Candonguêro lança disco com músicas do carnaval de Ouro Preto

Grupo faz show de 'Era uma vez um carnaval' nesta sexta-feira (16), n'A Autêntica, com entrada franca

por Walter Felix 16/02/2018 09:54
Daniel Laia/Divulgação
Candonguêro faz show nesta sexta-feira (16) em BH embalado pelo frevo, marchinha, ciranda, afoxé, carimbó e samba-rock. (foto: Daniel Laia/Divulgação)

Quando se fala no carnaval de Ouro Preto, pode-se pensar em blocos estudantis, repúblicas lotadas e grandes shows em cima de trios elétricos. Mas a proposta do Candonguêro é outra: relembrar a antiga folia local com repertório de canções que até hoje são entoadas pelas ruas da cidade histórica. O grupo lança seu primeiro álbum, Era uma vez um carnaval, em show nesta sexta-feira (16), às 22h, n’A Autêntica.

A banda surgiu há 13 anos, por iniciativa do músico e pesquisador Chiquinho de Assis. “Quis reunir todas as minhas influências ouro-pretanas quando percebi que o carnaval da cidade vivia a ditadura do axé. Comecei a investigar a música produzida em Ouro Preto a partir de Amanhã (Túnel do tempo), composição de 1969 que toda a cidade sabe cantar o refrão”, revela Chiquinho.

A letra é de Edmundo Guedes – um dos compositores da cidade – e integra o álbum de estreia do Candonguêro. Em 13 faixas, o grupo realiza um percurso de 50 anos na história da música de Ouro Preto (da década de 1960 aos dias atuais), com releituras de importantes compositores para a cultura local, como Vandico, Jorge Adílio, dona Maria Ferreira, seu Walter das Latinhas e Vicente Gomes. “Nosso critério para seleção de repertório foi privilegiar a diversidade. Ao longo do disco, há espaço para frevo, marchinha, ciranda, afoxé, carimbó, samba-rock, entre outros gêneros”, conta Chiquinho.

Candonguêro é uma palavra de origem angolana que denomina o tambor utilizado no jango. Em certas localidades de Minas Gerais, passou a significar “fofoqueiro”, “leva e traz”, como conta Chiquinho. “Com esse nome, nós assumimos nossas influências de matrizes africanas, além de representar a fruição do nosso trabalho, que é levar e trazer música boa para públicos distintos”, explica.

Atualmente, Chiquinho é o único integrante do Candonguêro natural de Ouro Preto. Completam o grupo Chico Bastos, Pablo Malta, Christiane Cordeiro, Pedro Gomes, Gustavo Grieco e Fábio Martins.

COSMOPOLITA “Ouro Preto foi muito privilegiada, principalmente na segunda metade do século 20, por abrigar alguns dos principais festivais realizados no estado. A cidade recebeu artistas de ponta, totalmente comprometidos com a inovação cultural, o que proporcionou ao cidadão um contato direto com novas propostas em várias áreas artísticas”, ressalta Chiquinho.

Ele conta que tal movimento impactou a produção artística de quem viveu aquela época. Para o músico, parte do caráter cosmopolita da cidade nasceu nesta época em que Ouro Preto absorveu toda a influência cultural que circulava por ali. “Duas faixas do nosso disco, Sambei e Fiz a batucada, podem ser confundidas com os sambas cariocas. Há ainda um pot-pourri com frevos que remetem ao carnaval de Olinda, e Pra gente viver, um afoxé semelhante ao dos baianos”, exemplifica o músico.

SEM CONFRONTO Para Chiquinho, o carnaval da cidade “abaianizou-se” ao longo do tempo.  O artista nega, entretanto, que movimentos oriundos da indústria cultural confrontem diretamente a cultura da cidade. “Ouro Preto vive uma rivalidade entre os estudantes e os demais cidadãos, algo desnecessário principalmente no âmbito cultural. O Candonguêro, que atrai de jovens a avós e padres, teve seus primeiros ensaios dentro de uma república federal. Os estudantes nunca se negaram a curtir esse tipo de som, que valoriza a cultura local”, defende o músico.

Nas apresentações, o Candonguêro amplia seu repertório. “Em nossos shows, unimos Sonífera ilha, dos Titãs, a Abre alas, de Chiquinha Gonzaga, por exemplo. Nossa intenção é justamente passear pelo cancioneiro brasileiro, sem esquecer a proposta carnavalesca”, define Chiquinho.

CANDONGUÊRO
Show de lançamento do álbum Era uma vez um carnaval. Sexta-feira (16), a partir das 22h, n’Autêntica. Rua Alagoas, 1.172, Savassi. (31) 3654-9251. Entrada franca.

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