Fernanda Takai lança álbum 'Na medida do impossível', em que destaca seu trabalho como compositora

Disco tem participações de Samuel Rosa, padre Fábio de Melo e Zélia Duncan

por Eduardo Tristão Girão 19/03/2014 06:00

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Bruno Senna/Divulgação
(foto: Bruno Senna/Divulgação)
Se você é um dos 23 mil seguidores de Fernanda Takai no Instagram ou se leu as crônicas que publicou entre 2005 e 2011 no Estado de Minas, deve se lembrar de sua filha Nina, hoje com 10 anos, personagem constante em suas fotos e textos. Pois foi essa menina uma das responsáveis por estimular a cantora a apostar em seu lado compositora – antes restrito ao Pato Fu – ao gravar o quarto álbum solo, 'Na medida do impossível' (Deck/Natura Musical), lançado esta semana. A artista voltou a escrever música com maior frequência, dependeu menos do marido para fazer letras (John Ulhoa, colega no Pato Fu, ficou a cargo da esmerada produção e dos arranjos) e assumiu riscos ao lidar com agendas de outros artistas concorridos.

“Quis eliminar essa coisa de não gravar músicas minhas fora do Pato Fu. Comecei a quebrar isso no meu disco solo 'Luz negra', no qual gravei a canção '5 discos'. Pensava que poderia esvaziar o repertório da banda, mas fiquei pensando que seria interessante me conhecerem mais de perto e passou a me incomodar o fato de eu ficar conhecida só como intérprete. A Nina ficava me perguntando se essa ou aquela música era minha e eu dizia: ‘Não, filha, essa é de outra pessoa’”, conta a cantora.

Para resolver esse “dilema ético”, Fernanda resolveu chamar outros músicos para o disco e não escrever canções com John. “Isso me deu alento. As pessoas vão enxergar qual é minha parte no Pato Fu como intérprete e compositora, será uma espécie de filtro”, observa. Ela afirma que o período em que atuou como cronista semanal no jornal ajudou a mostrar que ela era capaz de escrever sobre assuntos muito pessoais e com frequência. “Antes, fazia harmonia e melodia e as palavras ficavam mais com o John, a partir de um rascunho de letra ou um tema. Estou mais à vontade para escrever”, diz.

Foi assim com 'Doce companhia', versão em português feita por ela mesma para a canção original da cantora norte-americana Julieta Venegas ('Dulce compañia'), que a brasileira conheceu ano passado e recebeu em sua casa para jantar. A faixa abre o repertório do disco, formado por miscelânea pop e bem-amarrada de parcerias (Pitty, Marcelo Bonfá, Charles di Pinto), estilos (new wave, brega, música católica, rock britânico), convidados (padre Fábio de Melo, Samuel Rosa e Zélia Duncan) e algumas releituras (como a da surpreendente 'Amar como Jesus amou', de Padre Zezinho).

Videogame “Deu trabalho definir a ordem dessas músicas. Escrevo o nome delas num papel, recorto e fico montando uma seguida da outra, para ver se o final de uma fica bem ao ser encaixado com o início da outra. Como se fosse um quebra-cabeça ou capítulos de um livro de contos”, lembra Fernanda. Também deu trabalho conseguir liberações de músicas de terceiros (como 'Pra curar essa dor', versão de John para 'Heal the pain', de George Michael) e, principalmente, alinhavar as participações especiais de Samuel Rosa (Skank), Zélia Duncan e padre Fábio de Melo. Isso para não falar da banda base, que conta com PJ (baixista do Jota Quest) e Glauco (baterista no Tianastácia), além do marido (violão, guitarra e vários instrumentos).


