Cantor Carlos Novas lança 10º álbum solo

Com sonoridade acústica, disco é dedicado a cantar as coisas de amor

por Kiko Ferreira 31/07/2015 11:00

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Carlos Nunes/Divulgação
(foto: Carlos Nunes/Divulgação )
Parece que foi ontem que apareceu um jovem cantor de voz afinada, gosto pela música popular brasileira tradicional e disponibilidade para inaugurar parcerias com seus ídolos e companheiros de geração. Mas já se passaram 18 anos desde a estreia em trabalho desse ex-divulgador e cantor de jingles. Com 'Crimes de amor', o paulista Carlos Navas chega ao 10º disco mantendo as reverências e buscando caminhos.


O melhor deles é abrir o CD com 'Sem destino', de Luiz Tatit, que sai do costumeiro estilo minimalista dos companheiros e seguidores do grupo Rumo para se transformar numa música “normal”. No tratamento de Navas, que já gravou homenagens a Mário Reis e Custódio Mesquita e dedica o disco à mãe, Tatit soa quase seresteiro. Ponto pra ele.


Com sonoridade acústica, distribuída entre violões e contrabaixos, com instrumentistas de alto nível, como Mário Manga, Swami Jr. e Dino Barioni, o disco é dedicado a cantar as coisas de amor. “Este álbum é um partilhar de reflexões sobre a passionalidade e a impulsividade das relações humanas, além de, claro, sobre o amor”, define Navas. “Quando eu digo amor, não digo só o amor de uma pessoa pela outra, mas sim do amor enquanto mote de evolução individual, algo de fora pra dentro, e isso envolve o desapego. Preocupa-me muito quando, numa relação, o outro é a solução para todos os problemas de alguém. É muita responsabilidade!”


Aí, vale tratar de paixão, perda, crimes de amor. “Este álbum se linka diretamente ao CD Tecido, que lancei em 2010, após um rompimento afetivo. Vinha de um trabalho retrospectivo, o DVD Ensaio (2013), que registra minha participação no programa televisivo criado por Fernando Faro (TV Cultura), e também de dois projetos voltados à memória musical; Nazareth revisitado, que idealizei e produzi para o pianista João Carlos Assis Brasil e do qual participo, ao lado de Alaíde Costa, e Junte tudo que é seu..., com canções de Custódio Mesquita em voz e piano”, esclarece.
Inicialmente, era hora de se voltar para o público infantil, que já tinha fita demo pronta, “mas o Universo me sinalizou diferente”, conta ele.

“Primeiramente, decidi o conceito sonoro do álbum: acústico, todo calcado em timbres de violões e contrabaixos. Quis valorizar cada sílaba das letras e preencher todos os espaços dos arranjos. É um projeto dedicado ao ‘menos e mais’, sentimento que tem norteado meus trabalhos mais recentes.”

Formando pontes atemporais, Navas recebeu do amigo Cláudio Nucci O espantalho, com letra de Paulo Tapajós. Do também cantor Filó Machado veio Esse nosso amor, parceria com Pedro Márcio Agi, com os violões do autor e de seu neto, Felipe Machado, de apenas 12 anos, e a voz de Filó. E a seleção inclui figuras conhecidas da MPB alternativa, como Alzira E (Quanto tempo o tempo tem, com Anelis Assumpção e Jerry Espíndola, e Palavras de vento, com versos do poeta português Tiago Torres da Silva), Lucina (Transeunte marginal, com versos da poeta curitibana Etel Frota). De Tunai, que já foi chamado de compositor das estrelas, Nadando no seco, com letra de Sérgio Natureza e história curiosa: “Sérgio Natureza me contou que Elis Regina ficou em dúvida entre ela e As aparências enganam, optando pela segunda”, situa Navas.


E tem as faixas quase inéditas, que circularam sem maior destaque por palcos e estúdios: Óbvio, de Fátima Guedes, com direito à  participação de Jane Duboc; Amor irracional, balada pop de Rodrigo Leão, já gravada por Tutti Baê; Avesso, do baiano Marco Vilane. Mais conhecida, Retirantes, de Dorival Caymmi e Jorge Amado, foi tema de abertura da novela Escrava Isaura, que o cantor havia gravado num projeto de disco dedicado a Caymmi, que acabou abortado.


Remexendo o próprio baú vem uma das preferidas do público em seus shows, Ícaro (Fred Martins/ Marcelo Diniz), saída do terceiro CD, Tanto silêncio (2003), fora de catálogo, com áudio tirado do DVD do programa Ensaio. O ciclo se fecha com mais um representante da vanguarda paulista, Itamar Assumpção, Isso não vai ficar assim, num surpreendente dueto com a veterana da disco music brasileira Lady Zu, que fez parte do disco Tecido, aqui num remix para as pistas feito pelo DJ espanhol Quique.

Mais dramático e solene que a maior parte dos colegas de geração, Carlos Navas trabalha num nicho de mercado dos que gostam de tratar a música com reverência e sem ganas de inovação. No fim das contas, seus discos soam sem tempo certo, sem compromisso com novas posturas e novidades tecnológicas. E aí residem seus maiores méritos e riscos.

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