vegetação dominou o local. A situação permaneceu assim até 2016, quando começou a reforma.

Atualmente o visitante precisa pagar ingresso – 600 rupias (7,50 euros) para os estrangeiros  e 150 rupias para os indianos. No local existe uma cafeteria, uma exposição de fotos e painéis informativos. (AFP e Agëncia Estado)

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