Sem dúvida, o convidado que primeiro chama a atenção é padre Fábio, que interpreta com a artista uma das canções mais conhecidas do cancioneiro católico, 'Amar como Jesus amou'. Fernanda estudou quase sempre em escolas católicas e, aos 8 anos, levava o violão para as aulas de religião para tocar essa e outras músicas. “Quem tocava algum instrumento levava para a sala, era leve, um jeito diferente de encarar a religião”, avalia. Quando conheceu Fábio, percebeu que pensavam do mesmo jeito em relação ao tema.


“Gosto do tom de voz dele e de como conversa com as pessoas. Não como padre, mas como um irmão mais velho. Um tom de humanidade como o papa tem trazido não só para os católicos, mas para o mundo. Padre Fábio representa isso no Brasil, essa igreja moderna, mas próxima da humanidade”, afirma Fernanda. O religioso aceitou o convite para gravar sem ter ouvido o arranjo, elaborado pelo japonês Toshiyuki Yasuda, com sons que parecem ter sido extraídos de videogame. “Depois de ouvir a canção finalizada, ele disse que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito pela música”, orgulha-se.

Sem chacota Já 'Mon amour, meu bem, ma femme' (Cleide), sucesso na voz do ídolo brega Reginaldo Rossi, é outra surpresa do disco. Zélia Duncan e Fernanda já haviam cantando juntas essa música em 2011 e para o registro atual foi providenciada uma releitura com gosto caribenho. “Agora, ela está com um arranjo fino, classe A. Muita gente acha que essa música é algo menor, mas não vejo assim. Depende do jeito que você a apresenta para o público. Não quis fazer chacota e isso não quer dizer que quis deixá-la melhor”, diz. O Pato Fu, lembra, também já gravou música brega: 'Uma lágrima' (Odair José).

'Pra curar essa dor', ótima versão em português feita por John para 'Heal the pain', hit de George Michael, encerra a seção de participações. A faixa, que certamente vai tocar muito no rádio, teve Samuel Rosa a dividir os microfones com Fernanda. Completam o repertório faixas como a ótima 'De um jeito ou de outro' (letra dela e música de Marcelo Bonfá, no momento oitentista do disco), 'Como dizia o mestre' (de Benito di Paula; “dá para fazer um disco em tributo a ele, como fiz com a Nara Leão”) e 'You and me and the bright blue sky' (com Charles Di Pinto), que remete imediatamente ao pop inglês.

 

 

Depois da Copa

Por enquanto, Fernanda cuidará da divulgação do novo disco, deixando para fazer shows depois da Copa do Mundo. “Gostaria que ocorresse como foi com meu disco solo 'Onde brilhem os olhos seus'. Quando fui para a estrada, todo mundo já estava amando as músicas”, recorda. Paralelamente, o trabalho com o Pato Fu continua e a artista revela que já tem quase todas as músicas que estarão no próximo disco da banda, que será só de inéditas. “Ainda não gravamos nada, porque cada integrante está envolvido com seus projetos pessoais”, justifica. Não se sabe qual será a sonoridade do trabalho, que terá John como produtor.

 

Todas as faixas

 

» Doce companhia (Dulce compañia) – Julieta Venegas, com versão em português de Fernanda Takai
» Como dizia o mestre – Benito Di Paula
» De um jeito ou de outro – Fernanda Takai e Marcelo Bonfá
» A pobreza (Paixão proibida) – Renato Barros
» Seu tipo – Fernanda Takai e Pitty
» You and me and the bright blue sky – Fernanda Takai e Charles Di Pinto
» Mon amour, meu bem, ma femme – Cleide (com Zélia Duncan)
» Quase desatento – Fernanda Takai, Marina Lima e Climério Ferreira
» Amar como Jesus amou – Padre Zezinho (com padre Fábio de Melo)
» Liz – Robson e César de Merces
» Partida – Fernanda Takai
» Pra curar essa dor (Heal the pain) – George Michael, com versão em português de John Ulhoa (com Samuel Rosa)
» Depois que o sol brilhar – Mary

 

Ouça as faixas 'Seu tipo' e 'Pra curar essa dor', com Samuel Rosa: 




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