Jussara Silveira e Renato Braz homenageiam Gal Costa em novo CD

Produção do Selo Sesc leva as assinaturas de Mário Gil e do arranjador Dori Caymmi

por Kiko Ferreira 10/07/2017 08:00
Ricardo Ferreira/divulgação
(foto: Ricardo Ferreira/divulgação)
Gal Costa é uma cantora plural. De Caetano Veloso a Arnaldo Antunes, de Tom Jobim a Jorge Ben Jor, de Dorival Caymmi a Jards Macalé, ela passou com louvor no teste de diversidade sem perder pose e estilo por cinco décadas. Rock, bossa, jazz, samba, choro, forró, reggae… Ritmos, gêneros e estilos diversos sempre conviveram bem numa voz que oscila entre o cristal e o algodão com impressionante naturalidade.

O disco Fruta gogoia – uma homenagem a Gal Costa (Selo Sesc) reúne as vozes afinadas de Jussara Silveira e Renato Braz em torno de 18 temas selecionados entre os mais de 500 que a baiana registrou em cerca de 40 álbuns, desde o clássico álbum Domingo, que dividiu com Caetano Veloso e

Com direção musical de Mário Gil e arranjos de Dori Caymmi (o mesmo de Domingo), o tributo tem como base uma banda de alta qualidade, com destaque para os violões de Dori, Swami Jr. e Mário Gil, o baixo de Sizão Machado, o sax de Teco Cardoso, o piano de Itamar Assiere e o acordeom de Toninho Ferragutti. Pela característica dos intérpretes e pela tradição de Dori, além das presenças de orquestra de cordas, quarteto de cellos e de octeto de sopros, o clima geral é de calma, delicadeza e sutis diferenças.

O sofisticado projeto gráfico, com capa e encarte baseados na obra da artista plástica Regina Silveira, embala um trabalho com pegada da clássica MPB, sem elementos pop e rock que marcaram a Gal tropicalista, psicodélica e elétrica de alguns de seus momentos mais ousados e clássicos.

Focado no repertório registrado pela baiana entre o final dos anos 1960 e meados da década de 1980, o CD traz Renato Braz cantando solo em sete faixas, Jussara Silveira em outras seis. A dupla só divide o microfone em cinco canções. Quatro delas, sucessos de rádio: Estrada do sol, Tema de amor de Gabriela, Sorte e Teco-Teco. A quinta, que dá título ao disco, encerra a empreitada quase como uma vinheta, com menos de um minuto de duração e arranjo de Ferragutti.

REPERTÓRIO Entre os autores, Caetano é o mais presente. Dele, Gal já gravou mais de uma centena de músicas. E o baiano fica bem representado com Tigresa, Meu bem, meu mal, Baby e Força estranha. Depois vêm Tom Jobim, com Estrada do sol e Tema de amor de Gabriela, e Dorival Caymmi, com Modinha para Gabriela e Só louco. Num apanhado que simboliza bem a diversidade, estão os “malditos” Macalé (Vapor barato) e Luiz Melodia (Pérola negra).

Também responsáveis por sucessos de Gal, lá estão Chico Buarque (Folhetim), Lupicínio Rodrigues (Volta) e a dupla Celso Fonseca/Ronaldo Bastos (Sorte). A habilidade de desenterrar e atualizar clássicos de outrora fica registrada no choro Teco-teco (Pereira da Costa e Milton Vilela) e em Linda flor/ Yayá/ Ai, ioiô (Luiz Peixoto, Marques Porto, Henrique Vogeler e Cândido Costa), ponto alto das versões de Jussara.

Passarinho, raridade de Tuzé de Abreu tirada do disco Índia, de 1973, e a folclórica Fruta gogoia, tirada da tradição pernambucana, são os pontos fora da curva de grandes sucessos.

Com a proposta realizada com talento e competência, a homenagem a Gal Costa apresenta um recorte bem-estruturado de uma trajetória de meio século de relevância. Se servir para as novas gerações procurarem pela discografia da baiana, já será um sucesso. Para os conhecedores da carreira da cantora, o álbum oferece novos ângulos, novas vistas, novas cores.

FRUTA GOGOIA
• De Renato Braz e Jussara Silveira
• 18 faixas
• Selo Sesc
• Preço: R$ 20

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